Meio ambiente

Esgoto clandestino ameaça praia de Maresias

Denúncia da Associação de Amigos Canto do Moreira aponta dez pontos comprovados de descarga de esgoto e outros 15 suspeitos

Reginaldo Pupo
Publicado em 19/09/2018, às 13h00 - Atualizado em 23/08/2020, às 17h27

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Reginaldo Pupo
Reginaldo Pupo

Um trecho da praia de Maresias, em São Sebastião, uma das mais badaladas do litoral brasileiro, está poluído por esgoto, despejado clandestinamente in natura no mar, segundo a Associação de Amigos Canto do Moreira (AACM). O lugar reúne gente bonita e endinheirada e está localizado em uma região que concentra grande parte do empresariado que forma o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro e com um dos metros quadrados mais caros do país.

Segundo a entidade, o rio existente no canto direito da praia, conhecido como Canto do Moreira, possui diversos pontos de descarga, provenientes de casas simples, de médio padrão e de condomínios de luxo. Segundo Rony Figueiredo, membro da associação, o problema é antigo. “Temos laudos que comprovam que os despejos ocorrem pelo menos desde 2008. Já realizamos diversas denúncias à prefeitura". Ele pretende encaminhar as demandas também para a Cetesb e os ministérios públicos Federal e Estadual.

O último estudo feito pela AACM identificou dez pontos comprovados de descarga de esgoto e outros 15 suspeitos. Alguns dos canos de PVC ou manilhas são camuflados, enterrados ou escondidos sob a vegetação, para dificultar a fiscalização. Uma placa instalada pela associação, à beira do rio, informa sobre a poluição do local.

Mesmo com a placa, o publicitário Maurício Sena Alves, 31 anos, e a namorada Regina Dantas da Silveira, 28, recolhiam conchinhas exatamente no local onde o rio deságua no mar, no último fim de semana. Eles não sabiam sobre a poluição. “A água é tão limpinha que é difícil acreditar que jogam esgoto aqui”, disse Regina, que utilizaria as conchinhas para trabalhos artesanais.

Ao ouvir a conversa do casal com a reportagem, o surfista Pedro Lima, 22, que surfava pela primeira vez em Maresias, disse ter ficado “chocado” com a informação. “É lamentável que uma praia tão famosa esteja nessa situação. Pior que surfei o dia todo aqui e não sabia (sobre o despejo de esgoto)”, lamentou.

“Caça-esgoto"

 A associação afirmou que adquiriu kits “caça-esgoto” e os doou à prefeitura, para auxiliar na fiscalização. Apesar da poluição do mar, a Cetesb classifica a praia de Maresias como própria para o banho. Milhares de turistas são esperados para essa temporada de verão, a partir de 26 de dezembro até o Carnaval.  O problema, segundo o engenheiro agrônomo André Mota Waetge, outro membro da AACM, é que a companhia realiza a coleta de amostras da água no meio da praia, enquanto o esgoto é despejado nos dois extremos.  “Por isso, a bandeira sempre aparece verde e o turista acredita que a água está limpa”.

A Cetesb informou, por nota, que segue critérios técnicos para a definição dos pontos de amostragem e que, desde março desse ano, um novo ponto de coleta, localizado em frente à Travessa Quinze, passou a fazer parte do programa de balneabilidade.

A prefeitura de São Sebastião informou que realiza ações de fiscalização em todas as praias, atendendo denúncias. Somente em 2017, foram gerados 178 autos de fiscalização por causa de lançamento de efluentes não tratados em corpos d’água ou galerias pluviais. Nas ações, segundo a administração, foram detectadas suspeitas de lançamento em sete imóveis no Canto do Moreira. Para três deles, foram abertos processos administrativos com aplicação de um auto de multa. O valor não foi divulgado.

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