Risco

Raios e trovões aumentam no verão

O Brasil é o país campeão de raios no mundo com cinco milhões de ocorrências anuais

Fernanda Mello
Publicado em 18/12/2018, às 08h37 - Atualizado em 23/08/2020, às 18h09

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Luis Alvarenga
Luis Alvarenga

É nesta época quente que a incidência de raios - fenômeno da natureza cercado de mitos e riscos - aumenta exponencialmente e provoca uma média de 130 mortes por ano. Somos o país campeão de raios no mundo com cinco milhões de ocorrências anuais. O grande número de descargas elétricas por aqui ocorre devido à nossa localização geográfica.

O Brasil é o maior país tropical do planeta, e localiza-se em uma zona em que tempestades são corriqueiras. A par disso, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), as chamadas ‘ilhas de calor’, formadas pelo aumento de temperatura e combinadas à poluição das grandes cidades, atraem cada vez mais raios.

Sendo assim, o conhecimento torna-se fundamental para evitar problemas. Para trazer luz a esse tema, em outubro de 2013, portanto, antes do início da temporada de verão e de tempestades, foi lançado o filme Fragmentos de Paixão, tema inédito sobre raios feito no Brasil pelo Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat), do Inpe.

Diferentemente de um documentário científico, a produção escrita e dirigida pela jornalista Iara Cardoso conta a história verídica de seis pessoas que tiveram suas vidas transformadas para sempre por causa de um raio. “Trazemos questões essenciais a todos, visando ampliar e democratizar a informação sobre o assunto”.

A morte da turista Rosangela Biovati, de Ribeirão Pires, em 13 de janeiro de 2014, na praia da Enseada, no Guarujá, chocou muitos interessados pelo tema. Ela foi atingida pela descarga elétrica ao entrar na água para chamar o filho e o sobrinho. O acidente foi registrado pelo fotógrafo Rogério Soares, cujas imagens tiveram repercussão nacional e internacional.

Outra morte foi a do cobrador Claudinei de Jesus Marques, em 17 de janeiro do mesmo ano, na garagem da empresa em que trabalhava, na zona leste de São Paulo. Ele estaria segurando uma placa metálica quando foi atingido.

Um levantamento realizado pelo Elat mostra que, como consequência das tempestades, há mais mortes por raios do que por enchentes e deslizamentos. De 1991 a 2010, 2.640 pessoas morreram atingidas por raios, contra 2.475 pessoas que perderam a vida por causa de enchentes e deslizamentos.

As zonas rurais exercem forte atração de descargas elétricas. No Brasil, 80% das pessoas que morreram atingidas por raio encontravam-se nessa região. Se pensarmos então que a cidade e a casa é um lugar seguro também estamos enganados.

Depois das zonas rurais, é nas residências que ocorrem o maior número de fatalidades envolvendo descargas de raios.Entre as recomendações do Elat, estão: evitar, durante a tempestade, o uso de telefone com fio ou celular ligado à rede elétrica; dê preferência aos telefones sem fio, fique longe de tomadas, canos, janelas, portas metálicas, e, de forma alguma, toque em qualquer equipamento elétrico ligado na tomada.

Se estiver na rua e a tempestade começar, procure abrigo em carros não conversíveis, ônibus ou outros veículos não conversíveis; em moradias ou prédios, de preferência que possuam proteção contra raios;  em abrigos subterrâneos, tais como metrôs ou túneis; em grandes construções com estruturas metálicas, ou em barcos ou navios metálicos fechados.

Ainda na rua, evite segurar objetos metálicos longos, tais como varas de pesca e tripés; empinar pipas e aeromodelos com fio ou andar a cavalo. Locais como, celeiros, tendas, barracos, tratores, motos e bicicletas, oferecem pouca ou nenhuma proteção contra raios. E mais: não estacione próximo a árvores ou linhas de energia elétrica.Coordenador do Elat, do Inpe, Osmar Pinto Júnior destaca que, cerca de 80% das mortes provocadas por raios, são ocasionadas por falta de informação. “Nos demais casos, seria devido à falha de alerta ou acidente”.

