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Vídeo de Jô Soares sobre censura nos bastidores da Globo viraliza

Durante o prêmio Troféu Imprensa, o apresentador falou como saiu da TV Globo e a censura imposta aos atores que trabalhavam com ele

Da Redação
Publicado em 04/11/2019, às 08h25 - Atualizado em 23/08/2020, às 20h42

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Reprodução
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Viralizou nas redes sociais o vídeo em que o apresentador Jô Soares, ao ganhar o Troféu Imprensa, no SBT, leu seu artigo intitulado "Agora falando sério", onde expôs a censura nos bastidores da TV Globo, já em 1987. 

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A leitura do artigo se tornou viral após a youtuber e apresentadora Antônia Fontenelle ter postado, há dois dias, o trecho com a gravação do programa. Quando terminou de ler seu artigo e recebeu o troféu das mãos de Silvio Santos, este complementou: "Faço minhas as suas palavras". Confira o texto na íntegra:

“Em 1947, os grandes produtores de Hollywood se reuniram no hotel Waldorf-Astoria, em Nova Iorque, e resolveram que artistas com tendências políticas em desacordo com seu ideário não trabalhariam mais em filmes. Surgia a lista negra e a consequente caça às bruxas. Em pouco tempo, não somente radicais ou liberais eram perseguidos; qualquer artista que desagradasse aos chefes de estúdio era listado e não conseguia mais trabalho.

Com impecável senso de oportunidade, a TV Globo escolheu exatamente o momento da Constituinte no Brasil para inaugurar sua lista negra. Quem sair da emissora sem ter sido mandado embora corre o risco de não poder mais trabalhar em comerciais, sob a ameaça de que estes não serão lá veiculados. Como a rede detém quase o monopólio do mercado, os anunciantes não ousam nem pensar em artistas que possam desagradá-la.

Neste ponto, alguém pode achar que eu [ Jô Soares ] estou falando por interesse pessoal. Garanto que não. Não falo pelo fato de os meus comerciais não poderem ser exibidos, nem pelo fato mais recente, das chamadas pagas do meu novo espetáculo no Scala 2 'O Gordo ao vivo' terem sido proibidas.

Sou um artista muito bem remunerado e meus espetáculos têm outros meios de divulgação. Graças a Deus meus shows de humor já lotavam teatros antes que eu fosse para a Globo. Que as chamadas de 'O Gordo ao vivo' não passariam na emissora eu [ Jô Soares ] já sabia desde outubro, pelo próprio Boni, que me disse em sua sala quando fui me despedir:– Já mandei tirar todos os teus comerciais do ar. Chamadas do seu novo show no Scala 2, também, esquece. Estou vendo como te proibir de usar a palavra ‘gordo’. – claro que esta última ameaça ficou meio difícil de cumprir: a megalomania ainda não é lei fora da Globo.

Logo, não é por isso que escrevo pela primeira vez sobre esse assunto. Saí da Globo, onde conservo grandes amigos, com a maior lisura, e nunca me aproveitei deste espaço, ou de nenhum espaço, em causa própria. Escrevo, isto sim, porque atores que trabalham no meu [ Jô Soares ] programa, como Eliéser Mota, como Nina de Pádua, foram vetados em comerciais. As agências foram informadas, não oficialmente, é claro – como aliás acontece em todas as listas negras – que suas participações não seriam aceitas.

É triste que, nesse momento, em que se escreve diariamente a democracia no Congresso, uma empresa que é concessão do Estado cerceie, impunemente, o trabalho do artista brasileiro, de um modo geral já tão mal remunerado. Finalmente, eu [ Jô Soares ] gostaria de dizer que Silvio Santos foi tremendamente injusto quando chamou Boni numa entrevista de 'office-boy de luxo'. Nenhum office-boy consegue guardar tanto rancor no coração”.

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