Por Marina Veltman
Investidores estimulados pelo governo do estado de São Paulo estão sondando o porto de São Sebastião, para receber a instalação de um Terminal de Regaseificação de Gás Natural Liquefeito – GNL. No Brasil, já existem terminais semelhantes no Rio de Janeiro, Ceará e Bahia. A ideia, segundo apurado pelo Jornal Costa Norte, é importar o gás em sua forma líquida, 600 vezes mais compacta do que na condição gasosa, regaseificá-lo no terminal para, então, distribuir o insumo pelo estado.
O subsecretário de Petróleo e Gás do estado de São Paulo Ubirajara Campos explica: “O interesse existe e investidores estão estudando a possibilidade de instalar esse terminal em São Sebastião ou em Santos. São grupos privados, o que não nos permite saber em que pé exatamente estão os estudos, mas as duas cidades possuem áreas que são objetos de atenção, por possuírem uma condição portuária estruturada”.
Segundo o subsecretário, São Sebastião estaria bem posicionada na disputa: “A cidade tem uma estrutura possível para escoamento do gás para o planalto e apresenta níveis semelhantes de infraestrutura”. A meta do Governo, com a instalação do terminal, é importar o material e estimular o consumo de até 15 milhões de metros cúbicos do gás ao dia. O governo não descarta, inclusive, a instalação de uma termelétrica no estado, que, sozinha, já responderia por 40% da demanda desse gás.
Segundo Campos, “São Paulo é o maior mercado de gás do Brasil, sendo que 80% desse consumo é feito pela indústria, o que torna esse insumo um energético fundamental para nosso estado. O que está acontecendo agora é que, em função da queda do preço do petróleo, o preço do GNL oscilou para baixo, ampliando a oferta no mundo. Isso vai ao encontro da nossa demanda, atualmente reprimida em toda a região Sudeste, o que causou essa movimentação de intenções”.
A favor de São Sebastião
O diretor-presidente da Companhia de Docas de São Sebastião Casemiro Tercio Carvalho confirma o interesse dos investidores, e destaca as vantagens do município. “A necessidade de gás no nosso país é notória, em decorrência da crise hídrica, o que cria essa demanda.Uma usina dessas não vem sozinha, precisa de uma térmica, e São Sebastião teria espaço para isso, enquanto Santos está saturado. Porém, a Baixada já tem a malha da Comgás para subir o gás para o planalto, enquanto nós teríamos que alugar a da Petrobras, o que exige um volume considerável para se fazer possível. Em termos ambientais, os dois portos estão em pé de igualdade”.
O novo terminal, se instalado, seria um fator local de geração de empregos, mas em proporções contidas. O subsecretário Campos informa: “Normalmente, esses terminais são um barco atracado em um píer, onde é feito o armazenamento e a regaseificação. São estruturas modulares e que não exigem uma grande estrutura em terra. Porém, dependendo da capacidade de movimentação do terminal, essa estrutura pode aumentar, mas não é um efetivo expressivo”.
Apesar da intensa sondagem, nenhuma proposta formal foi efetuada, até o momento. Segundo Campos, “essas empresas vieram nos procurar (governo), para comunicar a intenção de instalar esse terminal. Porém, a maturação de um projeto desse tipo é estratégica, não tem divulgação. Se a decisão se materializar, faremos os estudos e daremos o apoio institucional necessário, avaliando questões de meio ambiente e comercialização. Mas ainda não chegamos nesse momento”.
A discussão ainda não alcançou a municipalidade, conforme conta o prefeito de São Sebastião Ernane Primazzi: “Não fui procurado por ninguém, até o momento. Teria que verificar o projeto, quais suas implicações, para saber se é de interesse do município ou não. Sendo uma proposta ambientalmente interessante, economicamente saudável, estruturalmente viável, a prefeitura estaria disposta a apoiar e, inclusive, estimular através de isenções fiscais. Porém, nada disso é possível antes de termos acesso aos projetos”.
Como sinal da possibilidade real da instalação desse terminal, em evento recente, em São Paulo, o secretário de Estado de Energia João Carlos Meirelles afirmou que a distribuidora de gás, que fornece o produto canalizado para a região metropolitana da capital, já estaria, atualmente, adequando-se a uma realidade, considerando esse novo cenário. Se as propostas acabarem sendo formalizadas, Ubirajara Campos afirma que o processo de instalação seria curto, de cerca de dois anos, mas que dependeria também da liberação das licenças do Ibama e Cetesb, além dos trâmites municipais. O presidente da Docas, Tercio Carvalho, disse: “As portas foram abertas. Estamos agora em negociação”.
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