TEMPESTADE

Mesmo com rajada de 151 km/h, não foi um furacão que atingiu o litoral de SP

MetSul Meteorologia explicou tempestade na Baixada Santista na tarde da sexta-feira (3); climatologista comparou fenômeno a um "exército em marcha"

Esther Zancan
Publicado em 06/11/2023, às 10h20

FacebookTwitterWhatsApp
Imagem de satélite mostra linha de instabilidade que avançou por SP na tarde de sexta-feira (3) - Reprodução/MetSul
Imagem de satélite mostra linha de instabilidade que avançou por SP na tarde de sexta-feira (3) - Reprodução/MetSul

O temporal que atingiu o litoral de São Paulo, em especial a Baixada Satista, e também a Região Metropolitana de São Paulo e cidades do interior na tarde de sexta-feira (3), chegou de repente, provocou muitos estragos e assustou a população. Imagens que circularam pelas redes sociais mostraram flagrantes de postes de energia explodindo, telhados se desprendendo como se fossem feitos de papel e até a estutura de um posto de combustível desabando em Santos.

Para se ter uma ideia da força da natureza, a Praticagem do Porto de Santos chegou a  registrar uma rajada de vento de 151 km/h. Com tanta força assim, não é de se espantar que alguns tenham cogitado que a forte tempestade que passou pelo estado de São Paulo tenha sido um furacão. Mas não foi nada disso.

Segundo a MetSul Meteorologia, uma rajada de vento dessas é equivalente à força do vento de um furacão categoria 1 na escala Saffir-Simpson de furacões. Mas a MetSul lembra que vários fenômenos meteorológicos têm a capacidade de produzir ventos com tamanha força. Nesse caso, o instituto informa que uma frente de rajada, acompanhando uma poderosa linha de instabilidade, na dianteira de uma frente fria associada ao ciclone extratropical na costa do Rio Grande do Sul foi a causa do violento vendaval no litoral paulista.

Ainda segundo a MetSul, essas linhas de instabilidade são conhecidas em inglês como squall lines ou QLCS, e são capazes de gerar ventos horizontais e violentos.

O instituto também explicou que a rajada de 151 km/h que atingiu o Porto de Santos durou apenas alguns segundos e que, durante um furacão, os ventos ficam acima dos 120 km/h durante horas. Também não havia nenhum ciclone tropical (furacão) no Atlântico Sul. O que havia era um ciclone extratropical em formação na costa do Rio Grande do Sul, a mil quilômetros de distância da Baixada Santista. 

A MetSul lembrou também que, segundo o Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos (NHC), a definição para furacão é de “um ciclone tropical de núcleo quente em que o vento de superfície máximo sustentado (usando a média de 1 minuto) é de 64 nós (119 km/h) ou mais”.

Posto de Gasolina caído em Santos
Fortes ventos chegaram a derrubar a estrutura de um posto de combustível em Santos - Reprodução/Redes Sociais

"Exécito de CBs"

Mas não foi só no Porto de Santos que o vento soprou furioso. Segundo o climatologista Rodolfo Bonafim, da ONG Amigos da Água, de Santos, houve um rajada de 102 km/h no bairro do Boqueirão (Santos) e uma de 106 km/h na praia de Pitangueiras, em Guarujá.

Bonafim definiu a linha de instabilidade que passou pelo estado de São Paulo na sexta-feira como um "exército de CBs". "CBs" são as famosas cumulonimbus, nuvens associadas com a ocorrência de tempestades com raios, trovões, chuva intensa, fortes ventos e queda de granizo. O "exército" marchou em fileira bem na direção da Baixada Santista e da Região Metropolitana de São Paulo. 

Bonafim lembrou ainda que eventos como esse são bem difícieis de prever e, diante das mudanças climáticas, a previsão do tempo terá que se refinar cada vez mais. O climatologista também falou sobre o fenômeno El Niño. Normalmente o fenômeno que provoca o aquecimento das águas do oceano Pacífico na altura do Equador é responsável por muita chuva na região Sul do Brasil, mas não no estado de São Paulo, onde se registra apenas mais calor. Mas neste ano está acontecendo algo diferente, com as chuvas chegando até o território paulista. Ele explicou que isso pode estar ocorrendo porque as águas do oceano Atlântico também estão aquecidas.

Esther Zancan

Esther Zancan

Formada pela Universidade Santa Cecília, Santos (SP). Possui experiência como redatora em diversas mídias e em assessoria de imprensa.

Receba o melhor do nosso conteúdo em seu e-mail

Cadastre-se, é grátis!