2001

Cidade ainda mantém clima bucólico

Depois de 46 anos, Norma Mazzoni tem saudade do passado, mas acredita que é possível manter essa paz natural para as gerações futuras

Da Redação
Publicado em 30/09/2019, às 08h48 - Atualizado em 26/08/2020, às 22h13

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Arquivo JCN
Arquivo JCN

Em 1955, aos 22 anos, a estagiária Norma Mazzoni dava um novo rumo à sua vida, que estaria ligada a Bertioga para sempre. Formada em magistério desde 1950, ela escolheu lecionar no então distrito de Santos que tinha, na época, vaga em três escolas. Seu destino foi o centro da cidade, no prédio do primeiro colégio, onde hoje funciona a Casa da Cultura, na avenida Thomé de Souza, 130. Já suas colegas foram designadas para uma sala no Indaiá e outra, em São Lourenço, onde também estudavam alunos da 1ª a 4ª séries. Bertioga era um distrito pacato, quase sem construções. Não havia nem mesmo as avenidas Anchieta e 19 de Maio e eram poucas as residências. “Não tinha nada e a condição econômica era precária. Fazíamos até um trabalho assistencial com as crianças, muito dóceis, inteligentes e saudáveis”, lembra Norma Mazzoni, que ajudou a formar duas gerações até se aposentar em 1981 com 30 anos de serviços prestados, sendo 26 dedicados a Bertioga.

O que não faltam são lembranças do trabalho que sempre gostou de desenvolver com as crianças, e de sua vida com Licurgo Mazzoni desde que o conheceu assim que chegou à cidade. Foi amor à primeira vista; noivaram e casaram em 1957, ano em que também foi nomeada professora.

Escuridão

Por cerca de 10 anos, até 1965, quando chegou a iluminação pública, a cidade vivia em total escuridão, mas com tranquilidade. "Deixávamos as janelas e portas abertas à noite e nada acontecia”. Mas também era um período de sacrifícios. “Uma das professoras, que morava em Santos, tinha de acordar às 5 horas para pegar a barca das 7h, que chegava por volta das 9h30 e 10 horas. Ela lecionava das 12h30 às 16h30 e fazia o mesmo caminho para voltar, chegando em casa por volta das 21h30. Mazzoni diz que não tinha medo de nada, nem mesmo das histórias mais assustadoras. Ela lembra que o local onde lecionava já havia sido cemitério, mas  nunca viu nada diferente. Porém, um dia, sentiu um cheiro forte de velas. “Perguntei, para as crianças: Vocês estão sentindo alguma coisa? Foi aí que falaram também do cheiro da vela. Mas foi só isso”.

Cinema

A família Mazzoni foi responsável por trazer ao distrito a sétima arte com a implantação, por volta de 1952, do Cine Umuarama que funcionou até 1962. “Aqui não tinha nada e Licurgo aprendeu a mexer com projetor. Ele alugava os filmes em São Paulo, que vinham de ônibus e depois pela barca. Todos gostavam e essa era a única diversão na cidade”.

Barco era a grande atração

Norma Mazzoni lembra que a barca era a grande atração da cidade. No píer que leva o nome de seu marido Licurgo Mazzoni, havia uma ponte de madeira onde a lancha atracava e um sino tocava toda vez que ela estava se aproximando. “Todos corriam para ver”. Tudo vinha pela lancha, até mesmo produtos da primeira casa de material para  construção da cidade, a Viga Mestre, de propriedade de Licurgo, que não teve concorrência por um período de 10 anos.

Casas de moradores localizadas em frente ao canal de Bertioga, quando ainda não havia nem mesmo a avenida Vicente de Carvalho. A população ainda era pequena e o vilarejo pacato. Nessa época, também não tinha iluminação pública, que chegou ao distrito de Bertioga somente em 1965.

Gosto da natureza e do ar puro

Com essa expressão, Norma Mazzoni demonstra seu carinho por Bertioga, local que escolheu para viver com sua família nesses últimos 46 anos. Ela acredita no futuro, é favorável ao desenvolvimento da cidade, que ainda mantém certa tranquilidade e um clima bucólico. No entanto, acha que o município deveria ter seu visual melhorado para atrair as pessoas e fazer bem também à própria comunidade.

“É uma cidade turística e necessita ter boa apresentação. O centro deveria ser mais cuidado com limpeza das ruas, pavimentação, jardins e praças, pois o centro é o cartão de visita da cidade”. Como educadora, acha que sempre faltou ao bertioguense uma escola profissionalizante, uma vez que o município carece de mão de obra especializada.

Para Norma Mazzoni, é preciso retomar o valor histórico de Bertioga que sempre esteve perdido no tempo, investir na educação e cultura e no crescimento. “Mas as coisas demoram para acontecer. Talvez seja algo espiritual relacionado ao passado, pois aqui foi palco de muitas atrocidades”.

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