Da adoração no Egito Antigo à perseguição durante a Inquisição da Igreja Católica; entenda a história dos gatos pretos e seu significado ao redor do mundo
Amanda Oliver
Publicado em 17/08/2022, às 10h29 - Atualizado em 27/10/2022, às 09h01
Gatos pretos, animais inocentes que não optaram por nascer com uma cor de pelagem cercada por histórias, lendas e superstições. Em pleno século XXI, boatos e preconceitos permanecem intactos desde sua criação, na época da Inquisição.
Mas antes, vamos viajar pela história!
Os gatos pretos nem sempre foram cercados de tanto rancor por parte da civilização. No antigo Egito, os gatos eram considerados divindades, animais sagrados e prestigiados. Tamanha era a adoração ao animal, que uma das deusas egípcias mais adoradas, Bastet, era representada com corpo humano e cabeça de gato.
Bastet começou a ser cultuada por volta de 3000 a.C. e era a deusa da fertilidade, da reprodução, da música, da dança e do amor. Mas o real motivo da adoração aos gatos foram seus serviços contra uma das maiores pragas que a civilização enfrentava: a infestação de ratos.
Tamanho era o carinho pelos animais, que quando um gato da família falecia, os egípcios costumavam raspar as sobrancelhas em forma de luto. Alguns dos bichanos eram mumificados, de acordo com achados de arqueólogos no século XIX, em Tall Bastah, cidade no delta do rio Nilo.
Um milênio depois, mais especificamente em 2000 a.C, chegamos à Grécia Antiga, onde o contexto muda drasticamente e a primeira superstição referente ao gato preto surge.
Uma lenda declarava que Zeus engravidou Alcmena, uma princesa da época (e mãe de Hércules). A deusa Hera, esposa de Zeus e deusa da maternidade, ficou com raiva e tentou evitar o nascimento de Hércules, mas um contratempo salvou a vida da princesa grávida.
Uma criada de Alcmena interferiu nos planos de Hera para salvar a vida da mãe e da criança e, como punição, a deusa transformou-a em um gato preto, que foi obrigado a servir Hera até a morte.
Mas a verdadeira vilanização, perseguição e matança de gatos pretos iniciaram-se em intermédios da Baixa Idade Média, nos séculos XI ao XV, durante a Inquisição, um tribunal que ditava e julgava hereges, ou seja, pessoas não adeptas ao cristianismo.
Criada pela Igreja Católica, a Inquisição ganhou força inicialmente na Alemanha, França, Itália, Espanha e Portugal. Estima-se que o número de mortos decorrentes dos ‘julgamentos’ da Igreja Católica variam de 100 mil a milhões de vidas tiradas, apenas por não seguir o cristianismo.
O chamado Tribunal da Santa Inquisição perseguiu os gatos pretos por centenas de anos, apenas por possuírem a cor preta e estarem relacionados às ‘trevas’. Os católicos da época acreditavam que o animal possuía pacto com o Diabo, ou que era a própria encarnação do mesmo.
Durante o século XIII, foi criada uma lei que determinava condenação à fogueira caso a pessoa acolhesse um gato preto em casa.
Em 1560, surgiu outra lenda referente aos animais, que conta a história de uma senhora que acolheu um gato preto ferido e, ao acordar no dia seguinte, ela estava igualmente ferida. As pessoas na época acreditaram que, na verdade, a senhora era uma bruxa que se tornava gato à noite.
Porém, na época em que os gatos eram mortos, houve uma infestação de ratos, que trouxe mortes e tragédias aos humanos.
Após o fim da Inquisição, a superstição referente a diversos fatores ao qual condenavam perdurou por séculos, segregando mulheres, médicos, animais da cor preta entre outros absurdos.
Até na contemporaneidade, na Alemanha, acredita-se que se um gato preto subir na cama de alguém doente, essa pessoa falecerá em breve.
Já no Brasil, muitos ainda se prendem ao achismo arcaico que define os gatos pretos como ‘mensageiros do mau presságio’. Casos de maus-tratos, tortura e matança ainda são vistos no cotidiano de diversos povos do mundo.
Como uma batalha contra a perseguição injusta aos gatos pretos, o dia 17 de agosto foi determinado com o Dia do Gato Preto, para celebrar e quebrar tabus.
Além do Dia do Gato Preto, há também o Dia do Gato, criado por uma instituição italiana com a intento de promover uma campanha contra os maus-tratos contra os felinos no mundo todo, determinando a data de 17 de fevereiro como o Dia do Gato.
Já o Dia Mundial dos Animais é comemorado em 4 de outubro, data escolhida a pedido do escritor e ativista da vida animal, o alemão Heinrich Zimmermann.
Mas tem necessidade ‘disso tudo’? Sim! Maus-tratos contra animais é o 5º crime mais cometido no Brasil.
