Ressaca de um feriadão; quebra do mercado de ouro, pesadelo de policiais com cidade lotada em dia de clássico; conheça as curiosas origens da data que hoje é sinônimo de compra
Ocorrida pela primeira vez no Brasil em 2010 - com a modesta participação de 50 lojas vendendo somente online - em uma década, a Black Friday se consolidou como um dos mais importantes eventos do calendário comercial nacional. Por aqui, ela foi disseminada como sinônimo de promoção com descontos vultosos.
Importada, a Black Friday acontece sempre após o Dia de Ação de Graças, o mais importante feriado dos Estados Unidos, celebrado na última quinta-feira de novembro como uma data em que as pessoas se reúnem para banquetear e agradecer.
Mas você sabia que, nas origens, a Black Friday também se relaciona com outros eventos históricos? Além de apelido de ressaca do feriado, o termo também é associado a reclamações de policiais por uma cidade cheia em dia de clássico do futebol americano e a uma irônica quebra do mercado do ouro no século XIX.
Uma das origens do termo Black Friday faz referência à dita síndrome da sexta-feira depois do dia de Ação de Graças. Uma vez que o feriado é comemorado na quinta, muitos funcionários de empresas faltavam na sexta, e alegavam estarem doentes.
O pesquisador Bonnie Taylor-Blake, da Universidade da Carolina do Norte, afirma, em entrevista à BBC News, que a Factory Management and Maintenance, uma instituição ligada ao mercado de trabalho, reivindica ter usado o termo em 1951 em um ácido memorando que descrevia o fenômeno.
"A síndrome da sexta-feira após o Dia de Ação de Graças é uma doença cujos efeitos adversos só são superados pelos da peste bubônica. Pelo menos é assim que se sentem aqueles que têm de trabalhar quando chega a Black Friday. A loja ou estabelecimento podem ficar meio vazios e todo ausente estava doente", descreve.
Também na década de 1950, o termo Black Friday era usado por policiais da cidade de Filadélfia em referência à sexta-feira entre o feriado de Ação de Graças e o sábado.
Tradicionalmente, no sábado após o feriado, a cidade recebe um clássico de futebol americano que arrasta multidões de turistas de todo o país à cidade. Com isso, os policiais tinham de enfrentar longas jornadas de trabalho na sexta para controlar o trânsito e a multidão.
Uma outra origem do termo é ainda mais antiga. Em 1869, dois especuladores de Wall Street, o coração financeiro dos EUA, resolveram bancar os espertalhões e compraram grandes quantidades de ouro, esperando vender por preços bem maiores.
Porém, para controlar a oscilação da moeda, o governo dos EUA também comprou muito ouro. Com ouro demais no mercado, a oferta superou a procura e o preço despencou. Em uma sexta-feira, o mercado de ouro quebrou, levando diversas empresas e investidores à falência. Advinhe? A data também foi apelidada de Black Friday.
Apesar das origens distintas, você deve ter notado que o termo Black Friday - sexta-feira negra em português - foi associado a aspectos não muito legal das datas. Tal como o Brasil, os Estados Unidos é marcado por uma tradição linguística de associação do adjetivo ‘negro’ a aspectos negativos de qualquer coisa.
Curiosamente, isso muda um pouco na associação da data com as vendas. O termo Black Friday como o conhecemos também nasceu na Filadélfia, nos anos 80. Se, por um lado, a cidade lotada de turistas era o pesadelo dos agentes de segurança, por outro, ela era o sonho dourado dos comerciantes.
Com a cidade abarrotada, os lojistas começaram a fazer promoções para disputar os visitantes e vendiam mais que pãozinho quente. Nos Estados Unidos, quando as anotações financeiras eram preenchidas à mão, o prejuízo era preenchido de vermelho e o lucro de preto.
Acredita-se que Black Friday para os comerciantes da Filadélfia era sinônimo de muitas vendas em referência ao preenchimento dos balancetes. Por anos a Black Friday ficou restrita à cidade. Em 2005, porém, a data já havia se espalhado por todo os Estados Unidos e ganhou o mundo.
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