SURPREENDENTE

O pior lugar do mundo para se visitar e mais três fatos sobre o litoral de SP que vão te surpreender

Ilha presídio e uma sangrenta rebelião; primeira vila do Brasil; uma das maiores ilhas marítimas brasileiras transformada em cidade e outra ilha que foi eleita o pior lugar do mundo para se visitar, à frente da cidade radioativa de Chernobyl; tudo isso está no litoral de São Paulo

Da redação
Publicado em 20/08/2021, às 12h27 - Atualizado em 22/08/2021, às 10h00

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Litoral de São Paulo em destaque no mapa paulista mapa-litoral-paulista - O pior lugar do mundo para se visitar e mais 3 fatos sobre o litoral de SP que vão te surpreender - Imagem: Reprodução / Viagens e Caminhos
Litoral de São Paulo em destaque no mapa paulista mapa-litoral-paulista - O pior lugar do mundo para se visitar e mais 3 fatos sobre o litoral de SP que vão te surpreender - Imagem: Reprodução / Viagens e Caminhos

O litoral de São Paulo é um colosso que reúne 15 municípios e mais de 50 ilhas. Vai de Ubatuba, ao norte, na divisa com Paraty, no Rio de Janeiro, a Cananéia, no extremo Sul, separada do parque nacional do Superagui, no Paraná, pelo Mar Pequeno. Entre os dois extremos estão as seguintes cidades, na ordem norte-sul: Caraguatatuba, Ilhabela, São Sebastião, Bertioga, Guarujá, Santos, São Vicente, Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém, Peruíbe, Iguape e Ilha Comprida. Ufa!

Somadas, as populações das cidades litorâneas de São Paulo ultrapassam dois milhões e duzentas mil pessoas (Estimativa populacional / IBGE/2018). A mais populosa e aspirante a megalópole é a famosinha Santos, com mais de 430 mil habitantes, ao passo que a com menor população é a nanica, porém valente, Ilha Comprida, com pouco mais de 10 mil moradores. A faixa do litoral banhada pelo Atlântico tem mais de 700 km de extensão - dos quais mais de 60% são das paisagens que definem a região: as amadas praias.

Litoral de São Paulo em destaque no mapa paulista mapa-litoral-paulista - O pior lugar do mundo para se visitar e mais 3 fatos sobre o litoral de SP que vão te surpreender (Imagem: Reprodução / Viagens e Caminhos)

E, naturalmente, uma região com tais dimensões guarda segredos históricos e ambientais. É no litoral paulista que foi fundada a primeira vila brasileira, nos primórdios do período colonial. Também foi no litoral, na primeira metade do século 20, que algum gênio (só que não) teve a brilhante ideia de transformar uma ilha em um presídio, o que não deu muito certo e a história acabou em derramamento de sangue. Por falar em ilha, uma das maiores do Brasil também flutua em águas salgadas por essas bandas. E, finalmente, é no litoral que está um destino que você não vai querer visitar.

Ficou curioso? Então vem com a gente conhecer um pouquinho da história e das paisagens desta região surpreendente maravilhosa.

A famigerada Ilha presídio de Ubatuba e a sangrenta rebelião

Ruínas das celas na Antiga Ilha dos Porcos, atualmente Ilha Anchieta Ilha Anchieta - Três curiosidades turísticas de Ubatuba que vão te surpreender (Imagem: Reprodução / Wikipedia.org)

Além das paisagens naturais deslumbrantes, Ubatuba também é repleta de histórias inacreditáveis. Uma que nem todos conhecem é a da Ilha Anchieta.

Segunda maior ilha do estado de São Paulo, atrás de uma que você vai conhecer daqui a pouco, hoje a Ilha Anchieta faz parte do Parque Estadual que leva seu nome e é um dos principais pontos de mergulho do litoral paulista.

No entanto, se você fosse visitar a ilha entre as décadas de 1910 e 1950, em vez de mergulhadores, encontraria uma penca de advinha o quê? Peixinhos a nadar no mar? Não. Serpentes? Nada disso, isso é em outra ilha que você também vai ver já já.

Você simplesmente se depararia com detentos.

Isso mesmo, a ilha foi um presídio. De 1902 a 1952, com interrupções, a Ilha era um cadeião apelidado de Ilha dos Porcos, habitada por policiais e presos comuns e políticos.

Em 20 de junho de 1952, a ilha entrou para a história prisional do Brasil. Centenas de detentos da colônia penal se amotinaram, dominaram os guardas do presídio, conseguiram tomar deles suas armas e embarcações, escapando da ilha em seguida.

Revista Manchete - 5 de julho de 1952 Rebelião Ilha Anchieta - Ubatuba (Imagem: Reprodução / Acervo / Migalhas.com.br)

Entretanto, ao chegar ao continente, nas atuais Ubatuba e Caraguatatuba,  os detentos eram esperados pelas forças policiais das duas cidades e algumas tropas do exército. Estava posta a receita do morticínio. Estima-se que mais de 100 pessoas morreram no conflito. A notícia da rebelião sanguinolenta  espalhou-se, viajou aos quatro ventos. Grandes jornais noticiaram. O episódio é  considerado um dos mais sangrentos da história prisional brasileira.

