2016

Território sagrado para reverenciar

A Terra Indígena Guarani do Ribeirão Silveira sobreviveu às incursões de colonizadores e às ocupações territoriais e, hoje, mantém-se viva e protegida

Da Redação
Publicado em 28/02/2019, às 12h27 - Atualizado em 26/08/2020, às 22h05

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Marcos Pertinhes
Marcos Pertinhes

Ainda no extremo norte, encontramos uma outra faceta de Bertioga. O ‘lugar de muita gente’ (significado de Boraceia, em tupi), aqui, literalmente não faz jus ao nome. Muito antes da chegada dos primeiros moradores, os pescadores caiçaras, essas terras já foram refúgios naturais, cercados pelas montanhas e pela mata nativa. Em um tempo que, em busca pela Yvy marãey (terra sem mal), índios tupi-guaranis migraram para a região e se estabeleceram entre as cabeceiras do rio Silveira e do ribeirão Vermelho, na divisa de Bertioga com São Sebastião.

Imagem acervo site

A Terra Indígena Guarani do Ribeirão Silveira possui uma área de 8.500 hectares demarcados, reúne 550 índios que ainda preservam os aspectos da cultura guarani, alinhados aos preceitos de preservação ambiental e aos avanços da sociedade não índia. Os indígenas praticam a caça, a pesca, a extração e o plantio do palmito e produzem um artesanato bastante colorido e característico que, juntamente ao comércio do pupunha e das plantas ornamentais, como bromélias e orquídeas, são a base da economia da aldeia. As famílias vivem em pequenas casas, poucas ainda construídas em pau-a-pique cobertas com palha ou piaçava. A alvenaria se destaca nas construções, evidenciando a interferência da cultura ocidental. 

Imagem acervo site

A língua tupi permanece fortalecida na sabedoria dos anciões e na leveza das crianças, que, somente a partir dos sete anos, aprendem o português na escola da aldeia. Manter as tradições e os conhecimentos ancestrais desse povo é uma preocupação constante de seus líderes. Liveis Caraí, pajé da aldeia, conta que desde cedo os jovens são orientados a respeitar e a manter os rituais e as tradições da comunidade. Informações sobre o papel de cada um na aldeia, o casamento e o respeito às pessoas e à natureza são repassadas às novas gerações. O pajé é categórico ao afirmar: “Nossa cultura é sagrada. Os que não acatam os ensinamentos não podem viver com o grupo”. A prática religiosa é outro ponto fundamental dessa cultura. Todos os dias, ao entardecer, as famílias se reúnem na casa de reza - opy guaxu- na qual manifestam sua fé a Ñanderu Tenondé (Deus Supremo) por meio de orações, cantos e danças. É também onde acontecem os rituais, trabalhos de conselhos e cura.

Imagem acervo site

Este autêntico tesouro cultural realça ainda mais as potencialidades turísticas de Bertioga, cujas raízes estão fortemente enoveladas aos povos indígenas. Promover atividades turísticas, culturais e recreativas junto a essas comunidades é uma maneira de atrair a atenção aos problemas ambientais e à necessidade de preservação dos povos tradicionais, cada vez mais disseminados e extintos. Além de criar uma forma de subsistência, o turismo étnico promove a valorização da cultura e a inclusão social, como ressalta o pajé Liveis: “É importante para nós que as pessoas saibam que ainda existimos e que mantemos nossas tradições e cultura preservadas”.

Imagem acervo site

Por isso, aos poucos, as terras indígenas guaranis são incluídas em roteiros de etnoturismo de agências locais, nos quais os viajantes podem ter a experiência única de conhecer in loco os costumes e a cultura dos índios guaranis, como parte de uma vivência rica em sensações e conhecimento. Ao final do passeio, é possível seguir por uma pequena trilha, escondida em meio à riqueza da Mata Atlântica e de suas plantas medicinais, ladeando o caminho cortado pelo rico rio das Antas, até uma pequena cachoeira, cujas águas frias formam um poço cristalino, convite a um banho refrescante.

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