Para o especialista, há formas de melhorar a comunicação com a população visando chamar atenção para o perigo de permanecer em áreas descampadas – como a praia – durante uma tempestade. “Por exemplo, o Corpo de Bombeiros poderia distribuir uma cartilha aos banhistas sobre os perigos dos raios ou, então, colocar placas na praia alertando para os riscos”.

O Grupamento de Bombeiros Marítimo explica que, no momento em que se anuncia uma tempestade de raios, os guarda-vidas orientam os banhistas que estão na praia e no mar para que saiam e explicam os perigos. Porém, como o guarda-vidas também pode ser um alvo, ele procura abrigo. Os banhistas que permanecem, assumem o risco. Por força da lei, o guarda-vidas não pode obrigar ninguém a sair de onde está.

É bom saber

De acordo com os especialistas, quando se escuta o som de um trovão, é sinal de que existe um raio próximo – a cerca de 15 km de distância. Deve-se procurar imediatamente um abrigo seguro.  O ideal, no entanto, é deixar o local de perigo assim que perceber que a tempestade está se formando, e não esperar pelo trovão.

O raio nada mais é do que uma descarga elétrica que ocorre geralmente durante uma tempestade entre partículas com cargas negativas nas nuvens e positivas no solo. O aquecimento do ar provocado pelo fenômeno gera um clarão conhecido como relâmpago. E o deslocamento do ar causado pelo aquecimento gera uma onda sonora que conhecemos como trovão.

Há diferença entre relâmpago e raio. O primeiro é resultado de toda descarga elétrica gerada por nuvens de tempestades. Já o raio é só a descarga que se conecta ao solo. A intensidade típica de um raio é de 30 mil amperes, cerca de mil vezes a intensidade de um chuveiro elétrico.

Apesar das notícias de fatalidades já veiculadas neste verão, a chance de uma pessoa ser atingida diretamente por um raio é muito baixa, sendo, em média, menor do que um para um milhão. Contudo, se a pessoa estiver numa área descampada, embaixo de uma tempestade forte, esta chance pode aumentar em até um para mil.

A água salgada conduz eletricidade e o efeito do raio se propaga para longe do mar, podendo ser sentido na areia. Um raio forte pode matar uma pessoa a 1 km de distância, mesmo que ela esteja só com os pés na água ou na areia molhada.Não é diretamente o raio o maior causador de mortes e ferimentos. Geralmente, isso acontece por efeitos indiretos associados a incidências próximas ou efeitos secundários dos raios.

As descargas também provocam incêndios ou queda de linhas de energia, o que pode atingir uma pessoa.Agora, se uma pessoa for realmente atingida por um raio, a corrente dele pode causar queimaduras e outros danos a diversas partes do corpo. A maioria das mortes de pessoas atingidas por raios é causada por parada cardíaca e respiratória. Cerca de 80% das circunstâncias em que acontecem mortes por raios podem ser evitadas se as pessoas souberem como se proteger.

Locais extremamente perigosos

Topos de morros, cordilheiras e prédios;

Áreas abertas, campos de futebol ou golfe;

Estacionamentos abertos e quadras de tênis;

Proximidade de cercas de arame, varais metálicos, linhas aéreas e trilhos;

Proximidade de árvores isoladas;

Estruturas altas, tais como torres, linhas telefônicas e linhas de energia elétrica.

Desmistificação:

Símbolo do Rio de Janeiro, a estátua do Cristo Redentor sofreu avarias na cabeça e em dois dedos durante forte tempestade no primeiro mês do ano. Mesmo contando com sistema de para-raios, o monumento recebeu três em 10 segundos, de acordo com o Inpe. Só essa ocorrência com o cartão-postal carioca já desvenda um dos principais mitos envolvendo raios – o de que a descarga atmosférica não cai em um mesmo lugar duas vezes.

Para se ter uma ideia, pela sua localização, no topo do Morro do Corcovado, o Cristo recebe, em média, seis raios por ano. A maior parte é absorvida pelo sistema de para-raios, que atrai a descarga elétrica e a conduz para o solo, onde não provoca estragos.

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