caso daniel

Bebê morre por falta de vaga na UTI Neonatal

Daniel tinha pneumonia e insuficiência respiratória aguda e faleceu aos 21 dias no Hospital de Bertioga

Marina Aguiar
Publicado em 04/05/2018, às 12h07 - Atualizado em 23/08/2020, às 16h46

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Daniel esperou por vaga em UTI Neonatal por 21 dias e não resistiu - Arquivo pessoal
Daniel esperou por vaga em UTI Neonatal por 21 dias e não resistiu - Arquivo pessoal

O bebê Daniel, de apenas 21 dias, faleceu na madrugada de quarta-feira, 2, no Hospital de Bertioga, enquanto sua mãe aguardava a transferência do recém-nascido para uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal. Segundo a mãe Bianca Rodrigues dos Santos Marques, 29 anos, Daniel estava com pneumonia e tinha insuficiência respiratória desde que nasceu. "Com sete dias de vida, ele começou a tossir e espirrar, eu levei ele no hospital, ele foi bem atendido e voltamos pra casa. Uma semana depois ele piorou, a médica disse que era bronquiolite e que ele tinha que ser transferido com urgência", descreveu a mãe.

Bianca afirmou que, no dia do diagnóstico, a médica que o atendeu deu entrada na Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde (Cross), mas não conseguiram vagas em nenhum hospital com UTI Neonatal. "É um absurdo! Eles disseram que não tinha vaga, mas, por que não disponibilizaram a vaga em um hospital particular pro meu filho? Eu sei que é um direito do usuário do SUS", criticou.

Enquanto aguardava a vaga, desde o dia 25, Daniel era atendido na sala de emergência em meio a diversos pacientes. "Vai chegando outros casos de acidente, adulto, contaminação. Você não sabe de onde que tá vindo, e o meu filho ali no meio. Mas não podia deixá-lo na maternidade, lá em cima, porque não tem médicos de plantão como lá embaixo. Não culpo o hospital, a equipe foi ótima comigo e com meu filho, até se apegaram ao Daniel, mas ele precisava da transferência".

Questionada sobre o local de internação do bebê, a prefeitura de Bertioga não respondeu à reportagem e publicou uma nota de pesar no Facebook do órgão, na tarde de quarta-feira, 2, no qual se solidariza com a família de Daniel e informa que o Hospital de Bertioga tomou os "cuidados possíveis de média complexidade ao alcance do município". A prefeitura também afirmou que o estado é culpado pela falta de vagas e pela falta de recursos em saúde: "O Estado não repassa para Bertioga nenhum financiamento para o serviço médico. Mais de 90% do custeio da saúde na cidade é feita pelo município, o restante é transferência do Ministério da Saúde. É função do Estado atender a demanda de alta complexidade". 

Em resposta, o Departamento Regional de Saúde (DRS) da Baixada Santista informou que a região conta com a "Central de Regulação da Baixada Santista para auxiliar na busca por vagas para pacientes que necessitam de atendimentos específicos e de maior complexidade. (...) Para tanto, a Central observa as vagas disponíveis nos serviços de referência, e mantém os casos sob monitoramento da equipe médica, acompanhando aspectos clínicos dos pacientes. Por isso, é fundamental que, no que tange aos hospitais sob gestão dos municípios, é fundamental que as Secretarias Municipais de Saúde mantenham a responsabilidade e controle dos leitos disponíveis, abastecendo correta e continuamente o sistema da Cross em relação à disponibilidade das vagas".

Quanto ao caso do bebê Daniel, informaram que a Central da Baixada acionou todas as unidades de referência para o caso. "A Central acionou, inclusive, a Cross, que apoia o serviço regional quando é necessário buscar recurso em outra região do Estado, e também contou com apoio do Departamento Regional de Saúde (DRS) da Baixada Santista, reunindo esforços para viabilizar a transferência". O departamento afirmou que é necessário que o paciente apresente condições clínicas de ser transferido, com quadro estável e livre de infecções, por exemplo.

Em contrapartida, a mãe Bianca procurou nossa redação e explicou que foi informada de que seu filho não tinha condições de ser transferido. "Mas ele tinha, sim, no início. No início, dava para transferir ele. Dava para ter salvo a vida dele", declarou, informando que irá processar o estado pela perda. "Isso não vai trazer meu filho de volta, mas eu vou processar. Quem sabe eu fazendo isso, outras mãezinhas não passem pelo o que eu passei", lastimou.

Leitos

Por meio de nota, a Secretaria de Saúde do governo do estado esclareceu "que investe continuamente no fortalecimento da saúde e implantação de novos leitos na região da Baixada Santista, a exemplo do investimento estadual para a implantação do Hospital dos Estivadores, de Santos, e da inauguração do novo prédio do Hospital Regional de Itanhaém. Atualmente, na Baixada, o Estado mantém sete unidades de atendimento de caráter regional. Somente em 2017, foram destinados R$221,9 milhões do tesouro estadual para custeio dessas unidades".

Segundo a Secretaria, o SUS na Baixada Santista conta com 57 leitos de UTI Neonatal em funcionamento, 24 a mais do que o preconizado para a região, conforme a portaria federal que estabelece os parâmetros assistenciais. O total inclui 18 novos leitos de UTI Neo na região, que estão em funcionamento, custeados pelo governo do estado. 

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