Instituto Conservação Costeira representa a sociedade civil paulista na Conferência Nacional do Meio Ambiente, em Brasília
Com mais de uma década de atuação no litoral norte de São Paulo, o Instituto Conservação Costeira (ICC) representa a sociedade civil do estado na 5ª Conferência Nacional do Meio Ambiente (CNMA), que ocorre de 6 a 9 de maio em Brasília. A organização integra o comitê organizador da etapa estadual e chega ao encontro nacional com propostas construídas a partir da escuta territorial, da articulação com conselhos ambientais e da colaboração com uma coalizão de ONGs ambientalistas.
Presente no Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema) e no Conselho Estadual de Mudanças Climáticas (CEMC), o ICC tem como foco transformar vivências locais em políticas públicas. A instituição tornou-se referência após sua atuação durante e após a tragédia de 2023 em São Sebastião, quando chuvas intensas provocaram deslizamentos e deixaram dezenas de mortos.
Fundado no mesmo município, o ICC desenvolve projetos de educação climática, restauração ambiental e regularização fundiária. Um dos destaques é o Escolas Seguras, que capacita professores, forma agentes mirins e implanta protocolos de prevenção em escolas públicas situadas em áreas de risco, em parceria com o Cemaden.
Fernanda Carbonelli, diretora executiva do ICC, disse: “A proposta que levamos ao conselho ou à conferência não nasce no gabinete. Ela nasce do chão: de professores, pescadores, estudantes, geólogos. O programa Escolas Seguras é parte desse esforço para formar gerações que saibam identificar riscos e atuar por um futuro climático mais justo”.
Antes mesmo da tragédia de 2023, o ICC já havia produzido mapas detalhados das áreas de risco e das Áreas de Preservação Permanente (APPs) em São Sebastião. Esses documentos, elaborados por uma equipe multidisciplinar, foram fundamentais para a resposta do poder público. Com base nos dados, o governo de São Paulo construiu e entregou mais de 700 moradias seguras nos bairros da Baleia Verde e de Maresias.
A experiência resultou no projeto Restaura Litoral, aprovado em tempo recorde pelo Consema e executado em parceria com entidades públicas e privadas. Utilizando drones e cápsulas biodegradáveis com sementes nativas da Mata Atlântica, a iniciativa promoveu a semeadura de 130 milhões de sementes entre fevereiro e dezembro de 2024. Atualmente, a restauração segue em monitoramento técnico. “A regeneração observada já é significativa. Esse modelo de restauração aérea pode se tornar referência nacional”, avalia André Motta, engenheiro agrônomo e coordenador técnico do projeto.
Pelo caráter inovador, o Restaura Litoral recebeu prêmios internacionais no Reino Unido e nos Estados Unidos, um reconhecimento à força da articulação entre ciência, sociedade civil e poder público.
Em 2025, a reestruturação do consema e a criação do CEMC ampliaram a governança ambiental paulista. O ICC, que tem assento em ambos os colegiados, articula uma coalizão de ONGs como SOS Mata Atlântica, Sea Shepherd Brasil, Instituto Arayara, Gaia Social e Iniciativa Verde. A atuação em rede fortaleceu as propostas levadas à CNMA, com base na justiça climática e na escuta ativa dos territórios vulneráveis.
A 5ª Conferência Nacional do Meio Ambiente marca a retomada de um ciclo de debates suspenso por mais de uma década. Com o tema Emergência Climática: o Desafio da Transformação Ecológica, o evento reúne representantes do poder público, especialistas e movimentos sociais. A ministra Marina Silva classificou o encontro como “histórico” e reforçou a importância da escuta popular na construção de políticas ambientais.
Em São Paulo, a conferência estadual antecedeu o evento nacional e reuniu especialistas em torno do Plano Estadual de Adaptação e Resiliência Climática (PEARC). Segundo a secretária de Meio Ambiente, Natália Resende, a meta é preparar os municípios paulistas para os impactos crescentes da crise climática.
O Instituto Conservação Costeira chega a Brasília com um histórico de ações concretas. Defende a restauração de áreas de risco com tecnologia acessível, a educação climática como política pública e a criação de redes permanentes de escuta comunitária e resposta rápida. Para Fernanda Carbonelli, o compromisso do ICC é levar à conferência propostas viáveis e replicáveis.
“O litoral norte de São Paulo vive, todos os anos, os efeitos da emergência climática. O que levamos à 5ª CNMA são soluções que nascem da prática, com base na ciência e no diálogo comunitário. Representar São Paulo é uma honra — e uma responsabilidade com o futuro do país”, conclui.