Em 1955, três anos após a sangrenta rebelião, o presídio foi definitivamente desativado e a  Ilha Anchieta virou destino turístico.  

A primeira vila do Brasil 

Fundação de São Vicente de Benedito Calixto Fundação de São Vicente (Imagem: acervo do Museu Paulista da USP)

Quatro séculos antes da rebelião, perto dali, era fundada São Vicente, a primeira vila do Brasil colonizado. Historicamente, o episódio demarca o início efetivo da colonização brasileira por Portugal.  

Em 1532, Martin Afonso, donatário do rei D. João III, retornava do Rio da Prata, onde fora procurar ouro e prata e fundou São Vicente. A então vila, hoje cidade, foi dotada de um engenho para produzir açúcar.

Segundo historiadores, a fundação da Vila de São Vicente demarca uma mudança de postura da coroa em relação à colônia. Do dito descobrimento, em 1500, até 1530, explorou-se o pau-brasil em poucas expedições ocasionais.

No entanto, com a França de olho no território e a coroa espanhola encontrando minérios nos territórios por ela colonizados, a coroa portuguesa se convenceu de que era preciso dar início à colonização da nova terra. A estratégia era estabelecer a posse da terra por meio da criação de núcleos permanentes de povoamento, colonização e defesa. São Vicente foi o primeiro deles.

Uma das maiores ilhas brasileiras

Imagem aérea de Ilhabela Ilhabela (Foto: Satélite Amazonia 1 / Inpe)

Entre as mais de 50 ilhas do litoral paulista, uma se destaca. Ilhabela é um dos poucos municípios arquipélagos do Brasil. Em termos de extensão territorial, Ilhabela é a quinta maior ilha marítima brasileira, com 348 quilômetros quadrados.

Fica atrás de Ilha de Tinharé, no litoral baiano, com 400 quilômetros quadrados; da ilha de Santa Catarina, com 424, e da Ilha de São Francisco do Sul, com 493, ambas em Santa Catarina; e, finalmente, da Ilha de Marajó, no Pará, que é banhada por rios e pelo atlântico ao norte.

Rigorosamente, Ilhabela é considerada um arquipélago, já que, além da ilha principal, o território da cidade é composto também por mais 14 ilhas e ilhotes menores.

Estudos arqueológicos têm demonstrado que o arquipélago pode ter sido habitado há mais tempo do que se imaginava. Em 2007, arqueólogos encontraram em uma praia uma ossada humana que pode ter cerca de 2000 anos.   

Ilhas das Cobras: aqui, cobra dá em árvore

Ilha da Queimada Grande ou Ilha das Cobras. De longe assim parece inofensiva Ilha das Cobras (Imagem: Reprodução / SoulPeruíbe)

Uma outra ilha no litoral de SP que você talvez não considere tão bela é a Ilha da Queimada Grande que atende por um nome que faz mais jus a uma peculiar característica do local: Ilha das Cobras.

Esta ilha, localizada a pouco menos de 19 milhas náuticas (35 km) do litoral de Peruíbe e Itanhaém está repleta, mas repleta mesmo, de cobras. E não são cobras em sentido metafórico, como aquela sua vizinha ardilosa, são cobras de verdade. Cobras no solo, cobras nas rochas, cobras nas árvores, cobras voando.

Mentira, a ilha não tem cobras voadoras. Quer dizer, ao menos por enquanto, pois se descobriu que há uma espécie endêmica da ilha, ou seja, há uma espécie de cobra, a jararaca-ilhoa (Bothrops insularis), que só existe por lá.

Há estimativas não confirmadas oficialmente de que pode haver cinco cobras por metro quadrado na ilha ou 45 por hectare (um campo de futebol). O serpentário natural concentra o segundo maior aglomerado de cobras do mundo, atrás apenas da Ilha de Shedao, na China.

Isolada na ilha, por ação da seleção natural, a jararaca-ilhoa acabou se tornando menor e menos pesada do que suas parentes, o que facilitou a locomoção durante a caçada nas árvores. Isso mesmo, ela sobe em árvores.

O animal também adquiriu a habilidade de agarrar coisas utilizando a cauda e um veneno altamente potente mais ativo em aves (sua principal presa), do que em mamíferos. Como só existe na ilha, a espécie é ameaçada de extinção.

A ilha se formou em algum momento do último período glacial que começou há 21 mil anos atrás e terminou há 11,5 mil anos atrás. A costa, sem praias, é constituída por paredões rochosos. O nome ‘Queimada Grande’ é oriundo da prática de pescadores que iam até o local e ateavam fogo na vegetação, como forma de afastar as serpentes.

Em 2010, a publicação internacional Listverse, especializada em listas das melhores e piores coisas, elegeu a Ilha das Cobras como o pior lugar do mundo para se visitar. A ilha foi considerada pior  de se visitar do que a cidade radioativa Chernobyl ou os vulcões de lama do Azerbaijão.

Se você é daqueles aventureiros com um parafuso a menos e ficou com vontade de visitar, vai ficar querendo, pois a ilha é proibida. Apenas pesquisadores e a Marinha podem entrar no local, mediante autorização de órgãos federais. Agora, comentar e compartilhar você pode sem nenhum risco. 

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