Após séculos de destruição, a vegetação nativa de Mata Atlântica havia praticamente desaparecido em Cachoeiras de Macacu, na região metropolitana do Rio de Janeiro, onde foi derrubada para dar lugar a pasto ou agricultura.
Depois de oito anos de plantio, a floresta finalmente voltou a ocupar a paisagem da Reserva Ecológica de Guapiaçu (Regua), no município fluminense. Patrocinado pela Petrobras e pelo governo federal, o Projeto Guapiaçu está recuperando 260 hectares de vegetação com espécies como jequitibá-rosa, jacarandá-da-bahia e cedro-rosa.
Desde o ano passado, uma nova fase da iniciativa começou a expandir para além dos limites da reserva, e ações de restauração ecológica começaram a ser feitas em propriedades rurais privadas. O projeto vai contemplar, até o fim deste ano, 61,4 hectares de áreas particulares.
Para a coordenadora executiva do projeto Gabriela Viana, os benefícios da recuperação de áreas de pastagens pouco utilizadas são maiores do que a sua não utilização. Segundo ela, o reflorestamento gera muitos serviços ambientais como água em quantidade e qualidade, sombra e melhoria do ar.
“Nós entendemos que o nosso grande desafio agora é mostrar para os proprietários que, ao disponibilizar pequenas áreas para recuperação em beira de rio ou alguma nascente, eles também terão benefícios. Não é só o meio ambiente que terá benefícios”, disse Gabriela.
Acordos de cooperaçãoO projeto está firmando acordos de cooperação com pessoas físicas e jurídicas proprietárias de terras vizinhas à reserva. “Entramos com a mão de obra e os insumos necessários para o reflorestamento. O investimento na área é feito pelo projeto. Não tem custo para o proprietário. Mas nessa parceria temos que ter a garantia deles de que vão manter a área reflorestada”, afirmou a coordenadora.
“O objetivo destas parcerias é facilitar a ligação de fragmentos florestais maduros e, claro, valorizar e melhorar os recursos naturais, sobretudo a água que nos abastece. A conexão por meio dos corredores é ainda muito importante para a biodiversidade de fauna e flora que precisa da troca de material genético”, explicou Aline Damasceno, engenheira florestal do projeto.
Terrenos de proprietários rurais parceiros, como o Instituto Vital Brazil, já começaram a receber as mudas de espécies de Mata Atlântica. A escolha dos proprietários é feita tendo como base aqueles que estão com Cadastro Ambiental Rural (CAR) atualizado e se mostram dispostos a formar o banco de áreas para restauração.
“A instituição recebeu com entusiasmo a iniciativa com o objetivo de celebramos a parceria em uma área de 10 hectares. Pouco tempo após o início das atividades, os resultados têm sido visíveis e animadores. A recuperação do solo e a restauração da mata ciliar com o objetivo de estabelecer conexões entre corredores florestais na localidade são, sem dúvida, uma excelente estratégia e um passo importante para a conservação da diversidade biológica na região”, disse, em nota, Átila de Castro, presidente do Instituto Vital Brazil.
Mudança na paisagemA primeira fase do projeto, na alta bacia do Rio Guapiaçu, ocorreu entre 2013 e 2015. O intenso desmatamento promovido ao longo de séculos havia resultado em um cenário que reunia fortes erosões, formação de sulcos e nascentes secas.
Aos poucos, o espaço foi sendo transformado com o plantio de 180 mil mudas de 210 espécies nativas em uma área de 100 hectares. Entre 2017 e 2019 foram restaurados mais 60 hectares. A mais recente etapa do processo teve início em 2020 com a recuperação da vegetação de outros 100 hectares, desta vez, beneficiados com mais 130 mil plantas cultivadas.
“Hoje é evidente a transformação na paisagem. A restauração ambiental desta área trouxe para a região uma série de benefícios: além da beleza e da melhoria do microclima, há também a estabilidade do solo e dos processos erosivos nas encostas, o que evita o assoreamento dos rios”, afirmou Aline.
Na época do descobrimento do Brasil, a Mata Atlântica era contínua como a Floresta Amazônica e considerada a segunda maior floresta tropical do Brasil com uma área equivalente a 1.315.460 km². Hoje, no entanto, restam apenas 7,3% da cobertura original, e a Mata Atlântica é considerada a quinta área mais ameaçada do planeta.
Edição: Lílian Beraldo
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