*Foto: Marina Veltman
Um grupo de trabalhadores manifestou-se durante a primeira sessão ordinária da Câmara de São Sebastião, realizada na última terça-feira, 2, revoltado com o processo de contratação de profissionais da construção civil na cidade. Liderado pelo presidente do Sindicato dos Trabalhadores de São Sebastião, Sebastião Vieira de Souza Filho, o Tião, o grupo acusou membros da casa, mais especificamente os vereadores Luiz Santana Barroso (PSD), o Coringa, e Marcos Fuly (PP), de manipulação de vagas de emprego e indicações de profissionais para a construtora Queiroz Galvão, contratada da Dersa para a realização das obras da Nova Tamoios na cidade – trecho conhecido como contorno sul.
Segundo apontado, a empreiteira divulgou aos interessados, que diariamente buscam vagas em seu canteiro de obras, que abriu, na semana passada, 18 vagas: 14 para ajudantes; duas, para pedreiros; e 2, para armadores. Ainda seguindo orientação da construtora, os profissionais foram encaminhados ao PAT (posto de atendimento ao trabalhador), responsável – após desenvolvimento de legislação própria – por organizar todo o processo de contratação para obras na cidade, motivo pelo qual encontraram dificuldades em verificar as vagas. Segundo Tião, “primeiro, a atendente disse que não tinha vagas. Depois de irmos e voltarmos várias vezes, sem desistir do cadastro, as vagas apareceram”.
Porém, o líder sindical afirma que o cadastro não rendeu frutos. “Foram mais de 50 trabalhadores cadastrados, todos com perfis e experiências que se enquadravam nas vagas, e nenhum foi contatado. Eles não estão mandando os currículos do PAT, e, sim, apenas os filtrados e encaminhados pelos vereadores”, acusa Sebastião: “As vagas chegam lá já preenchidas. Precisamos ter um representante sindical de cada bairro, que está com obras para fiscalizar, o real encaminhamento das vagas, evitando esses desvios”.
O vereador Marcos Fuly prontamente rebateu a acusação, afirmando não ter nenhuma influência no processo. “Desafio a acharem um trabalhador que tenha vindo pela minha indicação. Antes, ainda fornecia cartas de recomendação, assim como outros colegas, mas até isso já não faço mais. Não temos nenhum controle sobre essas vagas e essa denúncia é equivocada”.
Muito insatisfeito com o processo de contratação, o presidente do sindicato declarou que a ineficiência do sistema é gritante, revelada pelos números. “O PAT divulgou 450 vagas e só foram contratados 29 trabalhadores. De onde vieram os outros? Quem tem controle sobre isso?”.
Revogação de lei
No calor da discussão, uma das propostas levantadas foi a de revogar a legislação criada ano passado, que estabelece a contratação de profissionais para as obras do contorno, exclusivamente pelo PAT. O líder do governo na casa, Onofre Neto (PHS), disse: “A ideia era conseguir, com isso, mais controle sobre as vagas, impedindo importação excessiva de trabalhadores. Se não está funcionando, podemos revogar. Me comprometo aqui a verificar o que está acontecendo no PAT, para termos uma ideia melhor de quais seriam as lacunas”.
Marcos Fuly endossou a sugestão: “Vamos trazer o PAT para a Câmara, com a lista de quem tem sido contratado, e avaliar em conjunto com os trabalhadores. Temos que chamar a responsabilidade do PAT, local que temos como vistoriar, para a gente”.
Com base nas acusações, o vereador Gleivison Gaspar (PMDB) foi mais taxativo. “Existe uma força oculta nesse processo. Não sabemos o que rola nos bastidores. Se o processo feito pelo PAT, onde temos maior vigilância, não está sendo eficiente e os gastos não são verdadeiros, ou pior, se a Queiroz Galvão manda uma lista e esta chega primeiramente ao poder de alguém que tenha interesse e a manipula, antes de chegar aos trabalhadores, então é válido abrirmos uma sindicância”. Um novo encontro com membros do sindicato, construtora, vereadores e PAT foi agendado para a semana que vem, quando o processo de contratação será colocado na pauta.
Queiroz Galvão nega influência
Contatada, a construtora Queiroz Galvão, responsável pelas obras dos lotes 3 e 4 da Nova Tamoios Contornos, em São Sebastião, informa que todas as vagas abertas são informadas ao PAT de São Sebastião, que encaminha os candidatos à empresa. Nota da empresa informa: “Eles são entrevistados e, caso haja necessidade, passam por testes práticos. Em seguida, os aprovados são contratados conforme a demanda da construtora”. Com relação à influência de políticos nas contratações, a construtora é enfática: “No que se refere à Construtora Queiroz Galvão, não há influência política na contratação de trabalhadores, mesmo porque a responsabilidade pelo encaminhamento dos candidatos às vagas é do PAT”.
Ainda sobre a afirmação de que as vagas divulgadas recentemente teriam sido preenchidas de forma arbitrária, a empresa esclarece: “No final de janeiro, foram solicitadas vagas para diversos cargos, como ajudante, armador, pedreiro, carpinteiro e montador de andaime. Todos os candidatos que compareceram após o encaminhamento do PAT passaram por entrevista. A partir daí, a empresa tem chamado os trabalhadores aprovados”, conclui a nota.
RETRANCA RETRANCA RETRANCA
Contratações seguem em alta
Foco de intensas disputas e confrontos políticos, as contratações para as obras da Nova Tamoios - Contornos seguem em alta no litoral norte. Segundo divulgado pela Dersa – Desenvolvimento Rodoviário S/A – estatal responsável pelas obras da via, de cada dez admissões registradas pela construção civil de Caraguatatuba e São Sebastião, no ano passado, quatro foram geradas diretamente pela construção da Nova Tamoios. A constatação vem da comparação dos números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego, com os dados contabilizados pelas duas construtoras contratadas pela Dersa para executar as obras do empreendimento: Serveng e Queiroz Galvão.
Segundo o Caged, de 1º de janeiro a 31 de dezembro do ano passado, a construção civil foi responsável pela admissão de 3.836 trabalhadores nos dois municípios. Desse total, 1.610 trabalhadores (42%) foram contratados pelas construtoras do empreendimento. Ou seja, estas duas empresas absorveram uma média de 134 novos trabalhadores por mês, na região.
Estes números ajudam a explicar as razões da região ter fechado 2015 com resultados positivos para os empregos no setor da construção civil. Segundo dados do Caged, o saldo anual entre admissões e demissões para Caraguatatuba e São Sebastião aumentou em 65 postos de trabalho e demonstra a boa capacidade de grandes obras de infraestrutura, para conter efeitos do cenário recessivo sobre os empregos.
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