Espaço no qual são tratados os animais teria sido invadido durante procedimento de imissão de posse
O trabalho desenvolvido pela veterinária Rafaela Cassaniga, junto aos animais silvestres de Bertioga, foi ameaçado na quinta-feira, 28. Segundo explicado pelo advogado Paulo Passari, parte do terreno foi penhorado, no entanto, o arrematante, acompanhado por um oficial de justiça e sua advogada, teria invadido a área dos fundos do imóvel, não constante na matrícula da decisão judicial. Rafaela conta que a intenção deles era de cumprir a imissão em todo o terreno, tornando arbitrário o procedimento. “Temos esse terreno de posse há mais de 30 anos, era da minha avó, ela deixou para eu conseguir fazer meu trabalho. Montamos a clínica, que é toda regulamentada e recebe apoio da prefeitura”.
O maior problema, destacou, foi a maneira como os responsáveis agiram. Além de ofensas proferidas, Rafaela conta que a advogada da outra parte quase quebrou a asa de um gavião em tratamento, ao abrir sua gaiola de forma abrupta. “O que mais coloca os animais em risco é toda a confusão e o furdunço que eles causaram. Foi tudo registrado, documentado, e os animais têm que permanecer aqui, porque, nessa área, temos a posse”, diz.
A entidade atende, atualmente, a 40 animais silvestres e conta com uma média anual de 100 atendimentos. “Tem animal que está aqui há algum tempo, que eu não consigo destinar, e tem animal que chegou recentemente. Eles só vêm superpolitraumatizados. Nenhum animal é trazido aqui porque alguém capturou. Eu só atendo animais em risco, faço cirurgias, tenho equipamento e tudo o mais. Se esses animais não são atendidos [rapidamente], eles acabam morrendo no transporte, porque é muito longe”. Para o desenvolvimento deste trabalho, a veterinária possui documentação.
No mesmo dia, os advogados de Rafaela conseguiram garantir, junto ao Fórum de Bertioga, a servidão de passagem para que ela possa continuar a desenvolver seu trabalho na área da posse. Anteriormente, o advogado Paulo Passari já havia entrado com uma ação de interdito proibitório, a fim de proteger a posse do terreno. A audiência está agendada para o dia 2 de agosto.
Animais selvagens
A imissão de posse não foi cumprida na data, mas deve ser agendada para outra ocasião. O responsável pela Diretoria de Operações Ambientais, Nelson Jorge de Castro, acompanhou a tentativa de remoção na área, e ressalta a necessidade do cuidado neste tipo de procedimento. Ele alerta que um dos animais em observação no local poderia ter morrido devido ao estresse.
Questionado sobre a possibilidade de precisar remover os animais do local, Castro afirma que, se for preciso, buscarão uma solução, no entanto, falou categoricamente que o ideal é que eles permaneçam no espaço, no qual funciona a Ong Full Forest & Ocean, por haver animais em fase de recuperação. Ele emenda: “Vamos trabalhar para que eles não saiam daqui”.
Também no local, o presidente da Câmara, o vereador Ney Lyra, verificou a documentação do imóvel e constatou realmente que a área posterior não consta na matrícula. “Temos que entender, proteger os animais silvestres que estão aqui e achar uma solução. Não pode, dessa forma que eles vieram, querendo pegar tudo, tirar todos os animais. Queriam ganhar na mão grande e nós orientamos todo mundo que tem que cumprir a decisão”.
O vereador enalteceu e ressaltou a necessidade da ONG. “A Rafaela desenvolve um grande trabalho, ela recebe animais atropelados e põe dinheiro do bolso. Ela tem um pequeno apoio, mas mantém esse trabalho há anos. Ela é a única entidade na região que recebe animais acidentados. Neste momento, precisamos ver a questão do respeito aos animais, ter cautela com a saúde deles. Os animais são silvestres e, se retirar, não vai ter local. Onde eles seriam cuidados? A prefeitura também precisa achar um local para podermos dar o devido atendimento a esses animais”.
A ONG busca apoio para a criação de novos recintos e, quem puder colaborar, pode procurar a veterinária Rafaela Cassaniga em sua página no Facebook.
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