Por Aline Porfírio
A ptose palpebral é uma doença que afeta as pálpebras, e faz com que elas recaiam sobre o olho. Ela pode ser congênita, ou adquirida, e ocorre geralmente após um trauma cirúrgico ou acidentes vasculares cerebrais (AVCs). As pálpebras com ptose podem obstruir e impedir o desenvolvimento do olho. O cérebro se desenvolve nos dois primeiros anos de vida, assim como o olho. Se ele for obstruído, será incapaz de captar as imagens, quando não devidamente estimulado, e a pálpebra pode ser um empecilho para o desenvolvimento. Quanto mais cedo o problema for diagnosticado, maiores são as chances de solucionar o problema. O oftalmologista Henrique Kikuta especializou-se na doença e alerta para os primeiros sinais apresentados pela criança: “A ptose palpebral unilateral (em apenas um olho) é evidente pela assimetria entre os olhos. Quando é bilateral (nos dois olhos), os pais precisam prestar atenção se a criança, quando quer ver alguma coisa, precisa inclinar a cabeça para trás. Esse é o principal indício”. O médico explica ainda que os casos mais graves são de ptose unilateral, quando uma das pálpebras cobre totalmente a visão. Dessa forma, o cérebro não recebe imagens desse olho, o que leva à ambliopia, também chamada de “olho preguiçoso”. Este é um problema sério; se não diagnosticado a tempo, causará a perda ou redução da visão em um dos olhos da criança. “Se um dos olhos tiver um problema, a criança em crescimento vai utilizar apenas o olho bom, e o outro olho não vai se desenvolver, pois o cérebro precisa suprimir a imagem deste olho para que a criança não apresente visão dupla”, diz Kikuta. A ptose congênita é um dos principais fatores que levam à ampliopia, e precisa ser corrigida por meio de uma cirurgia delicada e de alta precisão, em que os músculos que levantam a pálpebra são encurtados. Essa cirurgia precisa ser realizada assim que a criança possa colaborar com o oftalmologista no exame, geralmente aos dois anos e meio a três anos. A informação pode ser a grande aliada para sanar a doença. Segundo estudos da Agência Internacional de Prevenção à Cegueira, ligada à Organização Mundial da Saúde (OMS), cem mil crianças no Brasil possuem algum tipo de deficiência visual. Outra pesquisa constatou que cerca de 8 a 10% da população infantil apresentam problema de grau corrigível com óculos. Segundo o especialista, o agravante da situação é que muitos pais adiam a operação para quando a criança crescer, sem ter consciência da urgência da cirurgia. Até os sete anos de vida, a criança pode recuperar totalmente a visão com a intervenção cirúrgica e com a estimulação do olho afetado. Foi o que aconteceu com Pedro, hoje com oito anos. Ele nasceu com ptose congênita e fez a cirurgia ano passado. “Desde bebê, nós acompanhamos o caso dele semestralmente com um oftalmologista. Mas, foi só aos sete anos que a pálpebra realmente começou a afetar a visão, então fizemos a intervenção cirúrgica”, explica Adrianne Santos, mãe de Pedro. A cirurgia durou duas horas, e foi feita com anestesia geral. Adrianne alerta os pais para que fiquem atentos e não esperem para fazer o procedimento. “Eu me arrependo de não ter feito antes, mesmo sendo indicação médica esperar até a adolescência”. Pedro se recuperou perfeitamente da cirurgia. O período de tratamento durou em torno de três meses. O doutor Kikuta reforça que a criança já possui uma concepção da sua estética desde pequeno, embora os pais muitas vezes não observem isso. A mãe de Pedro conta que, depois da cirurgia, ele passou a adorar se olhar no espelho, e gosta mais ainda de se arrumar e escolher suas roupas. “Eu fiquei mais bonito, não foi?”, brinca o garoto. Muitas pessoas confundem a ptose palpebral com um problema estético. Mas, é uma doença, que pode afetar e até levar à perda da visão.
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