Meio ambiente

Instituto dedica-se à proteção e salvamento de animais marinhos no litoral norte

Centenas de tartarugas, golfinhos, pinguins, leões e lobos-marinhos já passaram pelo Centro de Reabilitação e Triagem de Animais Aquáticos (Cetas) onde são reabilitados para posterior soltura

Reginaldo Pupo
Publicado em 23/08/2018, às 08h22 - Atualizado às 17h18

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Reginaldo Pupo
Reginaldo Pupo

Desde julho de 1998, quando foi criado, o Instituto Argonauta para a Conservação Costeira e Marinha vem se dedicando à proteção e salvamento de animais marinhos que surgem, principalmente, nessa época do ano, em diversas praias da região, fadigados, desorientados ou feridos por ataques de outros animais ou embarcações. Alguns desses animais aparecem nas praias, sofrendo algum tipo de problema causado pelo homem. O mais comum é o encontro de sacos plásticos no estômago de tartarugas, que confundem este tipo de lixo com águas-vivas, que lhes servem de alimento. Há casos em que tartarugas foram encontradas mortas, após ingerir bexigas, e golfinhos, com tiras de chinelo presas ao focinho.

Centenas de tartarugas, golfinhos, pinguins, leões e lobos-marinhos já passaram pelo Centro de Reabilitação e Triagem de Animais Aquáticos (Cetas), no qual recebem avaliação veterinária, alimentação adequada e vitaminas, num processo de recuperação que, muitas vezes, pode durar seis meses. É o caso dos pinguins, que saem da Patagônia argentina e viajam cerca de dois mil quilômetros até os litorais sul e sudeste brasileiro, em busca de águas mais quentes e para se alimentar. Muitos deles se desgarram dos grupos devido ao cansaço e acabam sendo levados pelas correntezas até as praias da região. Muitos não resistem e morrem.

Alguns desses pinguins são encaminhados, posteriormente, ao Aquário de Ubatuba, entidade parceira, até que o processo de recuperação seja finalizado. O Instituto Argonauta é a única entidade credenciada pelo Ibama para realizar este tipo de trabalho.

GPS

Após o processo de reabilitação, os pinguins são soltos novamente, para que possam seguir caminho de volta para a casa. Mas nem sempre isso é uma tarefa fácil. Em janeiro de 2014, por exemplo, ao menos 37 deles foram soltos e monitorados por satélite por pesquisadores do Aquário de Ubatuba, Instituto Argonauta e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), de São José dos Campos (SP). Começava ali um projeto inédito no Brasil. Um dos pinguins, apelidado de "Capitão" pelos pesquisadores, em alusão ao desenho animado Madagascar, levou acoplado em seu dorso um GPS, em formato de antena, que permitiu o monitoramento em tempo real de sua localização e da temperatura corpórea e da água.

O oceanógrafo Hugo Gallo, diretor do Aquário de Ubatuba e coordenador das operações, explica: "Os pinguins passam por um longo processo de reabilitação, que, muitas vezes, chega a seis meses. Após recuperados, realizamos a soltura, mas não sabemos o que ocorre depois". A soltura mobilizou um navio-patrulha da Marinha do Brasil, com 34 tripulantes, além de veterinários e biólogos das duas entidades. A operação durou 15 horas e os animais foram soltos em uma localidade próxima às plataformas de petróleo do pré-sal. Segundo Gallo, o ponto de soltura foi previamente calculado pelo Inpe, com base em dados do satélite Argos, para que os animais encontrassem uma corrente marítima que os levasse de volta à costa da Patagônia argentina e ilhas Malvinas, de onde migraram para o Brasil. "É como se os deixássemos em um rio abaixo. Agora, a própria correnteza os leva de volta para casa".

Também nessa época do ano, o instituto monitora as aparições de baleias que circulam pelas águas do litoral norte, região que serve de rota para Abrolhos (BA), para aonde seguem com o objetivo de se reproduzir. Desde julho, cerca de 80 delas já surgiram no canal entre São Sebastião e Ilhabela, dando verdadeiro espetáculo. Ao menos duas apareceram mortas. Uma em Ilhabela, no último dia 10, e, outra, em Caraguatatuba, no último domingo, 19. Elas estavam em adiantado estado de decomposição.

Trabalhos educacionais

O Instituto Argonauta realiza trabalhos educativos junto às colônias de pescadores, comunidades tradicionais, profissionais da área, estudantes e comunidade em geral, que contribuam para a elaboração de uma rede de informações sobre as ocorrências desses animais, seguindo sugestão do Plano de Ação de Mamíferos Aquáticos do Brasil. A entidade também participa da Rede de Encalhes de Mamíferos Aquáticos no Sudeste (Remase) e da Rede de Encalhes de Mamíferos Aquáticos do Brasil (Remab). Desde sua fundação, já foram atendidos quase três mil animais, dos quais cerca de 40% foram reabilitados e devolvidos à natureza.

Os dados coletados nas ações desenvolvidas são convertidos em publicações científicas, por meio de pesquisas realizadas pela equipe técnica do Instituto Argonauta em conjunto com o Aquário de Ubatuba, e outras instituições com as quais são estabelecidas parcerias específicas para esse fim.

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