Nuvem prateleira surgiu na tarde de segunda (3); climatologista Rodolfo Bonafim explicou o fenômeno, também registrado nesta mesma época, em 2023
Esther Zancan
Publicado em 04/02/2025, às 14h25 - Atualizado às 14h51
Quem olhou para o céu na tarde de segunda-feira (3), na Baixada Santista, no litoral de São Paulo, levou um susto: uma nuvem parecida com um tsunami surgiu no horizonte, transformando o dia em noite. A imagem da nuvem na orla de Praia Grande também foi postada pelo perfil do Instagram Praia Grande Agora e causou espanto em internautas. Apesar de parecer saída de um filme-catástrofe, a nuvem até provocou pancadas fortes de chuvas em algumas cidades da região, mas algo abaixo do que aquela muralha de nuvens prognosticava.
Mas, tsunami não é o termo correto para denominar o fenômeno meteorológico. A formação diferentona é chamada de nuvem prateleira, ou shelf cloud. O Costa Norte conversou com o climatologista Rodolfo Bonafim, da ONG Amigos da Água, de Santos, e do canal no Youtube Geoastrodicas, para entender melhor o fenômeno.
O climatologista explicou que as mudanças climáticas favorecem as condições para a formação dessas nuvens em regiões que, anteriormente, não registravam o fenômeno, como é o caso da Baixada Santista. As nuvens prateleira geralmente se formam em locais de clima temperado. No Brasil, é comum nos pampas gaúchos ou em áreas planas do Paraná. Nos EUA, elas costumam se formar nas pradarias, onde estão localizados os corredores de tornados.
Bonafim lembrou que as nuvens prateleiras têm se formado no litoral de São Paulo desde o verão de 2023. Inclusive, no mesmo dia 3 de fevereiro, mas de 2023, houve o registro da formação de uma nuvem prateleira na Baixada Santista, o que, na época, foi considerado praticamente inédito.
Para a formação da nuvem prateleira, Bonafim disse que certas condições devem estar presentes, como tempo muito instável, temperatura do ar próxima ao solo estar elevada, e existir uma camada de ar frio logo no caminho da subida do ar quente. A Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), que provocou a chuvarada dos últimos dias no litoral paulista, apesar de já ter enfraquecido, também colaborou para a formação da nuvem prateleira da segunda-feira.
“A rápida subida do ar quente, ao encontrar a camada fria na atmosfera, forma um padrão de ondas, daí o aspecto de prateleira”, explicou Bonafim. O calor registrado na segunda-feira, também devido ao enfraquecimento da ZCAS, criou uma bolha de ar quente, que subiu muito rápido para a atmosfera, e favoreceu o surgimento da nuvem atípica. Apesar de assustadora, o climatologista frisou que a nuvem prateleira não cria tornados, apenas rajadas de vento.
Bonafim também advertiu que ainda existe risco de chuvas para esta terça-feira (4), que podem vir em forma de pancadas fortes. A probabilidade dessas chuvas diminuirem é a partir de quarta-feira (5).
Esther Zancan
Formada pela Universidade Santa Cecília, Santos (SP). Possui experiência como redatora em diversas mídias e em assessoria de imprensa.