Por Antonio Pereira
[dropcap font="arial"]H[/dropcap]á um mês do início do período de defeso do crustáceo, encontrar o camarão branco, uma das espécies mais caras, comercializado abaixo dos 10cm considerados ideais pelo Ministério da Pesca e Aquicultura já não é novidade nas bancas da Baixada Santista. A pesca de filhotes quebra o ciclo da reprodução, o que pode resultar em sua na redução e consequentes preços mais altos para o consumidor.
De acordo com o presidente da Colônia dos Pescadores Z-23 de Bertioga João do Espírito Santo, o ideal seria uma ampliação do período do defeso, para o camarão ter um período maior para crescer, mas só isso não basta. Ele explicou: “O pescador tem que se conscientizar e não fazer o arrasto tão perto da costa. Antigamente, há 10 anos, tinha muito mais camarão e, hoje, a gente já sente o reflexo dessa pesca errada. A tendência é diminuir cada vez mais”.
Em Santos, na conhecida rua do peixe (rua Áurea Gonzalez Conde), na Ponta da Praia, local com tradição de pescados frescos, provenientes da própria região, alguns comerciantes, como Fabiano Bispo dos Santos, trabalham com o camarão criado em cativeiro, uma alternativa trazida do Nordeste, para os períodos de defeso, mas que agora é adotada o ano inteiro. Ele disse: “Atender a nossa demanda não é fácil, porque o movimento aqui é grande e os pescadores não conseguem trazer a quantidade que precisamos, então nós compramos de criadores aqui mesmo da região”.
Apesar de habitarem águas mais profundas na fase adulta, o desenvolvimento dos camarões brancos, segundo o oceanógrafo e diretor do Instituto Maramar Fabrício Gandini, acontece em locais rasos, próximos à costa, local onde eles permanecem enquanto filhotes, para engordar e, somente após esse processo de crescimento, eles retornar para as águas fundas. É justamente no retorno que eles correm o risco de ser pescados pelas frotas de arrasto artesanal ou industrial, que, muitas vezes, buscam outras espécies, como o sete barbas.
Para Gandini, uma forma de se evitar a extinção ou redução na quantidade do camarão é o zoneamento regional discutido com o setor produtivo, em vez de normas que se aplicam para três ou quatro estados, com realidades distintas. “Na prática, o que se precisa é definir espaços no mar e políticas diferenciadas por região. Não dá para se aplicar a mesma norma do Rio de Janeiro ao Rio Grande do Sul, porque, apesar de falarmos dos mesmos personagens (camarões), o comportamento deles é diferenciado em cada local pelo clima, pelo estuário e outros fatores”.
Procurado pela reportagem, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) não se pronunciou sobre o assunto. O período de defeso do camarão nas regiões Sudeste e Sul do país é estabelecido pela instrução normativa 189/2008 e vigora entre os dias 1° de março a 31 de maio.
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