2015

O amor da família Pinto pelo bairro São Lourenço

Da Redação
Publicado em 11/03/2019, às 07h50 - Atualizado em 26/08/2020, às 22h05

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Sua história mescla-se à de um dos bairros mais tradicionais de Bertioga, um local que reúne tradição e religiosidade, e mantém viva a homenagem ao santo que lhe empresta o nome.

Aos 80 anos, Vítor Pinto tem muitas histórias para contar. De algumas ele participou, outras, ouviu contar; em comum, todas versam sobre o bairro São Lourenço. Bisneto de escravo com português, seu Vítor Pinto lembra quando o loteamento, onde se ergueu o atual bairro, era uma gleba na qual o avô Manoel José Pinto trabalhou, junto com seu bisavô.

Imagem acervo site

 Uma grande área de cultivo de cana-de- açúcar. Ele conta: “Mas meu avô era enjeitado, porque a família era de brancos e ele era preto. Meu bisavô iria fazer um testamento para deixar parte das terras para meu avô, mas morreu antes de assinar o documento”. Quem tomava conta das terras e da produção era a madrasta de seu avô. Ele queria o pagamento pelo tempo trabalhado, mas a madrasta disse que não tinha dinheiro para pagar. “Então, ela propôs a doação do terreno, de 1.100 metros de frente, que vai de onde termina a Riviera de São Lourenço, O amor da família Pinto pelo bairro São Lourenço Sua história mescla-se à de um dos bairros mais tradicionais de Bertioga, um local que reúne tradição e religiosidade, e mantém viva a homenagem ao santo que lhe empresta o nome Por Ana Cláudia Gomes Com reportagem de Paula Zeidan até o rio Itaguaré, e que se prolonga até a Serra do Mar”. Assim surgiu o bairro São Lourenço. 

O avô Manoel continuou plantando cana-de-açúcar e mandioca, e também pescava. Na época, no início de 1900, cerca de 10 famílias viviam na área e dividiam toda a produção. Em setembro de 1934, Manoel faleceu, e seu filho Nicolau Antunes Pinto, pai de Vítor Pinto, continuou o trabalho. “Minha mãe [Francelina Antunes] me contava essa história”, lembra Vítor.  

O progresso chegou, a grande gleba foi loteada e outras famílias fixaram-se em São Lourenço. Vítor conta: “Era tudo muito difícil. Tudo era em Santos; se uma pessoa ficasse doente, tinha que ir de carroça, puxada por burro, pela praia até o canal de Bertioga, para ir para Santos com a barca da Companhia Santense”. 

Imagem acervo site

O bairro era formado por pessoas que se consideravam da mesma família; elas queriam o progresso e o bem-estar da comunidade. Vítor conta que seu padrinho Luiz Pereira de Campos montou a primeira escola da localidade. “Era na casa do tio João. Eu aprendi lá, meus irmãos e meus primos também. Todas as professoras que vinham dar aula na escola moravam na casa”.

 Em 1947, foi construída a primeira escola em um prédio próprio, também por iniciativa do padrinho de Vítor. “Um dia, Humberto Luiz criticou meu padrinho. Ele falou: ‘Lu - ele chamava meu padrinho de Lu - por que construir escola? Já tem uma escola em Bertioga, outra no Indaiá, para que tanta escola?’. E meu padrinho respondeu: ‘O  

O progresso chegou, a grande gleba foi loteada e outras famílias fixaram-se em São Lourenço. Vítor conta: “Era tudo muito difícil. Tudo povo precisa aprender, sem ter que sair daqui e andar a pé’. Ele era um homem de visão. Ele tinha a mente aberta”, conta, com orgulho.

 Ainda garoto, aos 12 anos, Vítor ajudou a construir a igreja do bairro. Ele lembra que era na praia e usaram barro para erguer as paredes. “Tinha que ter uma igreja. A gente rezava na casa da minha tia, todo mundo da comunidade”. Anos mais tarde, na década de 1980, ele também ajudou a construir a igreja de São Lourenço, padroeiro do bairro, no local onde está atualmente, a avenida São Lourenço. 

Imagem acervo site

Um dos maiores orgulhos da família Pinto é a festa em homenagem a São Lourenço, realizada no bairro todos os anos, entre julho e agosto. “Esse ano, a festa vai fazer 128 anos. É tudo comandado pela família Pinto, com ajuda da comunidade. Vai passando de geração em geração”. 

Durante a festa, realiza-se a novena de 29 de julho a 7 de agosto, e, no dia 10 de agosto, a procissão e a quermesse. “Enquanto comandarmos a festa, ela vai existir e vamos sempre agregando mais pessoas. É o nosso orgulho”, diz Vítor.  

Antigo bananal 

Bem antes disso, as terras herdadas do pai se transformaram em um grande bananal. Vítor lembra: “Plantei 12 mil pés de banana e cheguei a exportar para a Argentina”. Ele e o tio, que também tinha terras na área, fizeram uma estrada no meio do terreno para facilitar a circulação. “Mas a Justiça embargou grande parte dessa área, que fica entre a rodovia Rio-Santos e a Serra do Mar. Até hoje estamos brigando para fazer o loteamento. Não entendo, se pensa muito nos animais, mas não no ser  humano”, fala, com certa mágoa, o homem que já viu três gerações viverem da terra e por amor à terra.

 Além do cultivo da banana, Vítor trabalhou na prefeitura de Santos, depois na Colônia de Férias do Sesc, e manteve um bar por anos no bairro São Lourenço, o Recanto dos Pinto, testemunha do crescimento do bairro e da cidade. 

Vítor apoiou os dois processos de emancipação de Bertioga, o primeiro, em 1958, que não frutificou, e, depois, o de 1991, que culminou na emancipação político-administrativa da cidade. “Éramos massacrados por Santos. Eu fazia a divulgação boca a boca, para conscientizar as pessoas sobre a importância da emancipação. Eu sabia o que era bom para a cidade. Não tenho estudo, mas a vida ensina a ver o que é bom e o que é ruim. Hoje, meu nome está lá, na praça dos Emancipadores”, fala Vítor, com orgulho. Ele se refere à placa afixada na praça, no Centro, para homenagear homens e mulheres que trabalharam pelo movimento emancipacionista.

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