Em média 1500 indígenas vivem no litoral norte, todos são da etnia Guarani e compartilham seus saberes tradicionais por meio de visitações agendadas
Gabriela Petarnella
Publicado em 21/09/2023, às 08h56
O litoral norte paulista não apenas encanta pela sua beleza natural, mas também abriga uma riqueza cultural profunda presente nas comunidades originárias que ainda resistem nessas terras. As atividades turísticas e culturais ganham destaque, por oferecer aos visitantes a oportunidade única de mergulhar nas tradições e na biodiversidade preservada dessas comunidades.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que, das quatro cidades do litoral norte paulista, Ubatuba tem a maior população originária e dos 92.980 habitantes, 643 deles são indígenas; já em São Sebastião, o censo apontou que dos 81.840 habitantes, 478 deles são indígenas. Apesar de não existirem aldeias ativas nestas cidades, Caraguatatuba também figura no censo, com 262 indígenas entre os 134.875 moradores, enquanto Ilhabela, com uma população de 34.934 habitantes, abriga 112 indígenas.
Aldeia Renascer: A aldeia Ywyty Guaçu, localizada no Pico do Corcovado, em Ubatuba, é habitada por aproximadamente 80 pessoas, das quais 20 famílias da etnia Tupi-Guarani (Ñandeva). A aldeia possui uma área de 2.500 hectares, cercada por uma biodiversidade preservada e recebe regularmente visitas de interessados em conhecer a cultura indígena como fonte alternativa de renda. As visitas podem ser agendadas pelo site ou pelo número (12) 99761 1030.
A fonte primária de renda é a promoção de projetos de repercussão nacional, como a Confederação dos Tamoios e a Paz de Iperoig, além de trabalhos artesanais e culturais que valorizam a cultura indígena e preservam o meio ambiente. Atualmente, a aldeia tem acesso a uma escola de educação infantil e EJA (Educação de Jovens e Adultos), onde os alunos têm aulas bilíngues, além de um posto médico e um centro cultural onde os eventos acontecem.
Aldeia Boa Vista: A aldeia Tekoa Jaetxáa Porã, localizada na região norte de Ubatuba, é formada por índios da etnia Guaraní. Com pouco mais de 900 hectares, atualmente, cerca de 62 famílias, aproximadamente 290 indígenas, habitam a aldeia. A principal fonte de renda da comunidade é a venda de artesanatos e a produção de palmito e, como segunda fonte de renda as visitações que podem ser agendadas com Luiza Keretxu (12) 99618 8595, Valdecir Wera-Mirim (12) 99700 0653, ou por e-mail em [email protected].
A aldeia da nação guarani mantém suas tradições e identidade enquanto se enquadra à sociedade urbana e hoje conta com uma escola estadual que oferece ensino infantil até o ensino médio, além de um posto médico. Neste sentido, a aldeia também investiu em energia solar, saneamento básico e serviços de saúde, melhorando a qualidade de vida de seus habitantes.
O acesso à aldeia Boa Vista é pela rodovia Rio-Santos (BR-101), Km 29,5, sentido Ubatuba-Paraty, cerca de 500 metros antes da Cachoeira do Prumirim. A entrada para a aldeia está a cerca de 1,5 km por uma estrada íngreme de terra até a antiga Escola Estadual Indígena.
Aldeia Rio Bonito: Reconhecida oficialmente pela Funai em 2012, a aldeia Rio Bonito, ou Yakã Porã, é considerada uma extensão da Boa Vista. Atualmente ela abriga 47 pessoas em 12 famílias, todos Guarani Mbya. Sua criação teve como objetivo proteger a diversidade e evitar invasões de caçadores e madeireiros, e a agricultura é a principal fonte de renda, com cultivos de batata-doce, milho, feijão, mandioca e banana.
Embora não haja infraestrutura suficiente para receber turistas na Aldeia Rio Bonito, a liderança local planeja projetos de turismo no futuro como fonte de renda adicional. Porém, devido à sua relativa juventude, a aldeia não possui escolas, centros ou postos de saúde, e os indígenas precisam se deslocar à Aldeia Boa Vista para acessar esses serviços.
Terra Indígena Rio Silveira: A terra indígena, localizada na divisa entre São Sebastião e Bertioga, é o lar de cinco aldeias que abrigam cerca de 400 índios das etnias Guarani Mbya e Tupi-Guarani (Ñandeva). Aqui, a história e a cultura indígena continuam vivas. As famílias encontram sustento no cultivo do palmito pupunha, na venda de artesanato e plantas ornamentais às margens da rodovia Rio-Santos.
A comunidade conta com atendimento nas áreas de Educação e Saúde, com uma escola para as crianças e a notável conquista de ser a primeira do país a ter com uma escola municipal e estadual. O território é demarcado desde 1987 por decreto, e hoje há um processo de expansão de suas terras, solicitado pela FUNAI, que visa aumentar de 944 hectares para 8.500 hectares, embora esteja paralisado desde 2010. Em 2005, a CDHU construiu 59 casas de alvenaria na aldeia, porém, o abastecimento de água ainda é limitado às casas próximas a estrada.
Visitas monitoradas são oferecidas no local, permitindo que os interessados conheçam de perto a cultura, a biodiversidade da reserva e a alimentação típica. A comunidade vive dentro das suas ocas ou casas, feitas com madeira de "palmeira-pati" e algumas de alvenaria.
Os agendamentos podem ser feitos com o cacique Adolfo pelo telefone (11) 94231 7570. Há uma taxa de inscrição para o passeio e alimentação de R$200,00 por pessoa. Artesanatos também podem ser comprados online, no Instagram @mari.paramirim, com entrega pelos correios.
Gabriela Petarnella
Jornalista formada pelo Centro Universitário Módulo. Possui experiência em videorreportagem e fotojornalismo