Perda

Morre Luiz Carlos Pereira de Almeida, diretor superintende da Sobloco Construtora

O brilhante engenheiro teve na Fundação de 10 de Agosto, na Riviera de São Lourenço, um de seus grandes sonhos realizados

Eleni Nogueira
Publicado em 06/05/2020, às 11h15 - Atualizado em 23/08/2020, às 22h50

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Divulgação/Sobloco
Divulgação/Sobloco

O diretor superintende da Sobloco Construtora, Luiz Carlos Pereira de Almeida, faleceu na manhã desta quarta-feira, 6. Ainda não há informações sobre a causa da morte. O sepultamento será amanhã, quinta-feira, 7, no cemitério do Morumbi. Mas não haverá cerimônia, em decorrência da covid-19. Manifestações de pesar podem ser enviadas para [email protected]

Paulistano e engenheiro civil formado pela Escola Politécnica de São Paulo, Luiz Carlos Pereira de Almeida é considerado brilhante em sua área, tendo recebido incontáveis homenagens ao longo da vida. Era conselheiro nato do Secovi-SP (Sindicato da Habitação de São Paulo) e foi presidente da Fiabci-Brasil (Federação Internacional Imobiliária) de 1995 a 1997 e de 2006 a 2010. Em 1991, como diretor de relações internacionais da Fiabci Mundial, criou uma das principais premiações mundiais do setor imobiliário, o Prix d´Execellence (Prêmio de Excelência).

Fundou a Sobloco Construtora S/A em 1958, empresa que se destaca no campo do desenvolvimento urbano em todo o país. O planejamento sempre foi a base principal de seus empreendimentos, que vão além da construção civil e representam importante fator de desenvolvimento nas cidades onde estão inseridos.

Em Bertioga, a Riviera de São Lourenço é um grande exemplo desta fórmula e tem em sua entidade social, a Fundação 10 de Agosto, fundada em 1993, a realização de um de seus sonhos, o de igualar oportunidades. Em trecho de entrevista concedida em 2007, para a revista de aniversário da cidade, ele falou sobre a entidade:  

“A linha de atuação da 10 de agosto é de ensinar. Não é uma instituição de caridade para fazer doações. É uma entidade que dá ensino gratuito. Ela dá a vara para pescar, não dá o peixe. Temos mais de 20 cursos como alfabetização de adultos e vários tipos de cursos para melhorar o nível de cultura das pessoas, como música. Cursos profissionalizantes de jardinagem, limpeza de piscina, copeiro, arrumadeira e agora estamos iniciando os cursos de informática”.

A entidade sem fins lucrativos propicia educação e qualificação profissional à população da cidade de Bertioga. Mais de 22 mil pessoas já passaram pelos cursos gratuitos de música, artes manuais, aperfeiçoamento técnicos, capacitação profissional, além de excursões, encontros e vivências com profissionais qualificados.

A Riviera de São Lourenço começou a ser implantada em Bertioga em 1979. Nesta época, o então jovem engenheiro Paulo Roberto Maria Velzi foi contratado pela Sobloco. Ele trabalhou toda a vida no empreendimento e fala sobre a grande perda: "Trabalhei com o doutor Luiz Carlos por 42 anos e tenho tanta admiração por ele, como profissional e como ser humano, que o considero como meu ídolo e como farol profissional. Ele guiou toda a minha carreira e convivi com ele mais do que com meu próprio pai. O mundo perde um grande homem e a Riviera perde seu grande idealizador. Vai virar uma estrela de luz e o céu estará em festa para recebê-lo".  

Entrevista concedida em 2010 

Em outra entrevista, também para a revista de aniversário da cidade, Luiz Carlos Pereira de Almeida  falou um pouco dos primeiros passos da Riviera de São Lourenço e sua visão do momento que Bertioga passava à época. Veja alguns trechos:

No final dos anos 1970 o senhor foi um pioneiro, ao aceitar o desafio de seus parceiros (Praias Paulista e Fazenda Acaraú) de desbravar Bertioga e construir o que veio a ser batizada pela Sobloco como Riviera de São Lourenço. Como foi esse processo?

