Obra está embargada há três meses depois de decisão judicial; prefeitura alega ser uma “obra artística, que pretende enaltecer um dos símbolos culturais principais da cidade”
Depois da negativa da Justiça, a prefeitura de São Sebastião apresentou, no dia 5 de junho, argumentos pelos quais espera convencer o juiz André Quintela a liberar o monumento do santo padroeiro da cidade.
A obra tem valor de R$ 3,1 milhões e está embargada há três meses, depois que o juiz acatou pedido da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos.
No processo, a prefeitura alega ser uma “obra artística, que pretende enaltecer um dos símbolos culturais principais da cidade”. A prefeitura diz que a construção, em um mirante no Varadouro, vai fomentar o turismo. “Possibilitará que as pessoas, que estiverem chegando nos navios, possam desfrutar da vista dessa obra (do mar para o continente). A vista de Ilhabela também poderá ser apreciada, bem como a própria obra, que será majestosa, e por si só atrairá muitos turistas”, acredita.
Para arcar com o custo de R$ 3,1 milhões, a administração conta com repasses do Dadetur (órgão do Governo do Estado), que arcaria com 90% do valor. Parte do orçamento anual do Dadetur é constituído por arrecadação de impostos municipais.
A Prefeitura aponta ainda “participação popular” na decisão de construir a estátua. Essa participação teria ocorrido por meio do Conselho Municipal de Turismo (Comtur), que aprovou a obra, em junho do ano passado.
O Comtur é formado por representantes do governo e da sociedade. Na reunião em que a obra foi aprovada, sete membros da sociedade participaram.
A “participação popular”, naquela reunião, foi completada por: Edson Pavão (secretário de Turismo no primeiro ano do governo), Marco Perroti (dono de hotel em Maresias), Mauricio Tedesco (dono de pousada em Maresias), André Teston (sócio do Porto Grande Hotel, atual presidente da associação de pousadas de Maresias), Celso Gebaile (dono de marina) e Luiza Monteleone (da agência Green Way).
O Ministério Público ainda deve se manifestar no processo, antes de o juiz julgar o caso.
Opinião
O Sistema Costa Norte de Comunicação conversou com alguns integrantes da comunidade católica para saber a opinião dos fiéis sobre o polêmico tema.
“Sou católico, mas não praticante e totalmente contra. O foco da nossa cidade nunca foi o turismo religioso. A gente nunca teve um evento forte relacionado ao santo padroeiro (exceto a barraca de bingo no verão e a feirinha). O dinheiro que conseguiram foi por meio de emenda parlamentar. Então, porque não usam os mesmo três milhões pra restaurar o convento do bairro São Francisco que está caindo aos pedaços e clama por adequações?”, questionou um católico.
“Construir uma estátua de 40 metros, maior que o Cristo Redentor, símbolo da religiosidade do brasileiro, é muita pretensão”, concluiu.
Uma outra fiel também discorda. “Não sou a favor, mesmo que a justificativa seja atrair o turismo. O turismo religioso tem como motivação fundamental a fé das pessoas. Assim como o Círio de Nazaré no Pará e várias romarias pelo Brasil, esse tipo de turismo é ligado, principalmente, ao calendário de acontecimentos religiosos das localidades. Ou seja, seria necessário primeiro garantir o fluxo de peregrinos. Acho que deve haver outros esforços, antes desse, visando que a cidade se torne um potencial turístico desse segmento”, disse.
“Mesmo se for 10% do valor, a prefeitura estaria gastando o dinheiro público com algo voltado a uma religião específica. Portanto, é errado”, afirmou outra.
Outro lado
O Sistema Costa Norte de Comunicação procurou a prefeitura de São Sebastião para ter um posicionamento oficial sobre o caso, mas não obteve resposta até o fechamento desta reportagem, às 15h.
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