Ausência do serviço de resgate a vítimas do DER amplia tempo de atendimento a acidentes


Estela Craveiro
Publicado em 04/11/2017, às 13h25 - Atualizado em 23/08/2020, às 16h13

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Estela Craveiro
Estela Craveiro
Em Bertioga, a sobrecarga de trabalho gerada pelos acidentes na Rio-Santos e na Mogi-Bertioga levou a Secretaria de Saúde a liberar uma ambulância de apoio ao Samu neste feriado prolongado; e deputados e vereadores somam forças com o prefeito Caio Matheus na briga pela volta do serviço na Rio-Santos

Da meia-noite de quarta-feira última, 1, até o meio-dia deste sábado de feriado prolongado do Dia de Finados, 240 mil veículos haviam descido para a Baixada Santista e 128 mil haviam subido para a capital paulista. Números menores do que se costuma ver em feriadões de sol. Talvez porque neste domingo tem o exame do Enem, talvez porque muitas famílias priorizaram ir aos cemitérios reverenciar seus mortos, talvez porque as pessoas ainda não receberam os salários pagos no quinto dia útil do mês.

Provavelmente por um mix dessas circunstâncias, o fato é que o movimento está menor nas rodovias Rio-Santos e Mogi-Bertioga do que se imaginava. Assim, a ausência ambulância de resgate do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) não se fez sentir de maneira dramática neste primeiro feriadão sem o serviço que a Sansim Serviços Médicos prestou à gestora das estradas estaduais até meia-noite do último sábado,  28 de outubro. Mas o tempo gasto para atender cada acidente aumentou, informa Ana Paula Martins, coordenadora do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Bertioga.

“A grande diferença é na hora de tirar a vítima presa dentro de um carro. Agora tem uma demora um pouco maior. Aumentou o tempo que a gente fica envolvido na cena do acidente. Quanto mais apoio eu tenho do resgate do DER, mais rápido conseguimos resolver o acidente. Quando não tenho, preciso esperar o apoio do Corpo de Bombeiros, que vem de mais longe, e temos um tempo de resposta na cena maior”, ela explica.

Mais demora, mais riscos

Isso tanto pode fazer diferença na vida das vítimas, seja pelo risco de morte ou de sequelas maiores decorrentes da demora na intervenção médica, quanto interfere na disponibilidade das duas ambulâncias do Samu para atender aos outros chamados de toda a cidade, cuja demora também pode afetar vidas. Elas só podem partir para outros atendimentos depois de deixar os acidentados no Pronto Socorro. O Samu recebe de 500 a 600 chamados por mês, número que sobe para algo entre 600 e 700 pedidos de socorro nos meses com feriados prolongados.

Trocando em miúdos, a ambulância do DER tinha desencarcerador, equipamento para cortar a lataria de veículos a fim de retirar as vítimas das ferragens. Ficava à beira da Rio-Santos, a poucos metros da entrada principal de Bertioga. Chegava rapidamente aos acidentes ocorridos naquela estrada, do quilômetro 248 ao 178, entre Santos e São Sebastião, e na Mogi-Bertioga, por 20 quilômetros até o alto da serra.

A equipe do DER prestava os primeiros cuidados, se necessário, até a chegada do Samu, cuja ambulância sai do Pronto Socorro, no Centro. Quando chegava, a equipe já podia iniciar imediatamente o socorro às vítimas. Agora, mesmo que chegue antes dos bombeiros no local, o Samu tem que esperar por eles para tirar as vítimas dos carros. Os bombeiros saem da avenida Ayrton Senna, na Vila Itapanhaú, só têm o caminhão autobomba, equipado com desencarecerador, mais lento do que uma ambulância, demoram mais para chegar, e também precisam atender a outras ocorrências em toda a cidade, muitas vezes com o mesmo caminhão.

Reforço da Secretaria de Saúde

“A diferença maior, e é o que gostaríamos que a população entendesse, é que nós, do Samu, prestamos socorro à vitíma, e o resgate do DER e do Corpo de Bombeiros tiram a vítima da situação de risco. Juntos, cada um presta o serviço necessário. A gente sente falta da presteza do DER nas cenas dos acidentes. Eles eram parceiros firmes de atendimento”, lamenta Ana Paula. E observa que raramente um acidente tem uma vítima só. A média vai de duas a quatro.