Naquela ocasião o que se apresentava para mim era uma espécie de sonho, já que se tratava de projeções sujeitas a muitas condicionantes econômicas, técnicas, políticas, ambientais, e mercadológicas.

Quais foram os passos definitivos para alcançar esse patamar? E os principais parceiros?

Uma vez traçados os objetivos, a palavra dali para frente foi perseverança. O plano precisava estar lastreado no que deveria ser melhor para a sociedade, para se alcançar a melhor qualidade de vida com a tecnologia de ponta.

Parceiros com certeza viriam. Investimentos propriamente atraídos não iriam faltar! Não se tratava de planos de curto prazo e isto, como condicionante, tornava o sonho com cara de viável, de factível, de realizável.

Chegamos aos tempos da preocupação permanente com o meio ambiente, mas naquela época, não era bem assim. Como foi criar um projeto já com essa visão de futuro?

Naquela época a sinalização a respeito da atenção às questões ambientais já era clara. Só não via quem não estivesse acompanhando as manifestações constantes vindas dos países do primeiro mundo. O plano, antes de tudo, precisava se caracterizar pela forma com que iria tratar o meio ambiente. Não havia tratamento de esgotos no nosso litoral! Isto não poderia continuar. As praias de nosso Estado eram sempre vítimas de falta de água tratada! Isto precisava ser corrigido!

Os processos de drenagem nas ocupações ao longo de nossa Costa eram deficientes. Os processos da coleta de lixo e do destino do entulho precisavam ser mais atendidos! Tudo isto era preciso pesar no planejamento! E foi o que aconteceu.

O que o senhor ainda espera desse megaprojeto?

O processo de ocupação urbana se caracteriza especialmente pelo seu dinamismo, pela sua evolução, pela busca do aperfeiçoamento. A técnica evolui, as aspirações humanas evoluem, os hábitos mudam. Tudo isto nos impõem constante atenção e vigilância. Há sempre muito que fazer. Muito que melhorar!

O que a Riviera representa para a Sobloco?

A Sobloco tem a Riviera de São Lourenço como motivo de orgulho e de realização. Os desafios não cessam e a disposição para enfrentá-los cresce dia a dia.

Quantos empregos diretos a Riviera gera hoje em Bertioga? Existe uma previsão para quando ela estiver concluída?  

Sobre os empregos criados, estamos na casa das dezenas de milhares, se contarmos aqueles da construção civil. Outros empregos crescem muito, a medida do crescimento da Riviera. Tudo ainda vai crescer muito.

Bertioga possui 85% de seu território destinado à preservação permanente, o senhor vê isso como fator impeditivo do seu pleno desenvolvimento? Como conciliar esses dois termos na prática?

Bertioga tem tudo para se desenvolver e se consolidar como um grande destino turístico, de nível internacional. Sua proximidade com a capital e sua natureza exuberante conferem à cidade grande atrativo para investimentos.

Por outro lado, o município tem o desafio de compatibilizar o seu crescimento com todo o respeito às questões ambientais. O índice de 85% de preservação não é impeditivo ao crescimento da cidade, desde que haja incentivos e regras claras para quem for empreender no município, de forma a gerar receitas e empregos.

 A cidade chega aos seus 19 anos de emancipação político-administrativa, é tempo suficiente para se estruturar enquanto município?

Bertioga é um município novo, porém, com muita história. Nestes últimos 19 anos cresceu e conquistou muitas vitórias. Uma delas é o Selo Verde Azul, um importante certificado das preocupações ambientais da cidade.

O importante é não perder o foco do desenvolvimento sustentável, ou seja, o desenvolvimento econômico com respeito ao meio ambiente. Desenvolvimento é a melhora do nível do bem estar das pessoas - elevar os padrões de vida, melhorar a educação, a saúde e a igualdade de oportunidades.

Uma política absolutamente preservacionista não aponta para o desenvolvimento. Investir na educação ambiental, prover a cidade de todos os requisitos para a manutenção de suas riquezas naturais – saneamento básico, água e esgoto -, criar programas de redução de consumo e de gestão de resíduos são algumas das frentes de trabalho.

E para os jovens, se o senhor pudesse dar um conselho, uma orientação sobre o futuro no mercado de trabalho da região, qual seria?

Educação, retidão de princípios e muita persistência.

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