Política

Bastidores da sucessão presidencial

A próxima semana será de grande tensão no cenário político nacional, tendo em vista o fechamento dos acordos entre os partidos

Cláudio Coletti
Publicado em 26/07/2018, às 09h05 - Atualizado em 23/08/2020, às 17h08

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(Brasília - DF, 12/06/2018) Cerimônia de Assinatura dos Decretos que regulamentam o Código de Mineração e a Lei que disciplina a cobrança da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais - CFEM. Foto: Marcos Corrêa/PR - Marcos Correa
(Brasília - DF, 12/06/2018) Cerimônia de Assinatura dos Decretos que regulamentam o Código de Mineração e a Lei que disciplina a cobrança da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais - CFEM. Foto: Marcos Corrêa/PR - Marcos Correa

Até o próximo dia 5 de agosto (domingo), os 35 partidos legalizados em nosso país farão a indicação dos seus candidatos à presidência e vice-presidência da República, aos governos dos 27 estados, às 54 vagas de senadores (duas para cada estado), 513 deputados federais e os ocupantes das Assembleias Legislativas estaduais. Aprovarão também as coligações partidárias de que participarão nos âmbitos estadual e federal. Os nomes aprovados nas convenções precisarão ainda passar pelo crivo da Justiça Eleitoral, até o próximo dia 15 de agosto, com vista às exigências da Lei da Ficha Limpa. Os candidatos considerados “ficha limpa” estarão autorizados a saír às ruas em busca de votos, a partir do dia 16.

A próxima semana será de grande tensão no cenário político nacional, tendo em vista o fechamento dos acordos entre os partidos, principalmente, quanto à escolha dos candidatos presidenciais e governos estaduais e a formação das coligações que vão sustentar as campanhas eleitorais. A seguir, vem um relato sobre o clima existente no presente momento, nos partidos e entre os candidatos que participarão da corrida presidencial em 7 outubro.

Ciro Gomes isolado - O PDT foi o primeiro partido a oficializar, em convenção, seu candidato presidencial: Ciro Gomes. E a terceira vez que ele participa da corrida ao Palácio do Planalto. As tentativas anteriores foram em 1998 e 2002. Ciro Gomes nasceu em Pindamonhangaba, no Vale do Parnaíba, no estado de São Paulo, a mesma cidade em que veio ao mundo o candidato tucano Geraldo Alckmin. Ciro Gomes, antes da oficialização da sua candidatura, fez de tudo para ser apoiado pelo Blocão, constituído pelo DEM, PP, PR, PRB e Solidariedade. Mas perdeu essa importante adesão- que lhe garantiria uns quatro minutos no programa de televisão e rádio-, que passou a ser justamente do seu conterrâneo Geraldo Alckmin. Ficou com o apoio tão somente do seu partido, o PDT. O que lhe resta agora é disputar, com unhas e dentes, o apoio do PSB, uma legenda que está dividida em vários estados. O PT e o ex-presidente Lula também estão na disputa pelo apoio dos socialistas. O isolamento de Ciro Gomes está próximo de acontecer, já que os dois partidos de esquerda- PSOL e PCdoB- vão ter candidato presidencial para turbinar a possibilidade de eleger um bom número de parlamentar.

Geraldo Alckmin sorrindo - O clima no “ninho tucano” é de comemorações. A candidatura de Geraldo Alckmin ganhou enorme dimensão com o apoio do Blocão (DEM, PP, PR, PRB e Solidariedade) que deixou Ciro Gomes a ver navios. A força política dessa adesão se somará às do PSD, PTB, PPS e PV, que já haviam embarcados na canoa de Geraldo Alckmin. Na opinião de cientistas políticos, pode-se agora afirmar que o candidato tucano entrou, de fato, na corrida presidencial. Pesaram a favor o seu discurso moderado, a paciência para conversar e a trajetória de político tradicional, que cumpre a palavra empenhada e compartilha o poder com os aliados. A escolha do vice-presidente de Alckmin deverá ser decidida nesse final de semana.

A campanha do candidato do PSDB, com tamanhos apoios partidários, terá mais da metade das quase duas horas diárias previstas no horário eleitoral gratuito do rádio e da televisão. Foi marcada para o dia 4 de agosto, em Brasília, a convenção nacional do PSDB, para aprovar as coligações partidárias e definir o programa de governo de Geraldo Alckmin.

PT e Lula - O ex-presidente Lula continua fazendo da sala em que está preso, em Curitiba, o escritório de sua campanha eleitoral. A convenção do PT para lançar o seu candidato presidencial foi marcada para o dia 4 de agosto. Até o momento, os petistas resistem à ideia de deixar Lula fora da corrida presidencial. Com isto, o líder petista avança em sua estratégia jurídica e política. O prazo final para registro de candidatura é 15 de agosto. O Tribunal Superior Eleitoral terá de dizer se ele pode ou não concorrer por causa de ter sido condenado a 12 anos e um mês de cadeia, pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (Porto Alegre). A Lei da Ficha Limpa determina que pessoas condenadas por um tribunal colegiado, como é o caso do TFR- 4, ficam inelegíveis. A ideia de Lula é recorrer ao Supremo Tribunal Federal, se sua inelegibilidade for declarada, mantendo,  assim, sua candidatura sub-judice. Se derrotado na Suprema Corte, aí o PT colocaria em ação seu plano B, que consiste em indicar o ex-prefeito da cidade de São Paulo Fernando Haddad, para substituir Lula na disputa eleitoral. Lula desenvolve também articulações para ter os partidos de esquerda- PSB, PCdoB e PSOL- ao lado do PT, notadamente no segundo turno. Os petistas estão convictos de que Fernando Haddad irá para o segundo turno das eleições, previsto para acontecer em 28 de outubro.