Somente no Estado de São Paulo, segundo dados da Delegacia Eletrônica de Proteção Animal (Depa), da Secretaria de Segurança Pública (SSP). há 25 registros por dia do crime de tortura contra animais.
Somente no Brasil, estima-se que há 30 milhões de animais abandonados nas ruas; destes, 10 milhões são gatos.
Em 2021, houve uma mudança (para melhor) na lei de maus-tratos contra animais. O Projeto de Lei 32/2020, de autoria dos deputados Delegado Bruno Lima (PSL) e Vinicius Camarinha (PSB), definiu um aumento das penalidades dos autores do crime, que se enquadra na da Lei 11.977/2005.
A denúncia de maus-tratos também é legitimada pelo Art. 32, da Lei Federal nº. 9.605, de 12.02.1998 (Lei de Crimes Ambientais) e pela Constituição Federal Brasileira, de 05 de outubro de 1988
“Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
§ 1º. Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos.
§ 2º. “A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal.”
Em casos de denúncias de maus-tratos, as forças policiais acionadas devem agir em proteção à vida em questão.
Cumpre à autoridade policial receber a denúncia e fazer o boletim de ocorrência. O policial que se negar a agir estará cometendo crime de prevaricação (retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal - art. 319 do Código Penal). Caso isso aconteça, há como queixar-se ao Ministério Público ou à Corregedoria da Polícia Civil.
Protetores de animais recomendam que ao ir até a delegacia denunciar um caso de maus-tratos, é sábio levar por escrito o art.32 da Lei de Crimes Ambientais (Lei Federal n.º 9.605 de 1998), caso a equipe de plantão não tenha ciência da lei em questão.
Polícia Militar:190
Disque Denúncia:181
IBAMA (no caso de animais silvestres) - Linha Verde: 0800 61 8080
www.ibama.gov.br/denuncias
Ministério Público Federal: http://www.mpf.mp.br/servicos/sac
Safer Net (crimes de crueldade ou apologia aos maus-tratos na internet): www.safernet.org.br
Disque Denúncia Animal (São Paulo e Grande São Paulo) – 0800 600 6428
Web Denúncia – www.webdenuncia.org.br
Delegacia Eletrônica de Proteção Animal (Depa) – http://www.ssp.sp.gov.br/depa
Polícia Ambiental: http://denuncia.sigam.sp.gov.br/
Por e-mail: [email protected]
O mundo dos animais pretos (não só os gatos) também é mais difícil. Organizações Não Governamentais voltadas para o auxílio e resgate de animais de rua declaram que a adoção de animais da cor preta é muito mais difícil, sempre acumulando e sobrando nas baias dos abrigos.
No entanto, nem só de má fama vivem os gatinhos pretos, algumas religiões acreditam que os gatos têm um papel fundamental no mundo espiritual.
Em lares com crenças esotéricas, é comum observar um gato convivendo com a família; acredita-se que estes animais possuem e transmitem paz, serenidade e vibrações positivas. Ainda há relatos de que os bichanos também livram o ambiente da má energia, como uma espécie de ‘filtro espiritual’.
Porém, a crença não para por aí! Cada cor de gato representa uma forma de ‘talismã’ para o adotante.
O gato preto, na verdade, é um mensageiro da boa sorte, sempre associado à medicina e saúde. Relatos afirmam que os gatos pretos cercam os doentes para ajudá-los na transição para a próxima vida, como um protetor e guia espiritual.
Conhecidos pela pelagem alegre e chamativa, estes animais vibram mudanças e excitação. Eles instigam os donos com estímulos de liderança e coragem para tomar novos caminhos.
Gatos brancos são relacionados à canais de contato direto com o mundo espiritual. Muitos acreditam que guias espirituais auxiliam os gatos brancos em momentos delicados da vida do tutor, como uma forma de mandar mensagens e boas vibrações.
É o animal que auxilia e cuida em momentos difíceis de transição e mudanças, fornecendo esperança para a superação de períodos turbulentos e caóticos.
É o gato que vai ajudar o tutor a manter os pés no chão. Ele fornece ajuda para manter a calma, mas também energiza de modo a puxar a mente para a realidade, esclarecendo os problemas e desejos.
Estes gatos são conhecidos como ‘frajolinhas’. São talismãs poderosos do bom astral; muitos acreditam que esses animais carregam espírito leve e despertam a criança interior das pessoas.
São animais relacionados à energia feminina. Atraem sorte, protegem o lar e trazem prosperidade para a família.
Mitos escoceses e irlandeses ressaltam que, se um gato escaminha entrar em sua casa, você terá muita sorte. Já nos Estados Unidos, estes animais representam abundância em dinheiro.
O animal transmite sorte, energia positiva e otimismo. Auxilia em momentos delicados e dá suporte emocional com vibrações de amor e paz.
De fato, todas as cores e todos os gatinhos aparentam trazer muita sorte e amor aos lares nos quais são acolhidos, mas é necessário adotá-los com consciência, pois são seres vivos que precisam de cuidados diários.
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