Saúde

Ilhabela registra surto de diarreia e virose

Em apenas 13 dias, ao menos 506 pessoas deram entrada no hospital Mário Covas Jr., único da cidade

Reginaldo Pupo
Publicado em 17/01/2019, às 08h39 - Atualizado em 23/08/2020, às 18h19

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Pacientes aguardam por atendimento no Hospital Mário Covas, em Ilhabela, na tarde desta quarta-feira, 16 - Reginaldo Pupo
Pacientes aguardam por atendimento no Hospital Mário Covas, em Ilhabela, na tarde desta quarta-feira, 16 - Reginaldo Pupo

Com praias impróprias para o banho de mar na última semana, segundo levantamento da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) – 18 das 19 avaliadas estavam poluídas na primeira semana de janeiro -, Ilhabela vem registrando aumento no número de casos de moradores e turistas com sintomas diarreicos.

De acordo com a secretaria municipal da Saúde, em apenas 13 dias -  de 23 de dezembro a 5 de janeiro – ao menos 506 pessoas deram entrada no hospital Mário Covas Jr., único da cidade, com queixas sobre diarreia e virose. Ao menos 196 dessas pessoas eram turistas, segundo a pasta.

De acordo com a Vigilância Epidemiológica de Ilhabela, o número de casos caracteriza surto e é superior aos atendimentos da temporada passada, entre dezembro de 2017 e fevereiro de 2018, mas a Secretaria da Saúde não soube precisar a quantidade de atendimentos.

Segundo a prefeitura, o arquipélago recebeu 120 mil turistas somente no Réveillon e a previsão é de que 400 mil pessoas visitem a cidade até o Carnaval.

Com tantos casos, moradores e turistas lotam o hospital desde o início do ano. Muitos dos pacientes estão sendo atendidos no corredor principal da unidade, que dá acesso aos consultórios.  Cinco médicos, entre eles dois pediatras, se revezam 24h por dia para atender à demanda.

O ajudante de pedreiro Elias Vicente Macedo, 41, morador de Ilhabela, viu seu filho de quatro anos entrando nas estatísticas. Ele conta que há cerca de 10 dias, esteve na praia com ele, onde tomaram banho de mar. “Depois de dois dias, ele apresentou febre, vômitos e reclamou de coceira na pele”, disse ele, enquanto aguardava atendimento.

Turismo afetado

O surto também afastou turistas, segundo empresários que preferiram não se identificar, pois teriam sido instruídos pelo trade hoteleiro a não falar sobre o surto, para não afastar visitantes.

Um deles, proprietário de uma pousada, afirmou que 30% dos seus hóspedes tiveram problemas de saúde durante a estadia, entre adultos e crianças. “Muitos anteciparam a volta para casa. É muito esgoto jogado no canal de São Sebastião”, queixou ele.

O problema motivou um iate clube da cidade a emitir um comunicado recomendando aos associados, a maioria turistas, que evitem tomar banho de mar, “já que o esgoto de Ilhabela continuará sem tratamento e descartado em um emissário de mil metros em frente a (praia de) Itaquanduba”, diz o Pindá Iate Clube, no comunicado. Apesar do número confirmado de casos pela Secretaria da Saúde, a prefeitura emitiu nota desmentindo o documento.

Tratamento de esgoto

A Sabesp informou que deverá entregar à prefeitura de Ilhabela seu plano de investimentos para os próximos seis anos, que totalizam R$ 160 milhões. Segundo o superintendente da estatal no litoral norte, José Bosco Fernandes de Castro, são cerca de R$ 90 milhões para reforço do sistema de abastecimento e R$ 70 milhões para coleta e tratamento de esgotos. “Com esses investimentos, em conjunto com a prefeitura, vamos universalizar o atendimento no município em 100%”.

Sobre a poluição das praias por esgoto, o assistente executivo da diretoria de sistemas regionais da Sabesp, João César Queiroz Prado, afirma que é prática comum casas localizadas em áreas irregulares despejarem o esgoto nas galerias pluviais e rios, que acabam chegando ao mar com a ocorrência de chuvas. “Há também as áreas de moradias irregulares, onde a Sabesp é impedida por lei de prestar serviços de saneamento, e que fazem todo tipo de descarte nos corpos hídricos”.

Diante das centenas de casos de diarreia, a Sabesp disse garantir a qualidade da água em Ilhabela. “É pratica comum no litoral norte o uso de fontes alternativas de abastecimento de água, como a captação direta de cachoeiras, bicas, rios e poços. Isso acaba comprometendo a qualidade garantida pela Sabesp quando misturadas ao seu produto”, explicou Prado.

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