DESAPARECIMENTO

Mãe de adolescente desaparecida em SP acredita em aliciamento por adulto e apela: “Volta pra casa”

Após desaparecimento, adolescente de 16 anos publicou vídeo nas redes sociais afirmando que saiu de casa espontaneamente e revelando conflito familiar. Mãe da jovem afirma que ela continua desaparecida e acredita que possa haver pessoa adulta aproveitando-se de vulnerabilidade da filha

Da redação
Publicado em 31/12/2021, às 12h37 - Atualizado às 14h51

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Yuliya (centro) e os cinco filhos, há três anos Mãe de adolescente desaparecida em SP acredita em aliciamento por adulto e apela: “Volta pra casa” Foto de mãe e cinco filhos - Imagem: Acervo familiar
Yuliya (centro) e os cinco filhos, há três anos Mãe de adolescente desaparecida em SP acredita em aliciamento por adulto e apela: “Volta pra casa” Foto de mãe e cinco filhos - Imagem: Acervo familiar

O desenlace do desaparecimento de uma adolescente de 16 anos em Mogi das Cruzes (SP), adquiriu contornos inacreditavelmente dramáticos nas últimas horas. Na madrugada de ontem, após permanecer desaparecida por cerca de 48 horas,  a jovem Lana Watanabe publicou um vídeo em seu perfil nas redes sociais, afirmando que estava bem, mas que não voltaria para casa.

“Eu vim aqui falar que eu não tô desaparecida. Nem fui sequestrada. Que eu saí por que eu quis e a minha mãe sabe disso”, afirma a adolescente no vídeo.

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Àquela altura, Lana fora vista pela última vez dois dias antes, na tarde do dia 27, entrando em um Pálio vermelho. A hipótese óbvia era de sequestro. Em desespero, a família dela já havia acionado a Delegacia de Homicídios de Mogi das Cruzes e a procurava intensamente, recorrendo às redes sociais, onde a notícia do desaparecimento espalhou-se como rastilho de pólvora. Milhares de pessoas propagaram um anúncio do desaparecimento divulgado pela mãe dela e torciam para que a jovem fosse reencontrada sã e salva.

Até que surgiu o vídeo.

Com a própria desaparecida negando seu desaparecimento, propalou-se rapidamente a notícia de que Lana havia reaparecido. O caso parecia encerrado. Porém, segundo a mãe dela, mesmo após o vídeo, Lana nunca retornou para sua casa no bairro Cézar de Souza e seu paradeiro continua desconhecido .

“A gente não sabe onde ela está”, disse, angustiada, a fisioterapeuta e instrumentadora cirúrgica de 45 anos, Yuliya Yashyna, mãe de Lana.

Yuliya, que é natural da República da Bielorrússia, no leste europeu, afirma que, desde a publicação do vídeo, a filha chegou a conversar por telefone com familiares, mas não com ela.   

Para complexificar ainda mais, junto do vídeo, Lana divulgou uma carta comovente, em que esgarça sentimentos conflituosos em relação à mãe, a quem a cortante correspondência teria sido endereçada antes do desaparecimento.

Carta da adolescente esgarça conflito familiar Carta Lana - Desaparecida em Mogi Carta (Imagem: Reprodução)

Lana publicou a carta na intenção de contradizer a notícia de seu desaparecimento. Em sua concepção juvenil, ter deixado uma carta para a mãe, sem dizer onde e com quem está, descartaria motivos para alarde.

O subtexto da carta, porém, enuncia muito mais. Além de revelar uma possível fuga de uma menor de idade de casa, a carta  também expõe um relacionamento fraturado entre mãe e filha - o que pode ter sido a motivação da adolescente.  

“Mãe tem dias que eu ando pensando muito, e apesar de eu admirar você como pessoa, não consigo ter essa admiração como mãe. Eu estou cansada de ser humilhada. Essas situações já me causaram diversos problemas e eu não quero viver pensando em morrer.  Vou tirar um tempo pra mim, porque essa situação está intolerável. Quem sabe esse tempo sirva pra você também. Fique tranquila pois vou estar bem [sic]”, dizem trechos da carta da adolescente.

Yuliya menciona a correspondência da filha com um peculiar sotaque estrangeiro embargado pela emoção. "Ela deixou uma carta falando que ela vai embora, que ela não tá satisfeita. Que ela não gosta de ser maltratada em casa e foi embora. Uma adolescente de 16 anos, pra onde foi embora? Como que ela está?“, questiona.

Mãe de duas filhas mais velhas e de um casal mais novo que Lana , Yuliya rechaça as sugestões de maus-tratos feitas pela filha na carta.

“Quando a gente corrige uma pessoa, às vezes o jeito da gente corrigir pode até machucar a pessoa. A Lana é uma menina muito sensível. Eu tenho cinco filhos. Duas que estão na faculdade federal. Uma faz medicina, outra terminou já a faculdade e tá morando sozinha. Tenho uma filha e um filho menores que ela também. E todos são maravilhosos, ela também.”

Segundo Yulya, Lana tem pré-diagnóstico de ansiedade e depressão e iniciou recentemente um acompanhamento psicológico. Com o vídeo da filha aparentemente descartando a possibilidade de sequestro, ela acredita que uma pessoa adulta possa ter se aproveitado da vulnerabilidade da filha e tê-la aliciado.

“A gente vê, pelo vídeo que ela tá num lugar bonito.  Quem está mantendo ela? A gente tem uma desconfiança [de que há adultos por trás]. A polícia tá fazendo a investigação”, afirma Yuliya.

Sob um teto cujo endereço sua família desconhece, Lana é enfática no vídeo. “O dia que eu quiser voltar, vou voltar, só que, por enquanto, não. Não queria passar a virada do ano naquele clima horroroso que estava com a minha mãe.”, justifica-se a adolescente.

Sobre as cortantes justificativas da filha, Yuliya expressa, ao mesmo tempo, perplexidade e compreensão.

“Ela tá precisando de ajuda. Isso que ela fez é um pedido de ajuda. Mas não sei mais como fazer, porque, de mim, ela não aceita nenhuma ajuda”, lamenta a mãe.

Ela conclui com um apelo à filha cujo paradeiro continua desconhecido até a manhã desta sexta-feira de virada de ano.

“A gente tá muito triste com essa situação. Todo mundo em casa está triste com isso, eu, minhas filhas, as tias, o pai, todo mundo tá triste com isso. Eu não esperava que ela fizesse isso. Eu gostaria muito que ela voltasse pra casa que a gente vai resolver esse problema juntas”. 

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