Projeto 'Restaura Litoral Norte' abrange 203 hectares, o equivalente a mais de 280 campos de futebol, ao longo da costa sul de São Sebastião
A flora de São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, principalmente, a das áreas de encostas, fortemente atingida pelas chuvas históricas de fevereiro de 2023, tem sido recuperada com a ajuda de novas tecnologias. Técnicas como a implementação de hidrossemeadura, biomantas e o uso de drones espalharam 134 milhões de sementes na região, pelo projeto Restaura Litoral Norte, do Instituto Conservação Costeira (ICC), em conjunto com o governo do estado.
O projeto abrange aproximadamente 203 hectares, o equivalente a mais de 280 campos de futebol, ao longo da costa sul de São Sebastião, com a meta de restaurar pelo menos mais 160 hectares nos próximos três anos, e promover a regeneração natural da área. De acordo com o governo de São Paulo, o investimento para estabilizar encostas e conter erosão é importante, para evitar novos acidentes com deslizamento de terras, e soma até agora R$ 908 mil investidos pela Fundação Florestal.
Com 683 milímetros de chuvas em apenas 24 horas, foram mais de 800 pontos de deslizamento em diferentes regiões de São Sebastião, durante o Carnaval de 2023. As chamadas “cicatrizes” dos deslizamentos ainda são visíveis nas encostas da Vila Sahy, a mais afetada pelos temporais, mas elas já estão bem menores.
As biomantas e biorretentores foram aplicados em 3 hectares de encostas de São Sebastião. As equipes da Fundação Florestal utilizam drones semeadores, que lançam biocápsulas biodegradáveis com sementes de espécies nativas da Mata Atlântica. Essa abordagem otimiza a germinação e alcança áreas de difícil acesso, como as encostas íngremes.
Durante o processo, mais de 2 mil voos de drones foram realizados, e lançaram cerca de 1,5 tonelada de biocápsulas em 850 áreas afetadas pelos deslizamentos, com dispersão de aproximadamente 134 milhões de sementes. O projeto, que se estendeu por mais de dez meses, agora entra em sua fase de monitoramento, essencial para avaliar a resposta da natureza e o desenvolvimento das espécies plantadas.
As espécies pioneiras, como guapuruvu, embaúba e crindiúva, foram priorizadas, pois são adaptadas ao ecossistema local e contribuem para a rápida regeneração da vegetação. Desde 2023, a dispersão de sementes tem demonstrado efetividade na recuperação da cobertura vegetal nas cicatrizes. Já foram reflorestados 203 hectares em nove campanhas de semeadura já concluídas. A expectativa é que, até 2026, 60% da área afetada pelos deslizamentos estejam recobertas por vegetação nativa. Ainda de acordo com o governo paulista, a tecnologia é inovadora, 100% brasileira e promove o reaproveitamento de recursos.
As biocápsulas foram desenvolvidas pela Ambipar, multinacional brasileira que atua na área de gestão ambiental, e utiliza sobras de colágeno, que seriam descartadas por indústrias farmacêuticas, e ecosolo, um condicionador de solo feito com resíduos orgânicos provenientes das indústrias de celulose. O adubo orgânico utilizado tem alta concentração de matéria orgânica funcional, derivado de resíduos de estações de tratamento de efluentes (ETE) do processo produtivo da indústria de celulose e sobras de biomassa.
Essa inovação contribui para o sucesso da regeneração da vegetação, garante que as sementes tenham maior chance de brotar e se estabelecer na área afetada. Com a semeadura finalizada em novembro de 2024, a fase de monitoramento atual será fundamental para verificar a eficácia do reflorestamento e, também, para avaliar se as plantas podem contribuir na prevenção de escorregamentos nos morros da costa sul.
O projeto Restaura Litoral Norte, iniciativa do ICC e do governo paulista, é realizado com os patrocínios da concessionária Tamoios, Gerando Falcões e uma rede de patrocinadores privados, além do apoio do Ministério Público Federal (MPF); Ministério Público de São Paulo (MP-SP); Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb); Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo (Semil); Fundação Florestal e prefeitura de São Sebastião.
O Restaura Litoral Norte já rendeu prêmios importantes. No Brasil, o projeto foi finalista do Prêmio Siriema, do Crea Goiás. No cenário internacional, em parceria com a Ambipar Group, conquistou o Global Good Awards, no Reino Unido, premiação reconhecida como o "Oscar" mundial da sustentabilidade, na categoria de recuperação e regeneração ambiental.
Além da recuperação ambiental, o projeto tem um forte viés educacional, envolvendo escolas locais em atividades de conscientização e treinamento sobre riscos climáticos e preservação ambiental.
Com informações de Instituto Conservação Costeira (ICC) e governo de São Paulo