Cidade completa 387 nesta quarta-feira, 16 de março
São Sebastião comemora, nesta quarta-feira, 16, 387 anos de emancipação política.
Primeira da região a se emancipar, a cidade guarda importante papel na história nacional, com sua participação remontando ainda aos tempos da colonização.
Mas vamos por partes...
Pouco tempo após o descobrimento do Brasil, em 1500, a expedição de Américo Vespúcio avistou as terras sebastianenses, passando ao largo da ilha de São Sebastião (a vizinha Ilhabela).
A data era 20 de janeiro de 1502, daí o nome do município, em homenagem ao santo celebrado neste dia. À época da colonização portuguesa, logo após a divisão do país em Capitanias Hereditárias (quando o rei D. João III, em 1534, separou o território brasileiro em grandes faixas entregues para ser administradas por nobres portugueses) o município foi ocupado, tendo como sesmeiros Diogo de Unhate, Diogo Dias, João de Abreu, Gonçalo Pedroso e Francisco de Escobar Ortiz, que iniciaram a povoação local, implantando uma economia baseada em agricultura e pesca.
Até então, as terras locais eram ocupadas por índios: tupinambás, ao norte, e tupiniquins, ao sul, e a divisão territorial indígena era a serra de Boiçucanga, na costa sul sebastianense, que separava os rivais. As duas tribos sobreviviam basicamente da caça e da pesca.
Na Mata Atlântica encontravam os demais alimentos necessários à sua sobrevivência, como frutas, palmito, entre outros. Eles eram também exímios canoeiros e pescadores.
As lutas entre as duas tribos se intensificaram depois da vinda dos portugueses. Os europeus, necessitando de mão-de-obra, começaram a capturar índios e vendê-los como escravos nos engenhos nordestinos.
Os tupiniquins se aliaram aos portugueses para auxiliar na captura de seus rivais, os tupinambás, que acabaram por sofrer as perseguições.
A praia de Boiçucanga foi palco de inúmeras lutas entre as duas tribos. A partir de 1558, índios de várias tribos, liderados pelos tupinambás, formam a Confederação dos Tamoios a fim de combater a escravidão a que estavam submetidos.
Os tupiniquins fogem, perseguidos pelos tupinambás. Estes, futuramente, também se afastaram da região, seguindo os franceses rumo ao Maranhão. Assim, as tribos originárias da cidade deixam de existir. Os agrupamentos indígenas presentes atualmente no município - em Boraceia e Barra do Uma – são de índios guaranis, que viviam no interior do Brasil e vieram para o litoral bem mais tarde.
Por volta de 1600, inicia-se a ocupação. Os sesmeiros, vindos da Vila de Santos, cedem um terreno ao santo padroeiro local (São Sebastião), para que, no local, fosse erguida uma capela.
Ainda no século XVII, ergueram a Igreja Matriz da cidade, importante símbolo de religiosidade e desenvolvimento do município, construída com pedra, cal de conchas e óleo de baleia, em estilo jesuítico, com composições renascentistas, moderadas e regulares, imbuídas do espírito severo da Contra-Reforma.
O frontão reto, triangular, mostra a transição entre o Renascimento e o barroco, e a capela-mor - mais estreita - é o modelo mais comum do Brasil colonial.
A cidade foi sendo formada no entorno da igreja, onde ruas e casas coloniais permanecem até hoje preservadas, originando um importante centro histórico, com sete quarteirões tombados, a partir de 1970, pelo Condephaat - Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arquitetônico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo.
Entre as construções históricas mais relevantes, destaque para a Casa Esperança, Casa da Cadeia e o prédio no qual, hoje, encontra-se a Câmara, todos na área do entorno da avenida da Praia.
Também coloniais, diversas construções foram feitas pelas ordens religiosas instaladas na cidade, muitas ainda preservadas.
Os franciscanos, por exemplo, construíram o Convento de Nossa Senhora do Amparo, entre 1650-1659 no bairro de São Francisco. A ordem Carmelita instalou-se em Guaecá.
Os filhos das importantes famílias da região financiaram a construção de capelas, como as de São Gonçalo e Nossa Senhora da Conceição de Boiçucanga.
