Cinco perguntas para vereadora Telma de Souza (PT)

Pedagoga, professora e advogada, Telma de Souza é uma política experiente, respeitada e admirada até por adversários. Foi considerada a melhor prefeita de Santos com conquistas significativas como as Policlínicas e o combate à AIDS. Ela tem atuação nacional na defesa dos direitos humanos e da saúde pública de qualidade. Vereadora mais votada da cidade, a ex-prefeita conversou com a equipe do Portal Costa Norte. A seguir, a entrevista:

Portal Costa Norte - A primeira questão que vamos abordar é sobre o seu trabalho na Câmara, correto? Temos o projeto de lei complementar que você apresentou no Legislativo santista, e esse projeto, identificado como número 32, foi rejeitado pela Comissão de Orçamento e Finanças da Câmara por violar algum artigo da lei, especialmente em relação à licença maternidade para funcionários públicos. Gostaríamos de saber a sua posição sobre este assunto.

Telma de Souza - Bom, eu quero abordar um assunto extremamente interessante: a importância da maternidade e da paternidade que devem coexistir, não é mesmo? Com esse projeto, estamos ampliando o prazo para o afastamento dos servidores nesses casos e, além disso, estamos destacando a importância da figura paterna. Não se trata apenas da maternidade, pois ser pai ou mãe não é uma carreira única, concorda? Além disso, o projeto também abrange a adoção, reconhecendo que essa experiência é análoga à de ser pai ou mãe biológicos. Ao propor a aprovação desse projeto, estamos buscando derrubar pareceres contrários para promover a discussão sobre esse tema. Será necessário aperfeiçoar e, em seguida, votar, cabendo ao prefeito a decisão de sancionar ou vetar o projeto. Acredito que a aprovação desse projeto será uma grande contribuição, pois aborda algo sagrado na vida das pessoas, que é a paternidade e a maternidade. O pai desempenha um papel fundamental ao lado da mãe nessa maravilhosa jornada de ser pai e mãe. Essa é a proposta do projeto.

Portal Costa Norte - Apesar de ter sido a vereadora mais votada nas últimas eleições, a oposição é minoritária na Câmara de Santos porque composta por apenas três vereadores incluindo você. Enquanto isso, a base governista é muito maior. Como a oposição lida com esse desafio de enfrentar uma base tão ampla?

Telma de Souza - Olha, acredito que existem situações em que os vereadores desempenham papéis distintos, embora haja um senso comum sobre o papel do vereador. Como a única entre os vinte e um vereadores que já foi prefeita, não posso ter um comportamento vulgar ou grosseiro. É preciso saber como fazer oposição e, na medida do possível, apresentar propostas construtivas. Ou seja, ao discutir com o prefeito, não é apenas criticar, mas também sugerir alternativas. Ele pode aceitar ou não. Vejo muitas vezes que pessoas da base do prefeito, por diferentes motivos, evitam entrar nesse debate. Muitas vezes, pessoas da base do prefeito, o prefeito Rogério Santos, acabam desempenhando um papel até mesmo grosseiro; de qualquer forma, estamos lá. Qual é a minha conduta pessoal? Eu sigo algo que considero simples: apoio aquilo que acredito ser correto, independentemente de estar na oposição. Como não apoiar medidas de combate à violência doméstica, mais escolas para as crianças, mais remédios? Essas são questões que estão acima de qualquer discordância, elas devem ser inquestionáveis. Claro, em outras situações, evidentemente, temos que nos posicionar, mas tenho uma posição diferente, seja pela faixa etária, seja pelo tempo de mandatos. Meu primeiro mandato foi em 1982. Há quanto tempo estamos aqui? Mais de quarenta anos. Fundei o PT junto com o Lula dois anos antes, em 1980. Meu papel é um pouco como uma espécie de consciência crítica, especialmente do ponto de vista feminino. Olhem, tenho essa experiência, pode ser que não seja adequada para este momento, mas e se não for assim, mas for assim? E, geralmente, sou respeitada e pelo menos os vereadores consideram a proposta que apresento. Não posso reclamar. É uma câmara bastante razoável e acredito que elevaremos ainda mais o nosso trabalho. Até porque o próximo ano é um ano de eleições novamente, não é? E agora começa uma corrida para mostrar mais trabalho, o que é natural, mas de qualquer forma estamos aqui para o que der e vier e para trabalhar pela cidade de Santos, que é para o que fomos votados e eleitos.

Portal Costa Norte - Agora que discutimos sobre base e oposição, gostaria de saber qual é a sua avaliação sobre o trabalho do prefeito Rogério Santos ao longo deste mandato de dois anos?

