Profissionais da saúde foram enviados ao Litoral Norte para auxiliar no atendimento das vítimas e ajudaram a socorrer mais de 300 pessoas
A missão de salvar vidas de quatro profissionais do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) de São Vicente ultrapassou os limites da cidade vicentina e pegou a estrada para levar acolhimento, socorro e um pouco de esperança para milhares de famílias atingidas pela tragédia das chuvas em São Sebastião.
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Dr. Vandré Roma, coordenador médico, Eder Fernandes, coordenador de frota, Silvia Letícia, enfermeira e Raphael de Lima, técnico de enfermagem, atenderam a um pedido de ajuda das autoridades de São Sebastião e não pensaram duas vezes.
"Houve a preocupação de que a nossa ida até São Sebastião não prejudicasse o atendimento do SAMU aqui em São Vicente. Conversamos com nossos colegas, remanejamos plantões e, com a segurança de que o cidadão vicentino não ficasse desguarnecido, seguimos rumo ao local da tragédia", explicou o coordenador médico.
No trajeto até São Sebastião já foi possível sentir o que viria pela frente. A equipe se deparou com barreiras caídas na estrada, máquinas trabalhando e vários trechos perigosos, em que era possível passar apenas um carro por vez. "Uma viagem que normalmente demora três horas, levamos sete horas para concluir", explicou Dr. Vandré.
Chegando lá, a equipe se deparou com uma situação nunca antes vivida pelos profissionais. "A impressão que tínhamos era de que o morro havia trocado de lugar com a cidade, tamanho era o volume de lama que havia invadido as ruas e as casas. Eram montanhas de lama com árvores retorcidas", descreve o médico.
Somente nas primeiras 24 horas, a equipe realizou cerca de 200 atendimentos, desde auxílio no resgate de pessoas ilhadas em telhados, passando pelo socorro de mulheres grávidas e pessoas idosas com dificuldade de locomoção, até um caso em que precisaram reverter um quadro de infarto de um homem.
A equipe do SAMU de São Vicente ficou concentrada na Vila do Sahy, a região mais afetada pelas chuvas e deslizamentos. "Precisamos focar no nosso trabalho de socorro, mas por várias vezes desempenhamos papel de psicólogos, pois as pessoas estavam abaladas e precisavam desabafar. Crianças estavam com medo que o teto de uma escola desabasse; estivemos ao lado de familiares que faziam o reconhecimento dos corpos. Foram momentos bem difíceis", relata Eder, coordenador de frota.
A realidade de uma tragédia desse tipo vai além daquilo que muitas vezes podemos imaginar. Os profissionais descrevem, por exemplo, o desespero de pessoas que perderam tudo nos deslizamentos, incluindo medicamentos de uso contínuo, fórmulas alimentares especiais para pacientes acamados, cilindros de oxigênio, e tiveram que ajudar a providenciar tudo isso emergencialmente.
Missão dada é missão cumprida. E eles cumpriram com muita dedicação. Quase uma semana depois eles já estão de volta a São Vicente trazendo na alma tudo o que viveram.
A enfermeira Silvia já havia trabalhado nas tragédias de março de 2020 na Baixada Santista e se deparou novamente com uma catástrofe natural. "A experiência de São Sebastião foi tão difícil quanto a catástrofe do Guarujá, onde atuei mais especificamente. Trago muitas lições, entre elas a de confiar nas pessoas cada vez mais, pois ainda existe muita gente boa no mundo. Nós vimos muitos voluntários lá, atuando ao nosso lado. Gente que viveu a tragédia na pele, e mesmo assim estava lá ajudando".
Silvia é mãe e chegou um momento em que a saudade da família bateu forte. Por outro lado, o sentimento de cumprir o dever também falava alto. "Quando nosso trabalho chegou ao fim, eu não via a hora de chegar em casa e dar um abraço forte no meu filho, depois de tantas coisas tristes que presenciamos lá", completou.
"Na minha vida pessoal, passei a valorizar mais ainda as pessoas que amo. Viver o hoje como se fosse o último dia. Pude conviver mais com meus colegas e reconhecer os grandes profissionais que temos no SAMU de São Vicente", disse o técnico em enfermagem, Raphael.
"O sentimento é de muito orgulho porque são profissionais que prontamente atenderam à solicitação e dedicaram seu tempo para ajudar pessoas em outro município. Tenho certeza que eles fizeram a diferença em São Sebastião", enfatizou a secretária de Saúde, Michelle Santos.
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“São guerreiros, profissionais valorosos. Somos todos irmãos e eu só tenho a agradecer porque eles entenderam a importância da ajuda neste momento. São Vicente está junto nessa rede de apoio para que os municípios possam se recuperar. Este gesto simboliza a preocupação que temos para com as demais cidades”, ressaltou o prefeito Kayo Amado.
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