Piolho-de-cobra: muitas pernas e utilidades

Piolhos-de-cobra ou gongolos fazem parte de um extenso grupo com até 12 mil espécies descritas e uma estimativa de até 80 mil espécies existentes no mundo todo, ocupando possivelmente o terceiro lugar em número no grupo dos artrópodes (animais com patas articuladas e esqueleto externo). De acordo com pesquisadores, representantes do grupos dos diplópodes ou em inglês millipede (“mil pernas”) podem ser detritívoros sendo saprofágicos (consumidores de restos de animais) ou consumidores de plantas mortas.

O nome diplópode está relacionado às patas dos animais. O prefixo “di” refere-se ao número dois, já a palavra “pode” é relacionada aos “pés”. Assim, os animais diplópodes possuem um par de patas por segmento do corpo. Um dos representantes mais conhecidos popularmente é o piolho-de-cobra, que possui nomes diferentes dependendo da região em que vivem. Sendo também conhecido por gongolo, embuá entre outros.

O que é piolho-de-cobra?

O piolho-de-cobra existe em quase todos os lugares do planeta, com exceção dos Polos (Norte e Sul). São animais decompositores, importantíssimos para as cadeias e teias alimentares por realizarem a ciclagem dos nutrientes. É possível encontrá-los na serapilheira se alimentando da matéria orgânica que já está em estado de decomposição.

Ao contrário do que muitos pensam, o animal não nasce uma miniatura do adulto, ele consegue um segmento do corpo conforme cresce e nasce quase sem cor. Quando juvenil pode facilmente ser confundido com uma larva de besouro ou outro animal com várias patas. Com relação aos hábitos, algumas espécies são mais ativas durante a noite e outras possuem atividade pela manhã. Porém, o que as espécies têm em comum é fugir do excesso de calor e falta de umidade, como muitos outros artrópodes.

Gongocompostagem

O minhocário presente na compostagem que ajuda não só a compostar o alimento como aumentar o número de minhocas em seu jardim e no solo também pode ser feito com piolho-de-cobra, dessa vez usando seu outro nome popular, o gongolo (como é mais conhecido no Rio de Janeiro). O animal vem sendo estudado por cientistas no mundo todo e parece ser um ótimo auxiliar na agricultura, fertilizando o solo e auxiliando na decomposição.

O que acontece se for mordido por piolho de cobra?

Apesar de ser conhecido por muitos como assustador ou asqueroso, o piolho-de-cobra não morde ou pica. Como dito anteriormente, o animal se alimenta de matéria em decomposição e não oferece risco à saúde. Porém, caso se encontre em situação de perigo ou estresse, o gongolo libera um líquido que pode exalar cheiro desagradável e manchar a pele. Dependendo da espécie, caso entre em contato com a pele humana, pode ocorrer processo alérgico ou irritação do local, sendo recomendado o atendimento médico.

Qual o perigo do piolho-de-cobra?

Os piolhos-de-cobra são atraídos por locais úmidos e escuros. Os interiores da casa, locais com muitas folhas secas, o interior de sapatos e entulhos podem ser locais propícios para servir de esconderijo para o animal. Por isso, muitas pessoas acreditam que este animal pode oferecer risco e atacar, sendo descritos diversos machucados causados pelos representantes do grupo. Porém, o animal não libera a toxina em grande quantidade sem que se sinta ameaçado.

Como evitar piolho-de-cobra em casa?

Para evitar o contato com piolhos-de-cobra dentro das casas recomenda-se manter o local limpo e arejado, não deixar roupas e materiais no chão, checar os sapatos antes de calça-los e sempre verificar se existem locais com folhas secas ou materiais em decomposição principalmente próximos a animais domésticos e crianças.

É verdade que onde tem piolho-de-cobra tem cobra?

Cobras e piolhos-de-cobra podem viver no mesmo local, a serrapilheira. Porém, não existem indícios que comprovem que a presença de um destes animais atrai o outro.

Como diferenciar piolho-de-cobra, centopeia e lacraia?

Piolho-de-cobra, centopeia e lacraia apesar de semelhantes são animais diferentes. Lacraias ou centopéias possuem o corpo mais arredondado e apresentam inoculadores de veneno. Além disso, lacraias são predadoras, enquanto os piolhos-de-cobra são, na maioria das espécies, detritívoros e/ou herbívoros.

A grande diversidade de animais desta espécie pode indicar que são necessários muitos estudos, principalmente no Brasil para que possamos descobrir novos indivíduos e contribuir ainda mais para o avanço nas questões relacionadas à reciclagem da matéria orgânica e compostagem. Que possamos respeitar e nos aprofundar ainda mais em conhecer esse importante animal.

* Por Camila Issagawa, bióloga especializada em biologia marinha e gerenciamento costeiro pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e colaboradora do Portal Costa Norte.

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