Foto Marcelo Fiorini
Bertioga
Marcelo Fiorini
As constantes ocupações irregulares em Bertioga têm preocupado as autoridades e membros da segurança pública. Segundo uma fonte, que não quis se identificar, o crescimento das invasões no bairro Chácaras, na região conhecida comoCitymar, por exemplo, segue sem controle, já que muitos acabam retornando, mesmo depois de terem o barraco demolido.
A reportagem do Costa Norte esteve no bairro, na tarde da terça-feira, dia 1º de novembro, e apurou que, aproximadamente, 200 famílias já se encontram na área. Para o diretor do Departamento de Operações Ambientais (DOA)Bolívar Barbanti Júnior, o departamento, agora, tenta conter o crescimento da área invadida. Segundo ele, após as famílias se instalarem, somente podem ser retiradas com ordem judicial. “Essa já é uma ocupação que vem ocorrendo há alguns anos, inclusive no governo anterior. O que estamos tentando fazer é conter esse crescimento. Na parte que já está ocupada, buscamos o congelamento para evitar que a invasão cresça”.
Diante da informação de que políticos atuam, muitas vezes, na venda de lotes naquela região, Bolívar disse que estas informações não cabem ao DOA responder. “Nossa questão é a ambiental. Aí, [o envolvimento de políticos] é uma questão de investigação, de promotoria e de denúncia”. Com as ocupações desordenadas, para o diretor do DOA, o dano fica para o município, desde o crescimento da criminalidade, até problemas de saúde e estrutura, já que a área sofre com os alagamentos. “Hoje, temos um aliado que é a parte da denúncia. Inclusive, temos feito algumas parcerias com os moradores das áreas congeladas para que eles denunciem, e isso tem acontecido”.
O delegado Sérgio Nassur informou que os boletins de ocorrências referentes a invasões são registrados, mas que não são criminais, pois não envolvem risco de morte. Ele disse, ainda, que a Polícia Civil prepara um relatório sobre os registros.
“Não tenho para onde ir”
A falta de condições para pagar por um aluguel é um dos principais motivos alegados por aqueles que escolheram o local para se instalar, como é o caso de Luiz Carlos Marcondes, um dos ocupantes irregulares na região. Ele disse que construiu e mora sozinho em seu barraco, há cerca de quatro meses. “Eu não tenho onde ficar e não tenho como pagar aluguel”. Luiz Carlos afirmou que a polícia já foi até seu barraco umas três vezes e que a equipe do DOA o orientou a permanecer até que arrumasse outro local. Porém, a polícia informou que muitos dizem que tiveram permissão para permanecer na localidade até que encontre outro lugar, mas que, na realidade, não tiveram.
Aliado às invasões diárias, o comércio de barracos é outra preocupação das autoridades. Durante a reportagem, nomes como “Joel”, “Vando” e “Alemão” foram citados como de indivíduos que comercializam lotes na área.
Uma das moradoras, que não quis se identificar, contou que está no local há um ano. “Estou aqui, porque não tenho para onde ir”. Ela alegou não ter comprado a área onde mora, mas afirmou que indivíduos de nomes como“Joel” e “Vando”, são os que vendem alguns lotes, com preços, às vezes, de R$20 a R$30 mil; disse, ainda, que eles não são de Bertioga.
Muitos se recusaram a falar e outros preferiram o anonimato. O representante de uma família disseque comprou o terreno em que mora por R$ 7 mil, de um rapaz apelidado de“Alemão”. No local há cerca de três anos, ele garante que, para sobreviverem, tudo é feito de forma clandestina, como a energia elétrica, que é obtida por meio de “gato”.
A família de Sandra Lima de Souza de Oliveira também comprou o lote pelo preço de R$ 8 mil. “Nós trabalhamos muitos anos aqui em Bertioga com sorvete. Mas, em janeiro, nós viemos definitivos e começamos a pagar aluguel lá na Saoc [Vicente de Carvalho]. Estamos três meses morando aqui”. A venda do terreno chegou por meio de comentários de conhecidos. Ela pede que os governantes eleitos trabalhem pelas famílias daquela área. “Muitos candidatos prometeram, agora, Deus abençoe os eleitos, para que eles façam alguma coisa por nós”.
A moradoraEliane Gomes da Silva contou que não comprou. “Na época que a gente veio, estávamos pagando aluguel e ele já estava atrasado. Passamos aqui e notamos que o pessoal estava entrando. Vimos este terreno e construímos o barraco”.
O jardineiro Mairton Leite de Souza morana área há dois anos e afirma que também não comprou o lote. Ele decidiu levar a mulher e os três filhos por não ter mais condições de pagar aluguel. “Fiquei sabendo deste terreno por meio de alguns amigos que já tinham vindo para cá. A prefeitura nunca falou nada que a gente tinha que sair daqui ou não. A única coisa que eles falam é que vão tentar regularizar, mas ninguém sabe quando e se isso vai acontecer”.
Wilsomar Conceição Oliveira, conhecido como Branco, disse à reportagem que trocou um carro, no valor de, aproximadamente, R$ 10 mil,pelo terreno. “Espero que eu não tenha prejuízo, né, que eu não tenha dado um tiro no meu pé”. Ele criticou quem julga as famílias lá presentes. “Às vezes, as pessoas falam: `mais uns fora da lei chegando aí´, mas é a necessidade que nos obriga. Branco espera dos políticos eleitos, que os ocupantes da região sejam reconhecidos. “A gente é trabalhador, tentando sobreviver. Se os governantes enxergarem que quem está aqui é porque realmente precisa, que eles legalizem, porque, se tirar daqui, vai desmatar outro lugar. Não adianta”. Para ele, a venda dos barracos parou após intensas ações da polícia e equipe de fiscalização do DOA. “Quem está aqui hoje é para construir. Vou trazer minha família para cá; agora, é questão de sobrevivência”.
Fiscalizações
O DOA realiza às terças e quintas-feiras, operações de fiscalização, em conjunto com a Polícia Ambiental e a Polícia Militar, para orientar os ocupantes da região. Segundo nota encaminhada pela prefeitura, durante as abordagens são verificadas novas ocupações e, caso não haja pessoas morando no local, os barracos são demolidos e o material retirado. “Quando já existem pessoas morando, o responsável é notificado pela prefeitura a demolir a edificação e retirar o material. A Polícia Ambiental encaminha o responsável pela ocupação para a Delegacia de Polícia, onde é lavrado o boletim de ocorrência”.
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