Com a ocupação portuguesa e a atuação dos sesmeiros, a agricultura – majoritariamente focada em dezenas de engenhos de cana de açúcar – proporcionou um desenvolvimento econômico local e a instalação de povoados, caracterizando a São Sebastião de então como núcleo individual habitacional e político.
Tal foi a força econômica, que possibilitou, em 16 de março de 1636 – apenas pouco mais de 100 anos após a instalação das Capitanias – a emancipação político-administrativa de São Sebastião.
Além de reconhecimento à pujança econômica, a emancipação trazia consigo outra motivação: proteger a região dos frequentes ataques de piratas e corsários vindos da Inglaterra, França e Holanda, que circulavam na região, visando o grande tráfego de navios mercantes da frota real portuguesa.
Canhões protegiam a vila dos invasores que utilizavam a ilha de São Sebastião (Ilhabela) como refúgio e costumavam atacar e saquear os povoados. O principal deles, o lendário pirata inglês Thomas Cavendish, usava a região como base, saqueando cidades desde a Patagônia, sul da Argentina, até o Nordeste brasileiro.
Com a economia cada vez mais fortalecida, a agricultura passou, além de cana-de-açúcar, a produzir quantidades relevantes de café e fumo. A pesca também se fortaleceu, tendo como produto expoente a carne de baleias (utilizada de diversas maneiras à época).
Com o apogeu da extração de metais preciosos em Minas Gerais, entre 1720 e 1780, o porto de São Sebastião tornou-se essencial como escoadouro do ouro - tanto o legal como o contrabandeado – vivendo uma fase de grande enriquecimento local.
Além de escoar o ouro, a cidade fornecia alimentos à população mineira, dando ainda maior impulso à agricultura. Tal produção estimulou a circulação de navios mercantes, o que tornou o porto local – o de maior calado natural do país – um ponto relevante no transporte dessas mercadorias, movimentando produtos oriundos de mais de uma centena de fazendas instaladas na região.
Porém, com a abolição da escravatura, em 1888, as fazendas entraram em crise (em 1854 trabalhavam em São Sebastião cerca de 2.200 escravos, principalmente na produção cafeeira), diminuindo drasticamente a produção.
Além disso, a abertura da ferrovia Santos-São Paulo, em 1870, já afetava a movimentação portuária local, com muitas das mercadorias passando a ser escoadas pelo porto de Santos.
O porto – e a cidade – sentiram o grande baque econômico, e a economia local passou a se focar predominantemente na pesca artesanal e na agricultura de subsistência (cultivo para uso próprio, e não mais para comercialização em grande escala).
Foi então que as pequenas roças de mandioca, banana, feijão e milho cresceram no município, dando suporte às comunidades caiçaras, complementando à pesca. Tais cultivos são até hoje tradicionais nas comunidades isoladas presentes na região.
Tal declínio econômico perdurou até 1940, quando se implantou uma real infraestrutura portuária, início de uma retomada nas movimentações. Porém, apenas em 1960, com a instalação do terminal marítimo de petróleo (Tebar), com capacidade de atracagem para navios de até 400.000 toneladas, que o desenvolvimento econômico ganhou forças novamente.
Com a região central focada na economia portuária, estimulada pelo terminal de petróleo, a cidade só descobriu sua vocação turística no final da década de 1970, quando foi aberta a rodovia Rio-Santos.
Pouco a pouco, as praias da costa sul sebastianense ganharam o público, inicialmente formado por aventureiros e surfistas em busca de ondas, presentes nas praias de Maresias e Cambury, depois por veranistas de alto poder aquisitivo, o que estimulou a instalação de dezenas de pousadas e hotéis pela costa, no chamado boom hoteleiro, ocorrido na década de 1990.
No início dos anos 2000, ganhou fôlego uma grande especulação imobiliária, com a construção de dezenas de condomínios de luxo em diversas praias, com destaque para Juquehy, e, na década seguinte, na praia da Baleia.
Atualmente, além da vocação portuária, São Sebastião é reconhecida como destino turístico de relevância nacional, com as duas frentes econômicas como fator de desenvolvimento local.
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