Pesquisador do Instituto Butantan afirmou que vídeo que circula nas redes sociais não é do local conhecido também como “ilha das Cobras”
Um vídeo que tem circulado pelas redes sociais, que supostamente seria da ilha da Queimada Grande, no litoral de São Paulo, repleta de cobras, ficou comprovado que é fake. As imagens em si podem até ser originais, mas não foram captadas na ilha, também conhecida como 'ilha das Cobras', localizada a 35km da costa, entre Itanhaém e Peruíbe.
Um vídeo que tem circulado pelas redes sociais, que supostamente seria da ilha da Queimada Grande, no litoral de SP, repleta de cobras, ficou comprovado que é fake.
— Portal Costa Norte (@costanortenews) April 24, 2024
As imagens em si podem até ser originais, mas não foram captadas na ilha, conhecida como ‘ilha das Cobras’. pic.twitter.com/zoloMH0aqG
O Portal Costa Norte ouviu o dr. Otavio Marques, pesquisador científico do Laboratório de Ecologia e Evolução do Instituto Butantan: “Posso afirmar que não é a ilha da Queimada Grande”, disse o pesquisador. Segundo Marques, na ilha da Queimada Grande, as jararacas-ilhoas (Bothrops insularis), que são as serpentes que vivem por lá, se encontram dentro da mata, e não nessa abundância vista no tal vídeo. “É fake, com certeza absoluta”, completou Marques.
Click aqui para seguir nosso canal no WhatsApp
Em um primeiro momento, o pesquisador não conseguiu identificar, pelas imagens, qual espécie de serpente que aparece no vídeo, nem o local exato. Mas, ao consultar um colega, ambos chegaram a um consenso que as imagens podem ter sido captadas em alguma ilha dos Grandes Lagos, nos Estados Unidos, ou em um lugar conhecido como Golem Grad, ou “ilha das Serpentes”, na Macedônia, na Europa. Apenas pelas imagens, não foi possível identificar a espécie das serpentes.
Já o biólogo Henrique Abrahão Charles, conhecido na internet como “Biólogo Henrique - O Biólogo das Cobras”, comentando o tal vídeo em seu canal no YouTube, disse que as cobras que aparecem na imagem são víboras d’água (Natrix maura), que apesar do nome ‘víbora’, não possui peçonha. Essa espécie vive em parte da Europa e no norte da África. Logo, o vídeo não pode ter sido captado na ilha da Queimada Grande.
A jararaca-ilhoa é uma espécie encontrada apenas na ilha da Queimada Grande, e elas possuem características diferentes das suas ‘irmãs’ jararacas que vivem no continente. De acordo com o Instituto Butantan, por viverem isoladas em um pequeno espaço, coberto por Mata Atlântica, as jararacas-ilhoas desenvolveram hábitos alimentares adaptados ao local, e caçam principalmente nas árvores, abocanhando as aves que migram para a ilha. Apesar de arborícolas, elas também são encontradas no chão da mata, em diferentes períodos do ano.
As jararacas-ilhoas ficaram isoladas na ilha da Queimada Grande há 11 mil anos, após a era glacial. Com o aumento das temperaturas, o nível das águas subiu e separou o território do continente, junto com um certo número de jararacas. Ao longo desse período, essas jararacas isoladas foram se adaptando e se diferenciando de suas irmãs que ficaram do outro lado do mar.
A espécie é de porte médio, menor e mais leve que a jararaca comum, e possui uma tonalidade amarela esverdeada, com poucas manchas mais verdes, espaçadas pelo corpo. Quando filhote, se alimenta de anfíbios e centopeias. Já na fase adulta, se alimenta principalmente de aves.
Esther Zancan
Formada pela Universidade Santa Cecília, Santos (SP). Possui experiência como redatora em diversas mídias e em assessoria de imprensa.