As estatísticas do Samu são mensais, e a de outubro só estará disponível na próxima segunda feira, 6. De quinta- feira, 2, até o fim da manhã deste sábado, 4, na primeira semana sem o resgate do DER, houve cerca de cinco acidentes nas duas estradas, entre carros e motos, com várias vítimas em diferentes  graus de gravidade, nenhuma fatal, bem abaixo da média de um feriadão.

A expectativa é de problemas maiores no retorno, que deve começar na noite de hoje, quando todo mundo pega a estrada ao mesmo tempo. Mas o primeiro domingo com acidentes atendidos apenas pelo Samu e pelo Corpo de Bombeiros já deu uma amostra do que deve ser o feriadão do Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro, e a temporada de verão, em especial a semana do réveillon.

“O fim de semana pré-feriado acabou sendo mais movimentado e tivemos um impacto maior no dia 29, o primeiro em que ficamos sem o resgate da equipe do DER. Entre sábado e domingo foram nove acidentes nas rodovias que cruzam nosso município e sentimos profundamente a falta deles. Em vista dessa sobrecarga de atendimentos, tanto para o Samu quanto para o Corpo de Bombeiros, a Secretaria de Saúde autorizou para este feriado prolongado uma terceira ambulância de reforço”, conta a coordenadora do Samu.

Essa medida emergencial também ajudou a diluir um pouco o efeito da ausência do resgate do DER. A permanência dessa ambulância em apoio ao Samu ainda será discutida com a Secretaria de Saúde, mas ela acredita que seja mantida pelo menos nos feriadões e na temporada, se até lá não houver uma solução definitiva para a questão.

Envolvimento de políticos

Uma solução para o problema pode ser o equipamento do Corpo de Bombeiros com uma ambulância com desencarcerador e a disponibilidade de mais profissionais para a cidade, como Caio Matheus, prefeito de Bertioga, reivindicou ao secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, Mágino Alves Barbosa Filho, no fim da semana passada. Mas ainda não obteve resposta. A outra solução seria o retorno do resgate do DER, para o que estão somando esforços vereadores de Bertioga, que fizeram uma manifestação no canteiro central da Rio-Santos, na altura da avenida Dezenove de Maio, na manhã do Dia de Finados, e parlamentares ligados à Baixada Santista.

O deputado federal João Paulo Papa (PSDB), ex-prefeito de Santos, interveio para o agendamento de reunião entre Laurence Casagrande, secretário de Logística e Transportes do Estado de São Paulo, a quem o DER é subordinado, e Caio Matheus, a quem acompanhou no encontro com ele, que negou a reativação do serviço, até sábado passado o único  mantido em todas as rodovias paulistas que administra.

Os deputados estaduais Cássio Navarro (PMDB) e Caio França (PSB), a quem Ribas Zaidan, presidente do Sistema Costa Norte de Comunicação, levou o problema, em 27 de outubro, se envolveram com a questão. Cássio ficou de apresentar emenda parlamentar a fim de obter recursos para que o DER possa reativar o serviço. Caio França vem acionando secretarias estaduais em busca de solução. E o Presidente da Comissão de Assuntos Metropolitanos da Assembleia Legislativa, Paulo Corrêa Júnior (PEN) pretende convidar o secretário Laurence Casagrande para falar sobre o problema.

Ana Paula Martins anseia pelo retorno do serviço de resgate do DER. O que provavelmente poderia ocorrer mais rapidamente do que a aquisição de equipamentos e o aumento do efetivo dos bombeiros, pois se trataria de colocar o esquema para funcionar novamente. “Gostaríamos muito que o resgate do DER voltasse. Para nós seria sobremaneira bom. Dependemos de entendimentos que estão além de nossa competência. Agora é só esperar”, conclui a coordenadora do Samu de Bertioga.

Estela Craveiro

foto: JCN

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