Telma de Souza - Então... tenho uma relação particular com o prefeito, pois fizemos pós-graduação em saúde coletiva juntos na UNISANTOS. Ele é dentista e eu sou pedagoga, mas tivemos bastante contato durante dois ou três anos, nos encontrando pelo menos duas vezes por semana. Essa relação não se confunde com a política. Aliás, estive com ele esta semana e conversamos sobre algumas situações. Ele está com uma viagem marcada para um encontro com o papa Francisco, um convite para quarenta prefeitos de diferentes partes do mundo. Enquanto conversávamos sobre assuntos da cidade, percebi que, talvez pelo fato do Rogério ser de um grupo político que está há algum tempo no poder, caminhando para doze anos, sendo oito do Paulo Alexandre e quatro dele próprio, o João Paulo Papa, embora não seja mais do MDB, tendo se filiado ao PSDB ao se tornar prefeito, está inserido no mesmo grupo político. Não sei se posso mencionar isso ou não, mas de qualquer forma, é o mesmo grupo político que tem acertos, caso contrário, não seria eleito, mas também tem erros. E acredito que estamos aqui para apontar, do nosso ponto de vista, essas questões. Claro, também podemos estar equivocados. De qualquer maneira, aqueles que conhecem o prefeito sabem que ele é uma pessoa muito boa. No entanto, enfrentar os oito anos do Paulo Alexandre não é fácil. Ele sempre foi um assessor de retaguarda desde a época do pai do Paulo. Acho que o Rogério também precisa se desenvolver nesse grupo porque embora seja uma pessoa diferente, faz parte do mesmo grupo com a mesma visão política. Isso traz facilidades, mas também dificuldades, acredito que esteja na média.

Portal Costa Norte - A cidade de Santos possui uma proporção de cinquenta e quatro por cento de mulheres em sua população, no entanto, na Câmara Municipal, dos vinte e um vereadores, apenas três são mulheres. Como você analisa essa situação não apenas em Santos, mas em todo o país?

Telma de Souza - É assim, infelizmente. Eu diria que, talvez com exceção que eu me lembre agora, posso estar enganada, a Espanha é o único país que possui uma lei determinando que os parlamentos e as estruturas administrativas públicas tenham pelo menos cinquenta por cento de presença de mulheres. Mas acredito que algumas situações não podem ser impostas apenas por leis. É necessário ter uma cultura e uma determinação. Vocês precisam ajudar em casa, fazer comida, arrumar a cama, para que possamos avançar. Eu digo, ir para o discurso das ruas e abrir a porta, com nós, mulheres, seguindo em frente. Não posso falar por mim, pois estou na vida pública desde 1982. Como mencionei, fundei o PT em 1980. Meu pai foi vereador em Santos por quatro mandatos, sendo presidente da Câmara cassado em 1964, João Inácio de Souza, o Joãozinho do instituto, e minha mãe assumiu o lugar dele e também foi vereadora. Brinco que em casa é uma monarquia, já que sou filha única. De qualquer forma, a política hoje é feita de uma maneira diferente. A entrada da internet no cenário da informação mudou completamente a dinâmica do poder e também das relações em si. Acredito que ainda estamos no processo. Para as mulheres, ainda há a questão da gravidez, da amamentação, vocês ainda não passaram por essa tarefa ou quem sabe, mas é uma ação que requer tempo e ainda é uma função que exige muito das mulheres, especialmente nos primeiros anos da criança, devido à amamentação e à gravidez, onde o corpo que gerou a criança ficou dentro do corpo da mulher. Isso cria uma relação muito diferente em relação aos homens, não é? Mas estamos conquistando espaço. Porém, não conseguiremos desempenhar bem esse papel se vocês não nos complementarem. Não acho que vocês devam nos substituir. Há questões absolutamente femininas, assim como há questões absolutamente masculinas. Mas se pudermos integrar esses papéis sociais, a sociedade irá se beneficiar, nossos filhos irão se beneficiar, e nós também estaremos enriquecidos como seres humanos.

Portal Costa Norte – Como você enxerga a transformação de Santos desde o período em que você governou a cidade, do final dos anos 1980, até agora?

