POVO YANOMAMI

Lula viaja a Roraima e se depara com situação desumana dos povos indígenas

Mais de 550 crianças morreram por contaminação de mercúrio, desnutrição, fome e falta de acesso a medicamentos do SUS; em coletiva, o presidente criticou Bolsonaro. "Se ao invés de fazer tanta motociata, tivesse vergonha e viesse aqui uma vez, quem sabe esse povo não estivesse tão abandonado"

Da redação
Publicado em 21/01/2023, às 17h05

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Mais de 550 crianças morreram por contaminação de mercúrio, desnutrição, fome e falta de acesso a medicamentos do SUS Povos indígenas Yanomami - Fotos divulgação
Mais de 550 crianças morreram por contaminação de mercúrio, desnutrição, fome e falta de acesso a medicamentos do SUS Povos indígenas Yanomami - Fotos divulgação

Após os técnicos do Ministério da Saúde encontraram oito crianças Yanomamis desnutridas o governo federal decretou, na noite de sexta (20), estado de Emergência em Saúde de Importância Nacional (Espin) no território após e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), anunciou viagem de emergência ao local.

Ao visitar ao povo Yanomami, em Roraima, neste sábado (21), Lula se deparou com situação desumana dos povos indígenas e prometeu acabar com o garimpo ilegal em terras indígenas e atendimento médico.

A situação já levou à morte 570 crianças nos últimos anos, sendo que 505 tinham menos de 1 ano. No ano de 2022, foram registrados 11.530 casos confirmados de malária na terra Yanomami.

“Se alguém me contasse que aqui em Roraima tinham pessoas sendo tratadas da forma desumana como o povo yanomami é tratado aqui, eu não acreditaria”, disse o presidente do Brasil. “Nós vamos tratar os nossos indígenas como seres humanos, responsáveis por parte daquilo que nós somos”, destacou.

Lula visitou o hospital e a Casa de Apoio à Saúde Indígena, em Boas Vista, e argumentou que as melhorias podem acontecer a partir de mudanças de comportamento.

“Uma das formas de resolver isso é montar o plantão da saúde nas aldeias, para cuidar deles lá. Fica mais fácil a gente transportar dez médicos do que 200 indígenas que estão aqui”, disse. “Nós queremos mostrar que o SUS [Sistema Único de Saúde] é capaz de fazer um trabalho que honra e orgulha o povo brasileiro como fez na [pandemia de] covid-19”, completou.

Ainda na coletiva de imprensa, o presidente criticou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

"Um presidente que deixou a Presidência esses dias, Se ao invés de fazer tanta motociata, tivesse vergonha e viesse aqui uma vez, quem sabe esse povo não estivesse tão abandonado".

Saúde dos Yanomamis

Em razão da grave precarização das condições de vida dos povos Yanomami, também em decorrência do garimpo ilegal, a população vive uma grande crise sanitária. Além de a atividade provocar assassinatos dos indígenas, nos últimos meses também foram registradas diversas mortes por desnutrição.

A exploração do garimpo ilegal traz a incidência de doenças infecciosas. A falta de assistência em saúde também contribui para o quadro.

Na última quarta-feira (18), uma equipe do Ministério da Saúde foi enviada ao estado de Roraima para fazer um diagnóstico da situação. Em nota, a pasta informou que a expectativa é que, após o levantamento, sejam definidas “ações imediatas para superar a crise sanitária” pela qual passa a população local.

Mais 9 mil hectares abrangem a Terra Indígena dos Yanomami. E brilha aos olhos dos garimpeiros a extração de ouro e a cassiterita, usada para fazer estanho. Ainda que a legislação proíba a mineração em terras indígenas, o presidente Jair Bolsonaro sempre deixou evidente o desejo de liberar a mineração em áreas de preservação.

Em novembro de 2020, enquanto os indígenas denunciavam a invasão dos garimpeiros, Bolsonaro questionava as demarcações. “A reserva Yanomami tem mais ou menos 10 mil índios. O tamanho é duas vezes o estado do Rio de Janeiro. Justifica isso? Lá é uma das terras com o subsolo mais rico do mundo. Ninguém vai demarcar terra com subsolo pobre. Agora o que o mundo vê na Amazônia, floresta? Está de olho no que está debaixo da terra”, afirmou naquela época.

Lula estava acompanhado de três ministros: o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino; a ministra da Saúde, Nísia Trindade; e a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara.

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