Um dos setores com maior demanda de serviços e, também, grande alvo de reclamações por parte da população, a saúde municipal exige estratégias e planos mais eficientes.
Falta de médicos, despreparo dos funcionários e agendamento pessoal de consultas e exames nos postos das Unidades Básicas de Saúde (UBS), além do crescimento da demanda devido ao abandono de planos de saúde, são os principais ingredientes do cenário atual do setor de saúde em Bertioga. Na opinião de Ditmar Schmidt, presidente do Conselho Municipal de Saúde, o setor é razoável e está melhorando: “Temos a saúde pública menos ruim da Baixada Santista. Precisamos de mais atenção à saúde básica. A cidade ainda tem o vício de ir ao pronto-socorro com problemas que não são de emergência. Isso tem que mudar, com educação da população e com as pessoas bem atendidas nas UBSs”.
Segundo o conselheiro, entre os problemas do setor estão as frequentes queixas sobre a ausência de médicos no trabalho, endossadas pelo próprio secretário de Saúde Jurandyr José Teixeira das Neves. Ditmar diz que faltam médicos interessados em atuar na cidade. No Hospital Bertioga, a maior carência é de ortopedistas e, nas UBSs, de ginecologistas e pediatras.
A segunda maior queixa é com relação à qualidade do atendimento dos funcionários das UBSs e a dificuldade para marcar consultas. Problemas que, de acordo com o conselheiro, devem ser superados com a implantação do novo modelo de gestão e de protocolos de procedimento aliados à informatização das UBSs, que terão agendamento e prontuários eletrônicos já a partir do fim deste semestre. No segmento de pessoas com necessidades especiais, Ditmar cita a reativação do Núcleo de Atendimento à Criança Especial (Nace), prevista para o próximo semestre. Outra carência é a disponibilidade, em Bertioga, de neuropediatras para fazer diagnósticos, emitir laudos e acompanhar os tratamentos desses pacientes. A prefeitura contratou o Centro de Recuperação de Paralisia Infantil e Cerebral de Guarujá (CRPI), mas os pacientes têm que ser levados até lá.
Novo modelo de gestão
São três os principais desafios da Secretaria Municipal de Saúde: dar uma nova feição ao setor na cidade; colocar para funcionar a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Vista Linda; e finalizar a obra e iniciar operações do novo prédio do Hospital Bertioga. Para encarar essas e outras necessidades, a estratégia é a objetividade, segundo o médico Jurandyr José Teixeira das Neves. “Minha gestão é baseada em coisas simples. Fazer bem feito com o que temos na mão. Vamos melhorar a logística, implantar um modelo de administração baseado na capacidade técnica, mudar a maneira como atuam os profissionais de saúde, aproveitar melhor o potencial de cada um, implantar uma nova cultura”, diz ele. Os principais planos de sua gestão, focada na atenção à saúde básica, às gestantes e aos recém-nascidos, são:
UPA Vista Linda – Passa por readequação das instalações e deve começar a funcionar até o fim de 2017. A maioria dos equipamentos já foi adquirida e há verba para o faltante.
Hospital Bertioga – A conclusão da obra foi adiada para o fim de 2019. O projeto está em reformulação para inclusão de acessos e conexão entre os dois prédios, na área onde está instalada a Unidade de Atendimento Especializado (UAE). O projeto inicial está avaliado em R$ 8,5 milhões, com recursos estaduais e R$ 500 mil, da prefeitura. Para mobiliar e equipar a nova ala hospitalar serão necessários R$ 5 milhões, que devem ser captados por intermédio do Ministério da Saúde e de emendas parlamentares. Hoje, o hospital absorve cerca de R$ 2,5 milhões por mês.
UAE – A nova sede da UAE, no Rio da Praia, deve ficar pronta no fim de 2018, devido à necessidade de readequação do projeto arquitetônico. Terá 21 especialidades médicas.
UBS – Até o fim de 2017, mais uma Unidade Básica de Saúde (UBS) da cidade deve entrar em operação no Complexo Comunitário de Esporte e Lazer, em construção no bairro Chácaras. As cinco UBSs existentes estão em fase de informatização e os funcionários, em treinamento. Novos modelos operacionais estão em implantação.
Programa de Atenção Integral à Família – Bertioga está habilitada para ter dez equipes desse programa conhecido como Saúde da Família. Duas equipes atuam em Boraceia. Com a chegada de um médico substituto, a terceira deve ser reativada, em junho. As equipes visitam as residências e cadastram a situação de saúde das famílias. Uma base para esse programa deve ser criada em Guaratuba e, outra, na UBS da Vista Linda, quando esta for transferida para a nova UBS do bairro Chácaras.
Nace – Para o segundo semestre de 2017, está prometida a nova fase do Núcleo de Atendimento à Criança Especial (Nace), na Vista Linda, que passa por reforma. O serviço de equoterapia, inativo, deve voltar a funcionar no novo Complexo Comunitário.
Caps – A evolução do Centro de Atendimento Psicossocial (Caps) depende de sua mudança para um imóvel que atenda aos critérios do Ministério da Saúde, a fim ser reconhecido como de porte 1, e ter direito a receber recursos financeiros. Previsto para o fim de 2017.
Saúde na Escola – Prevê-se a implantação do programa Saúde na Escola, a partir deste semestre, para triagem de problemas de visão, audição e dentário, entre os 8.542 alunos da rede municipal de ensino.
Melhor em Casa – Para os próximos meses, espera-se a liberação de verba para o programa de internação domiciliar, com visitas programadas de médicos e enfermeiros aos pacientes.
Rede Cegonha – O alto índice de mortalidade infantil da cidade, de 14,7%, atualmente o maior da Baixada Santista, preocupa a Secretaria de Saúde que, enquanto busca implantar o projeto Mãe Bertioga, centrado em cuidados com mães e bebês, do pré-natal ao pós-parto, empenha-se em inscrever o município na Rede Cegonha, do Ministério da Saúde. Pretende-se a criação de uma categoria no programa que não exija unidades de terapia intensiva (UTI) nos hospitais das cidades.
Reorganização regional
Identificada a necessidade em toda a região, a equipe técnica do Departamento Regional de Saúde da Baixada Santista (DRS IV), da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, estuda a reorganização ambulatorial e hospitalar, por meio da Programação Pactuada Integrada (PPI), baseada na premissa de que “é preciso fortalecer e avançar na atenção à saúde básica”, com ações de promoção à saúde, prevenção de agravos e tratamento.
Paula Covas Borges Calipo, diretora do DRS IV, explica: “De 75% a 80% dos problemas mais prevalentes da população podem ser resolvidos neste nível de atenção. É um investimento necessário aos municípios da região e, em especial, em Bertioga, que tem elevada taxa de crescimento da população e onde cerca de 80% dos habitantes são usuários exclusivos do SUS”.
A primeira fase do estudo, sobre a área hospitalar, deve ser concluída neste semestre e colocada em prática a partir do próximo, sem envolver novos recursos, apenas com a reorganização das verbas disponíveis. A área ambulatorial será abordada na segunda fase, a partir de julho.
Considerando o perfil assistencial de cada hospital, de baixa, média e/ou alta complexidades, avaliam-se as condições para resolver necessidades da população de cada macrorregião da Baixada Santista. “Identificando o que será preciso referenciar fora da macrorregião, garantimos o atendimento integral a todos, principalmente, na alta complexidade”, observa Paula Covas.
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