Telma de Souza - Primeiro de tudo, temos a questão da retirada dos bondes, não é mesmo? É verdade. Devemos lembrar disso. Além disso, temos a chegada da internet, que eu já aceitei, e isso trouxe um outro perfil ideológico e social. Naquela época, não tínhamos a quantidade de prédios na orla da praia que se tornou um objeto de consumo para as pessoas que moram na cidade, querendo morar em frente ao mar, principalmente a classe média e média alta. A cidade tem aproximadamente 421.000 habitantes, e ela lidera um polo de nove cidades da Baixada Santista. É fácil de explicar, pois temos o Porto aqui, mas o Porto não é o mesmo de antes. Há diferenças. Não temos mais ensacadores, não há mais homens segurando sacos de sessenta quilos, entende? E não deveria ter mesmo. O estivador, para quem não sabe, é o trabalhador portuário que atua no cais em terra, enquanto o estivador é aquele que trabalha dentro do navio. Isso mesmo. Existem algumas profissões na orla do cais que não existem mais. Eu mencionei o ensacador. O estivador pode ser alguém que trabalha com força bruta, utilizando guindastes e outras estruturas físicas para a manutenção do porto e o aperfeiçoamento das operações. Recentemente, o ministro Márcio França entregou quatro armazéns para a prefeitura de Santos, através do prefeito. Esses armazéns serão transformados em uma espécie de Porto Madero. Será realmente interessante se conseguirmos viabilizar isso. Isso proporcionará uma nova realidade para os arredores da Praça. Aliás, aquela área está precisando de uma pintura e de atenção responsável. Poderíamos ter uma área semelhante ao Porto Madero e também a possibilidade de ir aos armazéns próximos e ter uma escola profissionalizante. Hoje, enquanto esperava o transporte me buscar perto de casa, meu vizinho pediu para eu falar com a secretária de educação sobre a possibilidade de abrir uma escola profissionalizante para pescadores. Ele mencionou que nossas escolas não têm essa finalidade. Sim. Mas quero falar com ela sobre a possibilidade de usar o Museu de Pesca, que pertence ao estado. É interessante, pois temos a Ilha Diana, uma comunidade de pescadores, entre outras áreas. Enfim, estou mencionando tudo isso porque estamos realizando um bom trabalho, e estou disposto a continuar contribuindo com certeza.

Portal Costa Norte - Eu vou quebrar a regra e fazer apenas mais uma pergunta. Como uma figura da vanguarda do PT, qual é a sua opinião sobre o início do terceiro mandato do presidente Lula?

Telma de Souza - Eu acredito que, nesse começo, o Lula hoje por acaso, houve uma sinopse, um resumo na Globo News exatamente, que é um pouco como o diário oficial. Sim, a Globo News. Mostrando os países que ele já visitou nesses cinco meses de mandato. Eu acho que o Lula tem essa obrigação porque nos quatro anos do governo anterior, do governo Bolsonaro, tivemos uma decadência do nome e do protagonismo do Brasil em nível mundial. E o Lula está sendo protagonista agora. Estamos conversando agora, e ele está indo para o Japão, mesmo que o programa vá ao ar depois que ele já tenha ido, para realizar uma atividade lá. Ele também já esteve nos Estados Unidos, já esteve na China, já esteve, enfim. Eu acho que ele precisa desempenhar esse papel para levar para a União Europeia e para outros países do mundo o que é o Brasil, o que nós podemos fazer. Um país que possui a maior floresta tropical do mundo não pode ficar quieto. Então, eu acho que ele está agindo corretamente. Por acaso, também esses dias, em função da cassação do Dallagnol (deputado federal), alguém fez uma paródia mostrando todas as ações que o Governo Federal tem feito nesses cinco anos. E é muito interessante porque o simples fato de equiparar o salário de homens e mulheres na mesma função é algo óbvio, mas por que isso não existe? São coisas óbvias que precisam ser feitas, além de outras atividades. Acho que eu sou muito próxima do ministro Alexandre Padilha. Ele tem uma função nas atividades institucionais, ele é o ministro desse setor, é muito interessante. E eu acho que ele está com uma visão ampla, ele é do estado de São Paulo e é deputado federal pelo estado de São Paulo, e está prestando muita atenção aqui na nossa cidade, na nossa região. Ter esse porto, onde trinta e três por cento do Produto Interno Bruto, PIB, passa por aqui e recebemos uma quantidade significativa, é importante. Essa semana também, um terminal chinês se instalou aqui no nosso porto. E a China está crescendo muito. Tudo indica que no próximo ano, sua ação econômica e comercial em todo o mundo vai aumentar ainda mais. Então, já estamos preparados para isso, já estamos nos preparando. Nada mais correto do que ter um terminal com atividades ligadas à China aqui no nosso porto. Mas de qualquer maneira, é algo que devemos cuidar a cada dia. Porque o porto é a nossa balança comercial, mas também é a nossa entrada e saída para o mundo. Ainda continua sendo o maior gerador de emprego na nossa cidade e na nossa região. E acho que Santos sempre tem um futuro muito bem delineado por causa da importância portuária, mas também por sua relevância econômica na região do estado de São Paulo, no Brasil e por que não dizer no mundo.

Assista a entrevista na íntegra: