GREVE DOS CAMINHONEIROS

Turistas cancelam reservas em hotéis e litoral norte contabiliza prejuízos

Apenas 105 mil carros devem descer para São Sebastião, Ilhabela, Caraguatatuba e Ubatuba

Reginaldo Pupo
Publicado em 30/05/2018, às 16h27 - Atualizado em 23/08/2020, às 16h53

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Ilhabela teve 70% das reservas canceladas no último fim de semana (de 25 a 27 de maio) por conta da greve dos caminhoneiros - Reginaldo Pupo
Ilhabela teve 70% das reservas canceladas no último fim de semana (de 25 a 27 de maio) por conta da greve dos caminhoneiros - Reginaldo Pupo

A greve dos caminhoneiros afetou diretamente o turismo na região do litoral norte, e empresários do setor contabilizam prejuízos. Já no meio da semana, alguns proprietários de pousadas, hotéis e restaurantes tinham dado por perdido o feriado prolongado de Corpus Christi, iniciado na quinta-feira, 31. Em algumas cidades, muitos turistas não conseguiram retornar às suas cidades de origem, no final de semana passado, devido à falta de combustível.

Mesmo assim, a concessionária que administra a rodovia dos Tamoios, principal via de acesso ao litoral norte, estima que 105 mil carros desçam para o litoral norte durante o período. Segundo o presidente da Acei (Associação Comercial e Empresarial de Ilhabela) Wilson Alves dos Santos, no último fim de semana, 70% das reservas em hotéis e pousadas foram canceladas. O problema, segundo ele, pode se agravar, nesse feriado, pois, apesar de o reabastecimento de combustíveis ocorrer de forma gradual desde a terça-feira, 29, os prováveis visitantes não tinham certeza se conseguiriam retornar para casa.

Disse ele: “No início da semana, as expectativas já eram as piores possíveis. O feriado, que poderia salvar nosso mês, foi perdido”, lamentou. Ele afirmou que, como consequência da greve, os preços no comércio de Ilhabela aumentaram entre 6.000% a 7.000%. “Estão faltando produtos em açougues e quitandas, onde estão parte dos produtos necessários para o funcionamento de restaurantes, por exemplo. Esse aumento não pode ser repassado ao cardápio e os comerciantes terão que amargar com os prejuízos”.

Ainda segundo Santos, com a greve, o comércio deixou de faturar. “Com o pouco (de faturamento) que entra, a margem de lucro logo é consumida pelos altos preços. E ainda teremos que pagar os funcionários. Como vamos fazer para honrar a folha de pagamento?”, questionou. Para ele, a reivindicação dos caminhoneiros é justa, “mas está na hora de o governo e a classe (dos caminhoneiros) entrarem em um acordo para encerrar a greve definitivamente”, concluiu. 

Cenário desanimador

A AHP (Associação dos Hotéis e Pousadas) de Caraguatatuba informou que 90% das reservas foram canceladas. O presidente da entidade, Wilson de Oliveira, disse: “Temos associados que estão pensando em fechar durante o feriado, devido à falta de hóspedes”. Segundo ele, algumas pousadas não terão como oferecer o café da manhã. "Estão faltando produtos básicos para o desjejum, como frutas e pães".

O cenário também não é animador em Ubatuba. Para o secretário do Sinhores (Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Ubatuba) José Carlos de Souza, que representa o litoral norte, “o feriado nesta época do ano já é fraco, pois concorremos com destinos de inverno, mas, com a greve, sofreremos uma queda brusca no movimento de turistas”.

Em São Sebastião, segundo a prefeitura, com base em informações fornecidas pela AHPM (Associação de Hotéis e Pousadas de Maresias), a ocupação para o feriado registrava 50%, até a última terça-feira, 29.  O percentual refere-se apenas aos associados da APHM e não reflete a totalidade dos meios de hospedagens de Maresias e do município de São Sebastião.

A presidente da APHM, Niuara Tedesco, disse que hóspedes receosos fizeram contato, mas a maioria aguarda o desenrolar da greve. "Tudo em Maresias está funcionando normalmente. Caso, por ventura, haja necessidade de cancelamento, o hóspede pode negociar o reagendamento com os estabelecimentos”, explicou a presidente. O presidente do Comtur (Conselho Municipal de Turismo) de São Sebastião, Eduardo Cimino, por sua vez, disse: “Estamos aguardando muito ansiosos, para que tudo isso termine e que o turismo, nossa principal fonte, não seja tão prejudicado”.

Por causa da greve, a organização do Vento Festival, evento que seria realizado entre os dias 31 de maio e 3 de junho, em São Sebastião, foi adiado para o feriado prolongado de 7 de setembro. A Abav (Associação Brasileira de Agências de Viagens) e a Braztoa (Associação Brasileira das Operadoras de Turismo) informaram que solicitaram às companhias aéreas, hotéis e locadoras de automóveis que facilitem o remanejamento das reservas pagas e não utilizadas, sem aplicação de multas e penalidades.

De acordo com as duas entidades, algumas agências de viagens já se queixaram sobre o impacto negativo no movimento de vendas por causa da crise de abastecimento e a procura para as férias de julho está estagnada. 

Serviços públicos

Com a chegada dos primeiros caminhões com combustíveis na região, a partir da madrugada da terça-feira, 29, as filas nos postos vêm aumentando. Mesmo assim, alguns serviços públicos ainda estão prejudicados. As prefeituras priorizam ações nas áreas da saúde, educação e na coleta de lixo; em Caraguatatuba, está normalizado. Em Ubatuba, de acordo com a prefeitura, a coleta seria normalizada a partir da noite da última terça-feira, 29. O transporte coletivo, que durante a greve teve horários reduzidos, também volta à normalidade nas quatro cidades da região. Em Caraguatatuba, porém, a normalização ocorre apenas em horários de pico.

No início da semana, o prefeito de Ilhabela Márcio Tenório conseguiu a liberação de 15 mil litros de gasolina e 10 mil litros de óleo diesel, com a Revap (Refinaria Henrique Lage), de São José dos Campos (SP), para a manutenção dos serviços essenciais nas áreas de saúde, educação, transbordo do lixo e segurança (Corpo de Bombeiros, Defesa Civil e Polícia Militar). Os caminhões com os combustíveis foram escoltados pela Polícia Militar até o arquipélago.

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