SERPENTE EM BRASÍLIA

Píton asiática solta em Brasília pode causar desastre ambiental, alerta biólogo das cobras

Cobra exótica da Ásia foi solta pela Polícia Militar Ambiental em vegetação de Brasília, após ser confundida com jibóia. Para especialista em cobras, animal na natureza representa grave risco ambiental de longo prazo

Da redação
Publicado em 08/04/2022, às 13h40 - Atualizado às 17h13

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Momento da soltura da píton em Brasília, nesta quarta (6) Píton asiática solta em Brasília pode causar desastre ambiental, alerta biólogo das cobras Cobra píton sendo solta - Imagem: Divulgação / Polícia Militar Ambiental de Brasília
Momento da soltura da píton em Brasília, nesta quarta (6) Píton asiática solta em Brasília pode causar desastre ambiental, alerta biólogo das cobras Cobra píton sendo solta - Imagem: Divulgação / Polícia Militar Ambiental de Brasília

A píton birmanesa solta por engano há dois dias pela Polícia Militar Ambiental na vegetação de Brasília pode provocar graves desequilíbrios ambientais, alertou o biólogo e divulgador científico Henrique Charles Abrahão.

“O perigo é que essa cobra tem um potencial invasor gigantesco, causa desastre ambiental lá nos Estados Unidos, e pode causar aqui também”, disse Charles Abrahão ao Portal Costa Norte nesta sexta-feira (8).

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Na noite de quarta (7), a Polícia Militar Ambiental de Brasília resgatou a píton nas imediações do Balão do Periquito, no Gama. Ao que parece, imaginando que se tratava de uma jibóia, as equipes soltaram  a serpente, como manda o protocolo em caso de espécies endêmicas de nossa fauna.

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Em comunicado, a Polícia Ambiental de Brasília afirmou que o animal era dócil - comportamento comum em animais de cativeiro – e está a procura da cobra.

“Muito provavelmente [a píton] é ilegal. Ela deve ter fugido de algum cativeiro, a polícia foi chamada, o dono não apareceu por motivos óbvios, e a polícia identificou equivocadamente, porque não tem um biólogo especialista, e soltou”, opinou Charles Abrahão, que é especialista em herpetologia (anfíbios e répteis).

O caso veio a público ontem, após o próprio biólogo fazer uma alerta sobre a gravidade da soltura em seu canal de divulgação científica, o Biólogo Henrique, Biólogo das Cobras, um dos maiores relacionados a serpentes no Youtube. Em cerca de 9 minutos de vídeo (assista acima), o especialista em cobras explica porque a soltura da serpente é um episódio grave que pode ter consequências drásticas em algumas décadas.

Segundo ele, a píton birmanesa é inexistente em nossa fauna, portanto sem predador natural. A cobra, diz, é altamente adaptável e multiplicável, com potencial de destruição da fauna, como vem ocorrendo nos Everglades, na Flórida (EUA), onde a serpente se espalhou e ameaça outras espécies de extinção.

“Não é uma jiboia, é uma píton perigosíssima. Perigoso demais que esse animal esteja na natureza [do Brasil]. Ela fica maior que uma jiboia, já teve casos registrados desta serpente chegar a mais de cinco metros. Ela simplesmente devora tudo quanto é animal, tudo quanto é ave, tudo quanto é mamífero, é uma serpente muito bem adaptada”, explica o biólogo.

O herpetologista também alerta para uma característica reprodutiva da cobra que pode facilitar sua disseminação.

“Essa cobra faz partenogênese. O que é isso? Ela não precisa do macho para se reproduzir. Já foi comprovado, várias serpentes, inclusive esta, podem colocar ovos sem a necessidade de um macho, e isso espalhar para natureza. Essa serpente coloca até 100 ovos. Lá nos Estados Unidos eles não vão conseguir se livrar dessa serpente.”, explica, em tom de preocupação, o biólogo.

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Segundo o especialista, a ausência de biólogos nas equipes de órgãos comumente acionados para lidar com animais silvestres facilita equívocos como o da píton.

“Apesar da boa vontade tanto do batalhão (ambiental) quanto dos bombeiros, que arriscam suas vidas para nos proteger, o fato é que milhares de animais aparecem na mão deles todos os dias e eles não sabem muito bem o que fazer, porque não é obrigatório que você tenha um biólogo como policial ou como bombeiro”, análisa o biólogo que pede providências.

“Estou absolutamente nervoso com a soltura desse animal na natureza”, confessa o especialista. ”Ele não pode estar na natureza. Então peço encarecidamente uma força-tarefa para achar esse animal e retirá-lo da natureza antes que seja tarde. Porque ela vai demorar a se desenvolver caso ela se reproduza, mas ela pode fazer isso. É uma possibilidade. Em 10, 20 anos, a gente pode estar com um problema ambiental gravíssimo, dessa serpente se espalhando pelo Brasil”.

O Portal Costa Norte contatou a Secretaria de Meio Ambiente de Brasília e o Ibama e aguarda posicionamento sobre o caso.

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