Alcatrazes é berçário para muitas espécies nativas e migratórias da fauna brasileira; bombardeio seria realizado no mesmo período em que os animais estão em fase reprodutiva no local
Após a informação de que a ilha da Sapata, no arquipélago de Alcatrazes, seria alvo de bombardeio durante treinamento da Marinha do Brasil se tornar pública, ativistas e ambientalistas se posicionaram contra o evento e pediram o cancelamento da ação em virtude da presença dos cetáceos em risco de extinção, além de outras espécies que estão em fase reprodutiva no local.
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) do governo federal, enviou um ofício à Marinha solicitando o cancelamento, que foi atendido.
Entretanto, em nota enviada à imprensa, a Marinha informou que a atividade foi adiada, mas que a razão para isso está ligada a "motivos meteorológicos, entre outros". O treinamento, contudo, deve acontecer entre os meses de novembro e abril de 2023.
Refúgio da Vida Silvestre, o Arquipélago de Alcatrazes está localizado a 35 km de São Sebastião e Ilhabela, no Litoral Norte de São Paulo. O local é rico em biodiversidade, sendo habitat, local de abrigo e reprodução de inúmeras espécies marinhas e terrestres, inclusive de baleias e golfinhos.
Cinco ilhas integram o arquipélago; são elas: Alcatrazes, de 170 hectares, Sapata, Paredão, Porto (ou Farol) e ilha do Sul. Há outras quatro ilhotas menores não nominadas; cinco lajes (Dupla, Singela, do Paredão, do Farol e Negra); e dois parcéis (Nordeste e Sudeste).
O uso militar do arquipélago para treinamento começou na ditadura militar. Em 2004, um bombardeio ocasionou um incêndio que destruiu 20 hectares da ilha. Em 2013, após anos de reivindicações e um período de cessar-fogo forçado pela Justiça, a Marinha parou de usar a praia Saco do Funil, na ilha principal, para os treinamentos. Restaram os alvos pintados na encosta de rocha nua e as marcas do incêndio de 2004.
Em 2016, Alcatrazes se transformou em Refúgio da Vida Silvestre (Revis), uma unidade de conservação instituída pelo governo federal para a proteção de ambientes que abrigam condições de vida e migração de espécies da flora e da fauna. A administração é do ICMBio e o turismo era vetado para visitantes, mas desde 2018 a visitação guiada permite o mergulho de snorkel ou de cilindro em dez locais do arquipélago. A visita deve ser agendada brevemente com operadoras autorizadas pela ICMBio.
O Refúgio de Alcatrazes impressiona por sua beleza e abriga expressiva biodiversidade marinha e insular. Cercada por 1.300 espécies de aves, répteis e mamíferos, o refúgio tem por objetivo conservar espécies ameaçadas, endêmicas e migratórias, e é a maior unidade de conservação marinha de proteção integral da plataforma continental brasileira das regiões Sul e Sudeste.
Em uma nota técnica, o Instituto Verde Azul, que estuda o comportamento das baleias no litoral, alertou sobre o risco da atividade.
De acordo com as biólogas que assinam a nota, os animais dependem de orientação sonora para se locomover e se alimentar. E destacam que a poluição sonora, com explosões submarinas e escavações devido aos treinamentos militares, são apontadas por órgãos internacionais como a maior ameaça a esses animais.
"O impacto sonoro dos explosivos poderá trazer inúmeras consequências negativas, não somente para os cetáceos, mas para todo ecossistema marinho adjacente e cidades costeiras que estão se beneficiando economicamente da presença desses animais e rica biodiversidade local", diz nota do Instituto Verde Azul.
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