2008

Nasce o centro balneário

Hotel lido, Pensão Holandesa e Sesc Bertioga foram os primeiros equipamentos turísticos da pacata Bertioga da década de 1940

Eleni Nogueira
Publicado em 27/01/2020, às 13h20 - Atualizado em 19/07/2023, às 08h55

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Arquivo JCN
Arquivo JCN

O pequeno núcleo de pescadores, com cerca de 20 casas construídas em frente ao porto da barca, e três pequenas casas de comércio, começa a mudar suas características, a partir de 1940. Década em que surgem os primeiros esboços da vocação natural de Bertioga: o turismo.

Imagem acervo site

Mesmo com as dificuldades de acesso, já nesta época, os moradores da Vila assistem a abertura da Pensão Holandesa. Um empreendimento que passou por muitos donos e transformações, sem, no entanto, perder o seu símbolo original, o moinho holandês, até chegar ao atual Hotel 27 - um dos mais conceituados da cidade.

O primeiro empreendimento hoteleiro da cidade, o Lido Hotel, foi construído pelo empresário Rafael Costabile, e funcionou por mais de 50 anos. Dotado de grande infraestrutura para a época, já possuía frigorífico, transporte para hóspedes, gerador de energia, amplo restaurante e lavanderia.

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Nesta época, algumas famílias frequentadoras da região também iniciam a construção de casas de veraneio. Porém, o grande salto ocorre em 1946, quando um grupo de empresários do comércio resolve construir a primeira colônia de férias do Brasil, justamente na tranquila, pacata e isolada Bertioga. Nasce, assim, a Colônia de Férias Ruy Fonseca – Sesc Bertioga, inaugurada em 31 de outubro de 1948. Hoje, a maior da América Latina.

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A colônia deve seu traçado urbanístico ao engenheiro e urbanista Francisco Prestes Maia. O projeto inicial previa a construção de 300 casas para abrigar 2.400 pessoas por quinzena, num total de 60 mil por ano. Em sua inauguração contava apenas com equipamentos básicos e 28 casas pré-fabricadas, com capacidade para atender até 200 pessoas a cada temporada de 15 dias. Números de grande expressão para a Bertioga da época. Atualmente, o Sesc Bertioga dispõe de 46 casas, com capacidade para alojar de 10 a 12 pessoas, e 11 conjuntos com 224 apartamentos, cada um. Em apenas um dia, pode receber confortavelmente de 900 a 1.100 pessoas.

Os primeiros visitantes da antiga colônia foram verdadeiros desbravadores, já que enfrentaram as dificuldades de acesso nas longas viagens a bordo da lendária barca da Santense. Foram, também, os pioneiros na divulgação de uma terra com futuro promissor.

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Um dos desbravadores

O Sesc Bertioga fez muito mais. Foi o primeiro grande gerador de empregos da região e responsável pelo início de um novo bairro, o Jardim Rio da Praia. Quem conta um pouco desta história é o aposentado Martim José dos Santos, 81 anos, presidente do Conselho Deliberativo da Sociedade Amigos do Jardim Rio da Praia. Contratado para trabalhar nas obras de construção da colônia, chegou a Bertioga em 21 de novembro de 1947 e lembra as dificuldades e surpresas vividas por ele e mais 150 empregados. "Isso aqui era só um pântano cheio de tatus, onças e jaguatiricas. Não mata havia estradas e demorávamos cerca de 4 horas na viagem, entre Santos e o canteiro de obras"

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Segundo Martim, o loteamento do bairro Jardim Rio da Praia foi aberto pelo próprio Sesc em 1952, e a associação criada em 1977. "Essa região toda foi formada por trabalhadores do Sesc e seus veranistas. As terras por aqui não tinham muito valor".

 Na encosta da Serra do Mar, região pertencente à antiga Fazenda Pelaes, a Companhia Docas do Estado de São Paulo - Codesp, construiu a Usina Hidrelétrica de Itatinga, inaugurada em 10 de outubro de 1910, com o propósito de gerar energia ao Porto de Santos.

Entre 1911 e 1927, a usina forneceu energia, também, para as cidades de Santos, São Vicente e localidades vizinhas, com exceção de Bertioga, que sofreu com a falta de energia elétrica até 1959, quando foram instalados postes de iluminação nas ruas principais.

Itatinga foi fornecedora da energia utilizada na Construção da Usina Henry Borden, em Cubatão e, em 1925, durante a grande crise de energia em São Paulo, forneceu 5.000 kw diários à Capital.

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No entorno dessa grandiosa obra da engenharia foi criada uma pequena vila, com os padrões da arquitetura inglesa da época, para atender às necessidades dos trabalhadores da Usina. Um pitoresco vilarejo que, atualmente, funciona apenas como ponto turístico da cidade.

Carlos de Oliveira Santos, 59 anos, aposentado da Codesp, viveu na antiga vila por 22 anos e lembra, com saudade, do tempo em que as 70 casas da vila, e mais as 14 existentes no caminho que liga a vila à Serra, eram todas ocupadas - algumas, segundo ele, chegavam a contar com duas famílias.

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As imagens de paz, alegria e confraternização daquela época não saem de sua memória. "Houve tempos difíceis, quando não existiam as estradas e tudo era pelos rios, mas era bom viver ali. Hoje, quem volta sente uma nostalgia muito grande. Éramos como se fossemos uma só família. Tinha muitas festas, bailes e jogos de futebol. Hoje as casas estão vazias."

E Itatinga parece mesmo uma vila perdida no tempo. Casas, cinema, armazém, escola, clube, auditório...Com exceção do ambulatório, o restante está fechado. É que a Codesp optou por manter apenas funcionários terceirizados na Usina de Itatinga, sem famílias.

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Mas, de acordo com Carlos de Oliveira, algumas tradições ainda são mantidas pelos antigos moradores, como o aniversário do Itatinga Atlético Clube, fundado em 1928, A festa acontece no dia 7 de setembro, quando a vila é aberta para visitação, sem limite de entrada.

Outra data importante é o dia da padroeira, Nossa Senhora da Conceição, em 8 de dezembro, quando a antiga comunidade reúne-se para as comemorações com procissão, missa e levantamento de mastro. "E a oportunidade que temos para nos reencontrar e matar a saudade", diz o aposentado que, atualmente, é monitor de ecoturismo e, por meio das agências de turismo, leva grupos de visitantes para conhecer o vilarejo.

Roteiro fantástico

Chegar neste paraíso ecológico por si só já vale o passeio. A aventura, com cerca de 14 km, tem início na travessia do rio Itapanhaú em uma barquinha. O restante do percurso é percorrido por uma via férrea, numa charmosa locomotiva construída em 1909.

Aproveite para apreciar toda a exuberância da Mata Atlântica.

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