2015

A atração irresistível dos peixes

Abundantes e graúdos, os peixes atraíam pescadores de cidades vizinhas de Bertioga, cujas famílias sedimentaram a formação das primeiras comunidades.

Da Redação
Publicado em 07/03/2019, às 11h14 - Atualizado em 26/08/2020, às 22h02

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Arquivo Pessoal
Arquivo Pessoal

Nas décadas iniciais do século XX, muitas famílias de outras cidades litorâneas vizinhas eram atraídas pela beleza exuberante, pela tranquilidade e pela abundância de peixes de Bertioga, além de ótimas condições para o plantio de banana e cana-de-açúcar. Assim foi com a família Xavier, que veio da Ilha de Santo Amaro, no Guarujá. Sua história em Bertioga começa com Manoel Bernardino Xavier, português que se instalou na praia das Tartarugas, área dos índios tupiniquins, entre os quais a índia Margarida, com a qual se casou. Tempos depois, ele foi contratado pelo governo estadual para cuidar do Farol da Moela, que vigia a entrada do porto de Santos.

Imagem acervo site

 Apesar das dificuldades, sem água encanada, luz elétrica e outros serviços, havia a garantia de uma mesa farta para sustentar os  filhos. Enéas Xavier, neto de Manoel, é quem conta: “Não havia muita dificuldade para se alimentar porque sobrevivíamos muito bem com peixe, farinha de mandioca e feijão”. A abundância de peixes foi o principal fator para que o pai de Enéas, Alfredo Xavier, fosse para Bertioga. Ele tinha canoas e redes e se estabeleceu em frente ao canal de Bertioga, onde é hoje a Sorveteria Rocha, na avenida Vicente de Carvalho, no Centro. Além disso, veio cuidar de umas terras da Companhia Urbanística de Bertioga (a atual Sopreter Empreendimentos Imobiliários). Eles chamavam de sítio, mas era um lugar à beira da praia, próximo de onde é hoje a My Power”. 

Enéas lembra bem da época: “Pescávamos com o cerco feito de taquara, instalado onde é hoje o porto das balsas - robalo, parati, caratinga, tainha, bagre. Chegávamos a pescar cerca de 400 quilos e os colocávamos em caixotes de madeira para os italianos no Mercado Municipal de Santos. Meu pai também era especialista nos arrastões de praia. Eles compraram um berrante, que era como se fosse uma buzina, para quando o cardume estivesse no jeito do lance; aí ele soava a buzina para os outros apanharem os peixes”. O cenário paradisíaco era um grande atrativo. “Era bem menino quando me chamaram para ver as pegadas de uma onça, próximo onde é agora o supermercado Caçula”.

 Enéas estudou na Escola Vicente de Carvalho, onde hoje fica a Casa da Cultura. Ele conta que cursou até o quarto ano e os professores vinham de Santos. ”Saíamos da escola e íamos tomar banho de mar e, antes, tinha um cemitério na escola, que foi inundado pela maré e até achei um fêmur, certa vez, enquanto brincava”. 

Imagem acervo site

Além de brincar no mar, já havia o Bertioga Futebol Clube. Volta e meia, os jogos e treinos eram acompanhados por um visitante pitoresco, o Jacó. “Jacó era um urubu domesticado pelo meu tio Pedro que, certa vez, foi à ilha dos  

Guarás e apanhou um filhote de urubu. Quando meu tio vinha com uma fieira de peixe e passava em frente à igreja católica, ele ficava sobre a cruz; ele o chamava e iam para casa. Ele entrava na casa das pessoas e todos o conheciam. Em dias de jogos, ele voava junto com a bola”. 

Outro entretenimento eram os bailes que ocorriam nos Barreiros, uma casa próxima de onde hoje está a prefeitura. Para chegar até lá era muito escuro e todos corriam, temerosos das assombrações. “Meu tio assustava muita gente porque ele pegava uma cabaça, que ainda tem em Bertioga, furava e fazia uma careta, colocava uma vela acesa num pé de uma árvore; um dia ele ficou deitado e o pessoal atirou”. 

Com o tempo os familiares foram mudando e o progresso começou a chegar. Da família Xavier, Ênio - filho de Enéas - mora em Bertioga desde os seus 17 anos, assim como alguns primos da família Faustino. Dos Xavier, boa parte foi morar no Guarujá, em Santos e outras regiões. “A nossa propriedade ainda está na rua Doutor Júlio Prestes, 295, um cantinho que ficou como lembrança. O rancho de pesca, com o progresso da cidade, deixou de existir e meu pai, naquela época, ficou muito bravo”, lembra Enéas.  

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