PSB indefinido - É a joia partidária disputada tanto por Lula como por Ciro Gomes. É um partido bem representado em todo país e no Congresso Nacional. E tem bom tempo disponível na televisão e no rádio, além de ter à sua disposição bons recursos para a campanha eleitoral. Seu candidato presidencial poderia ter sido o ministro-presidente aposentado do STF, Joaquim Barbosa. Mas ele, na última hora, acabou fugindo da raia, abandonando a política. Agora, o apoio do PSB passou a ser cobiçado tanto por Lula como por Ciro Gomes. Teria chance até de indicar o candidato à vice-presidente de um desses dois lados. Deixou para última hora definir sua posição, marcando sua convenção para 5 de agosto, último dia das convenções. Os sinais demonstram estar a legenda insegura, com divergências em vários estados. Não será surpresa se tomar um dos seguintes rumos: apoiar Lula, apoiar Ciro Gomes ou decidir pela neutralidade, com cada Diretório Regional tomando o rumo que melhor lhe convier no presente momento.

Bolsanaro sozinho - A candidatura do deputado federal Jair Bolsonaro à Presidência da Republica foi oficializada pelo nanico PSL no domingo passado. Ele continua liderando as pesquisas eleitorais na situação em que Lula não for candidato. Mesmo assim, ele está encontrando dificuldades para celebrar coligação com outra legenda. A mesma dificuldade existe para escolha do seu candidato à vice-presidência. Por enquanto, Bolsonaro só tem a garantia de dispor menos de um minuto no horário da televisão e rádio.

PSOL quer mais parlamentares - O PSOL oficializou Guilherme Boulos como seu candidato presidencial e para a vice-presidência lançou Sônia Guajajara, a primeira indígena a disputar o cargo. Fez coligação com o também nanico PCB. O objetivo da campanha de Guilherme Boulos é tentar turbinar a eleição de vários deputados federais e estaduais e de senadores. A estratégia é fazer o PSOL crescer no âmbito legislativo. Boulos nasceu em 1982, em São Paulo, e se formou em filosofia pela USP. Ele é também formado em psicanálise, professor e escritor. Atualmente, Boulos é coordenador do Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MTST).

Paulo Rabello - O nanico PSC lançou Paulo Rabello como seu candidato presidencial. Sem alianças, o ex-presidente do IBGE e do BNDES afirmou que sua coligação é com o povo. Declarou ter ficado cansado de elaborar propostas para partidos e parlamentares, e que agora a “bronca será com ele mesmo”.

Marina Silva - No cenário sem Lula candidato, a ex-ministra e ex-senadora Marina Silva (Rede) continua ocupando o segundo lugar (12%) nas pesquisas eleitorais, ficando atrás apenas do deputado Jair Bolsonaro (17%). Mas ela como candidata está também isolada, sem perspectiva de aliança com outras legendas. Ela tentou atrair o apoio do PPS e do PV, mas os dois partidos acabaram apoiando o tucano Geraldo Alckmin. Sua campanha poderá ser afetada por falta de tempo na televisão e no rádio. Marina Silva está apostando na adesão à sua campanha dos chamados movimentos cívicos e também, para turbinar sua campanha, contará com o trabalho dos apoiadores nas redes sociais.

MDB sem candidato - Ainda o maior e mais bem estruturado partido do país, o MDB caminha para não ter candidato presidencial. Isso porque a maioria dos seus caciques está com a corda no pescoço, colocada pela operação Lava-Jato. O seu pré-candidato, o ex-ministro Henrique Meirelles, está sendo bombardeado pelos principais líderes emedebistas, à frente, o senador alagoano Renan Calheiros, que está alinhado com o PT em seu estado de Alagoas. A tática de bom número de caciques é eleger muitos deputados e senadores para, depois, no Congresso Nacional, pressionar o novo presidente, para ocupar importantes cargos na Esplanada dos Ministérios. Vão repetir a política que usam há muitos anos.

Michel Temer atuante -  Mesmo com as declarações de Geraldo Alckmin de querer distância do governo, o presidente Michel Temer tem ajudado a pavimentar o caminho para o candidato do PSDB chegar ao Palácio do Planalto. Fará de tudo para que Ciro Gomes e o candidato do PT não cheguem ao segundo turno das eleições. Ciro afirmou que, se eleito, sua primeira providência será mandar prender Michel Temer. O PT o chama de “traidor”, culpando-o pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff. Embora não declare publicamente, não acredita no êxito da candidatura do seu ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, pelo MDB. Michel Temer está convicto que a maioria dos parlamentares do seu partido engrossará a campanha de Geraldo Alckmin.

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