Coordenador de produção de antivenenos do Butantan explica como identificar acidentes e os cuidados que se devem ter com animais de estimação
No Brasil, quando uma pessoa é picada por uma serpente, aranha ou escorpião, ela é tratada com soros hiperimunes produzidos pelo Instituto Butantan há mais de um século. Mas, o que fazer se o bichinho de estimação sofrer um envenenamento causado por animal peçonhento? Como reconhecer esse tipo de acidente?
De acordo com o veterinário Thiago Chiariello, coordenador de produção de venenos e antivenenos no Biotério de Artrópodes do Instituto Butantan, os tutores precisam ficar atentos aos sinais e sintomas apresentados pelo pet. “Ao notar algo errado, a primeira coisa a se fazer é sempre procurar atendimento veterinário, e não tentar tratamentos caseiros, pois podem acabar piorando o quadro”.
O tipo de acidente mais comum com os animais domésticos é com serpentes. Por serem mais robustas e terem presas grandes, elas conseguem ultrapassar os pelos e penetrar a pele com mais facilidade do que aranhas e escorpiões. Os sintomas são os mesmos apresentados pelos humanos, e o principal sinal é dor intensa e imediata. A gravidade varia de acordo com a quantidade de veneno inoculada e com o tamanho do pet – os de pequeno porte tendem a apresentar quadros mais severos.
Conheça os sintomas mais comuns do envenenamento por serpente:
Picada de jararaca
Picada de cascavel
Picada de coral-verdadeira
Geralmente, o tratamento é feito com medicamentos para combater os sintomas, mas existe um soro antiofídico veterinário, que neutraliza os venenos da jararaca e da cascavel. Ele é produzido somente por laboratórios privados – o Butantan não produz soros para animais. Esse antiveneno costuma ser encontrado mais frequentemente em clínicas veterinárias de zonas rurais, onde o índice de acidentes é maior, mas a sua aplicação deve ser feita apenas por profissionais habilitados.
“Nem sempre há necessidade de aplicação do soro, e não é recomendado que o tutor compre o produto e tente aplicá-lo por conta própria, pois há risco de reação, que pode levar a choque anafilático. Somente o veterinário pode avaliar a necessidade ou não do soro e administrá-lo com os devidos cuidados”, afirma Thiago.
Assim como para os acidentes humanos, existem muitas crenças populares sobre tratar envenenamentos que, além de não serem efetivas, podem piorar o estado de saúde do animal e até levá-lo à morte. Por isso, não passe nenhum produto no local da picada e não faça torniquetes (isso piora a circulação do sangue e aumenta o risco de amputação de membros afetados). Apenas lave a ferida com água e sabão e leve seu pet ao veterinário.
Vale ressaltar que os soros para humanos e para animais são distintos, com dosagens específicas, e ambos só podem ser aplicados em unidades de saúde com equipe qualificada e preparada para tratar possíveis reações adversas. Os soros produzidos no Butantan, destinados unicamente a uso humano, são distribuídos no país pelo Sistema Único de Saúde (SUS), em hospitais de referência.
Mais raramente, os pets também podem sofrer acidentes com aranhas (como armadeira e aranha-marrom) ou escorpiões. Para picadas de aracnídeos, não existe soro veterinário disponível – o tratamento é feito com base nos sintomas, sendo os principais dor severa e persistente, inchaço e vermelhidão, no caso da armadeira e do escorpião. É possível notar o animal demonstrando desconforto ou mancando, se a ferida for em algum dos membros. Em alguns casos, podem ocorrer manifestações sistêmicas:
Já os acidentes com aranha-marrom não costumam ter dor associada. Conheça os sinais característicos:
Segundo Thiago, algumas ações do dia a dia podem ajudar a evitar o aparecimento de aranhas, escorpiões e cobras nos quintais e nas residências. Em áreas endêmicas, onde a incidência desses animais é reconhecida, o cuidado deve ser redobrado. Confira o que fazer:
Com informações de governo de SP