Achado foi incluído no World Register of Marine Species, catálogo global da fauna e flora marinhas; animal foi denominado Antholoba fabiani
Pesquisa de doutorado realizada no Programa de Pós-Graduação Interunidades em Biociências da Universidade Estadual Paulista (Unesp) identificou, em uma baía de Ubatuba, no litoral norte paulista, uma nova espécie de anêmona-do-mar, a Antholoba fabiani. A descoberta foi divulgada na revista científica Marine Biodiversity, em artigo que tem como primeiro autor Jeferson Alexis Durán Fuentes, bolsista da Fapesp.
O nome da nova espécie, Antholoba fabiani, homenageia Fabián Acuña, docente da Universidade Nacional de Mar del Plata, da Argentina. Essa foi a primeira espécie pertencente ao gênero Antholoba descrita na região, desde o século 19, quando foram descritas as espécies Antholoba achates e Antholoba perdix.
Em comunicado divulgado pela assessoria de imprensa da Unesp, o orientador de Fuentes, Sérgio Nascimento Stampar, contou que a descoberta começou a tomar forma em idas a campo em Ubatuba, um dos requisitos de uma disciplina de graduação. De volta à Faculdade de Ciências da Unesp, o material coletado foi comparado a espécimes coletados anos atrás, no litoral de Santa Catarina.
As diferenças morfológicas identificadas pelo exercício de comparação chamaram a atenção dos pesquisadores. Segundo o docente, “quando fizemos a comparação com os espécimes colhidos anos atrás, em Santa Catarina, vimos a possibilidade de o material coletado em Ubatuba não pertencer à mesma espécie. Formulamos então a hipótese de que poderia ser uma espécie nova mesmo, que estaria relacionada a um gênero pequeno, que só possui duas espécies descritas”.
Para avaliar com mais critério essa hipótese, foram conduzidas análises moleculares do material, que envolveram os pesquisadores da Universidade Nacional de Mar del Plata e da Ohio State University, dos Estados Unidos. “Os dados moleculares demonstraram que se tratava não apenas de uma espécie nova, mas também de uma nova família, nunca estudada previamente e completamente separada das demais famílias”, contou Stampar.
Os achados já foram incluídos na plataforma World Register of Marine Species, um catálogo de todos os animais e plantas marinhos do mundo. Além da bolsa de Fuentes, a pesquisa teve outros financiamentos da Fapesp (19/03552-0 e 22/16193-1).
No aspecto morfológico, a nova espécie apresenta arranjos diferentes nos mesentérios, que são membranas que sustentam a forma do animal. Esse aspecto a diferencia de outra espécie já localizada na costa do Atlântico. A Antholoba fabiani possui 199 pares de mesentérios divididos em sete ciclos, enquanto Antholoba achates e A. perdix têm 96 pares separados em cinco ciclos.
A análise molecular só aprofundou as diferenças morfológicas e confirmou o que vem ocorrendo com uma certa frequência no campo da taxonomia com o avanço da tecnologia: espécies existentes no Hemisfério Sul, que antes eram descritas basicamente por aproximação com holótipos descobertos no Norte, agora ganham uma classificação mais detalhada e adequada.
“Quando começamos a produzir e analisar os dados moleculares, vimos que, no aspecto evolutivo, os animais coletados não coincidiam com os grupos em que poderiam ser tradicionalmente classificados, que correspondem a famílias de espécies que vivem em águas profundas”, explicou o professor da Unesp. “Aparentemente, por algum motivo, algumas espécies conseguem chegar a águas um pouco mais profundas, mas de fato são espécies que podem ocorrer em água rasa.”
O artigo Antholoba fabiani sp. nov. (Actiniaria, Metridioidea, Antholobidae fam. nov.), a new species and family of sea anemone of the southwestern Atlantic, Brazil pode ser lido em: https://link.springer.com/article/10.1007/s12526-024-01433-9.