PROFISSÃO PERIGO

Motoristas de aplicativos também sofrem com a falta de educação dos passageiros

Depois da grande repercussão do caso do bate-boca entre um motorista do Uber e passageiras em Guarujá, conversamos com alguns motoristas de apps que relataram grosserias, estupidez e ignorância por parte dos viajantes

Thiago Reis Dantas
Publicado em 20/01/2023, às 10h06 - Atualizado às 16h43

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A mobilidade urbana ganhou relevância nos últimos anos e aplicativos de transporte se destacaram nesse período TRÁFEGO DE VEÍCULOS Visão aérea de um cruzamento - UBER
A mobilidade urbana ganhou relevância nos últimos anos e aplicativos de transporte se destacaram nesse período TRÁFEGO DE VEÍCULOS Visão aérea de um cruzamento - UBER

Aproximadamente 1,5 milhão de pessoas no Brasil trabalham como motoristas de aplicativos. O dado, de 2021, é do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Segundo a pesquisa, 61,2% trabalham dirigindo para aplicativos ou são taxistas. No dia a dia, esses 945 mil trabalhadores lutam para sobreviver, enfrentando a violência urbana, a alta dos combustíveis - o rendimento médio desses profissionais, de acordo com o IPEA, gira em torno de R$ 1,9 mil - e a falta de educação de alguns passageiros.

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Na segunda-feira (16), o portal Costa Norte noticiou o caso de um desentendimento entre duas passageiras, uma delas grávida, e um motorista do aplicativo Uber. As mulheres acusaram o motorista de tratá-las mal. O homem não foi localizado para dar sua versão do caso, mas verificando a repercussão da matéria pelos comentários, alguns internautas defenderam o motorista, resolvemos procurar esses profissionais. 

Discordância

A nossa reportagem teve um pouco de dificuldade para obter esses testemunhos. Alguns motoristas alegaram falta de tempo, outros simplesmente ignoraram nossas mensagens. Teve motorista que não gostou da matéria publicada sobre o caso do Guarujá. “Eu gostaria apenas de informar que quando não temos a matéria completa de uma situação, não deveríamos publicar. É o mesmo que expor uma briga entre você e sua esposa, mostrar só a indignação dela e você ser visto como o vilão da história”, relatou um deles que trabalha com aplicativo há 5 anos.

Explicamos que a reportagem procurou o motorista do caso do Guarujá para contar a versão da história, mas sem sucesso. Depois disso, ele falou que passou por situações embaraçosas ao longo desses anos, inclusive com um assalto à mão armada. Esse tipo de crime é recorrente, quase todos os entrevistados passaram por situação semelhante.

Violência

“Eu sofri uma tentativa de assalto no jardim Rádio Clube. Dois caras de moto pararam na minha frente, bem no semáforo, um deles com mochila de entregador. Ele colocou a mão na cintura e eu acelerei o carro. Eu estava com dois passageiros, um casal, e a menina percebeu e comentou comigo - ‘eles queriam te assaltar, né?’ - confirmei a tentativa e pedi para que os dois se abaixassem caso ouvissem tiros”, disse Fabio da Silva Malaquias, morador de Santos/SP, que dirige no período noturno para complementar a renda há 4 anos e presta o serviço para o Uber e o 99.

Congestionamentos, combustíveis com preço alto, falta de educação e violência estão no cotidiano dos motorista MOTORISTA DE APLICATIVO Motorista dirigindo no trânsito (Mobilidade Sampa)

Além dos assaltos, as discussões também são comuns, inclusive, envolvendo a polarização política. “ Perto do segundo turno das eleições, eu peguei uma passageira e ela percebeu que eu tinha uma bandeira do Brasil na manga da minha camisa, e me perguntou se eu era ‘Bozo’. Disse que não entendi a questão, então ela me chamou de ‘Bozo, pela sua cara dá pra ver. Tu é CAC(Certificado de Registro Pessoa Física - Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador), se você quiser atirar em mim, pode atirar, seu genocida!' Falei pra que se esse tipo de comportamento não era aceitável e que eu iria parar o carro para que ela desembarcasse", contou Fábio. Entretanto, após essa fala, a mulher disse que se ele tomasse aquela atitude, ela chamaria a polícia e o acusaria de assédio. “Lidar com ser humano não é fácil”, finalizou.

Falta de educação e vômito

Outro motorista que quis conversar abertamente foi Lucio Mauro de Oliveira, que está no ramo do transporte há mais de duas décadas e trabalha com o aplicativo desde 2018. Começou no Uber e no Miles Drive e, nos últimos tempos, abriu seu próprio aplicativo de transportes em Bertioga/SP. “Fora a concorrência com as grandes (Uber e 99), alguns passageiros agem sem noção da quantidade de passageiros no veículo, entram no carro molhados com a água do mar, bêbados querendo entrar com copos de bebidas e derrubam dentro do carro e chegam até a vomitar”, desabafou.

“Alguns passageiros pedem 2 apps e o que chegar primeiro vai embora e o outro fica 'vendo navio', mas faz parte do jogo”. Sobre o caso do vômito, Lucio disse que teve de arcar com o prejuízo. “Ficamos chateados, mas não tem muito o que fazer! Temos que, em seguida, parar o serviço e lavar o veículo que no mínimo aqui em Bertioga são R$ 50,00”.

Lucio fez um apelo aos passageiros. “Gostaria que pensassem e enxergassem o motorista como um membro da família deles, como se o veículo fosse deles, pois teriam mais respeito para podermos servi-los melhor. A nossa intenção é servir muito melhor!”

O que dizem as plataformas

O Uber informa no site que trabalha com instituições especialistas e está sempre tentando aprimorar a tecnologia utilizada com ferramentas de segurança; além de contar com um sistema de atendimento e um programa de suporte psicológico para prevenção de incidentes com conteúdos educativos. “Adotamos uma tecnologia para identificar riscos com base na análise, em tempo real, dos dados dos milhões de viagens realizadas diariamente pelo aplicativo. A ferramenta pode bloquear as viagens consideradas potencialmente mais arriscadas, a menos que o usuário forneça detalhes adicionais de identificação. A nossa equipe de resposta a incidentes está disponível 24 horas por dia, sete dias por semana”.

Leia os destaques jornalísticos do dia ➥ https://bit.ly/CNgooglenoticias

Já a 99 oferece um assistente que demonstra as principais funcionalidades de segurança disponíveis no aplicativo, como validação de dados do passageiro, monitoramento e gravação de áudio da corrida, além das opções de compartilhamento de rotas e ligação para a polícia. Também oferece um seguro que cobre despesas e outras questões durante uma corrida. Após um incidente, o contato pode ser feito pelo app 99 ou ligando para o número 0800 888 8999 da Central de Segurança. 

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