Um bicho pequeno, que pode até transmitir doenças, se torna esperança no combate ao câncer. Pesquisadores do Instituto Butantan, em São Paulo, descobriram, a partir de estudos com a saliva do carrapato realizados por 10 anos, uma proteína que destrói células tumorais. Testes feitos em camundongos já comprovaram a eficação da molécula, desenvolvida a partir da glândula que produz a saliva. A expectativa, agora, é pelo sinal verde da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para iniciar testes em humanos. Veja a seguir a entrevista com a pesquisadora e coordenadora do estudo, Ana Marisa Chudzinski: Como começaram os estudos com o carrapato? A pesquisa começou olhando a saliva do carrapato, buscando um anticoagulante. Quando descobrimos o inibidor, vimos que não dava para trabalhar seriamente com a quantidade de saliva obtida. Fizemos uma análise dos genes expressos na glândula salivar do carrapato e concluímos que um desses clones poderia resultar numa proteína que poderia ter a atividade anticoagulante.
Quando apareceram os primeiros resultados contra células cancerígenas? Resolvemos testar a proteína tanto em cultura de células normais quanto em cultura de células tumorais. E a surpresa foi muito grande, porque a proteína, visualmente, não fez nada nas células normais mas matou as células tumorais. Produzimos um tumor em animal, tratamos com a proteína e verificamos que o tumor regrediu. Os animais ficaram 180 dias no laboratório muito bem, sem rescidiva do tumor e sem indício que aquilo havia afetado qualquer coisa normal do animal.
Sobre quais tumores a proteína mostrou eficácia? Testamos em algumas culturas de células humanas, melanoma, tumor de pâncreas, que não tem tratamento fora cirurgia, de mama e renal, esse em camundongos. Em todos a proteína funcionou. O maior número de resultados que a gente tem é em melanoma.
Existe previsão para o início de testes em humanos? A Anvisa determinou novos testes em animais, são testes de segurança seguindo padrões internacionais. Se tudo der certo, entre 6 e 8 meses devemos ter os resultados para entregar à Anvisa, que deve analisar se está de acordo e suficiente para permitir testes em humanos.
O que essa descoberta representa para o Estado de SP e o Brasil? Um avanço, uma mudança de patamar. A descoberta em si é legal, agora, se chegarmos no produto representa uma mudança de patamar biotecnológico, porque o Brasil nunca desenvolveu um produto com essa característica. Prova que é possível a gente sair de uma descoberta num instituto do Governo do Estado de São Paulo, financiado por ele, e isso poder virar um medicamento. Se o Estado sair na frente com isso, ele sai por ele e leva o Brasil.
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