Docilidade do animal silvestre levanta a suspeita de que ele foi domesticado, como um cão ou gato, e depois solto na natureza
Mayumi Kitamura
Publicado em 16/01/2024, às 10h11 - Atualizado às 11h58
Quem já visitou a cachoeira do Parque Ecológico da Jureia, em Peruíbe, pode ter se deparado com o simpático César, como foi apelidado um bugio ruivo (Alouatta guariba) que, sem medo da interação, se aproxima e até tira sonecas muito próximo da agitação humana. Registros do animal em vídeo refletem o desconhecimento dos riscos que essa proximidade representa tanto para nós, quanto para o próprio espécime.
O gerente de conservação da biodiversidade da Fundação Florestal, Edson Montilla, explica que o bugio está fora da área da unidade de conservação gerida pela entidade, mas que a equipe está em busca de sua reintegração, corretamente, à natureza. Isso porque o comportamento de César não é normal para um animal selvagem, e indica que ele foi domesticado, como um cão ou gato, e depois solto na mata.
“O melhor cenário seria levar este animal para um centro onde ele pudesse, em contato com uma fêmea que tenha vindo da natureza, aprender a viver livre para, posteriormente, realizar a soltura em área de ocorrência natural”, comentou Montilla, que trabalhou por uma década com a espécie. Para isso, o gerente contou que tem articulado com equipes municipais e outras instituições de resgate.
Macaco bugio encanta turistas no litoral de SP e preocupa especialistas pic.twitter.com/9K96D98dhl
— Portal Costa Norte (@costanortenews) January 16, 2024
Um estudo coordenado pelo ICMBio, e atualizado em 2022, indica que as ameaças para a espécie são a redução e fragmentação de seu habitat, caça e epizootias (doenças que matam vários animais da mesma espécie, de uma vez). Neste caso, destaca-se a febre amarela que, diferentemente do preconceito que a cerca, a transmissão ocorre somente pelo mosquito infectado. O bugio ruivo não transmite a doença, mas é extremamente suscetível a ela, por isso, quando incide em uma área, mata vários indivíduos.
“Eles são extremamente sensíveis à febre amarela, covid, resfriados e gripes. A proximidade e possibilidade de transmitirmos um vírus para esses animais é muito grande”, explicou Montilla. Ele reforça que, independentemente do bugio parecer dócil, é um animal silvestre, por isso, é recomendada a distância para evitar acidentes ou, até mesmo, ataques. Edson comentou que, ao se sentirem incomodados ou coagidos, os primatas podem atacar e acabar mordendo uma pessoa. “Mantenha distância e não interaja”, salientou.
Para admirar o bugio na natureza, em uma trilha em unidade de conservação ou parque, a distância recomendada é de 10 metros. “Para a fauna selvagem, é preciso manter silêncio e é possível fazer algumas fotos nesta distância. Isso é permitido, mas nunca deve interagir, nem oferecer alimento, mesmo que sejam frutas - isso nunca deve ser feito em relação à fauna, especialmente o primata”, apontou.
“É um animal que desempenha um papel ecológico importante na floresta, seja pela dispersão de sementes, seja pela manutenção da floresta como um todo, se alimentando de folhas e frutos. É um animal importante do ecossistema e está diretamente relacionado à Mata Atlântica, então, é uma espécie extremamente importante para a natureza”, finalizou.
Mayumi Kitamura
Jornalista formada na Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp - Guarujá), atua na área da comunicação há mais de 20 anos. Também possui formação técnica em Processamento de Dados e, atualmente, é estudante de Engenharia de Software pela Universidade Estácio.