MEDO NA DIVISA

Santos anuncia auxílio para famílias de comunidade afetada por piscinão

Gestão municipal disse que auxílio financeiro será pago mensalmente a cerca de 110 famílias. Piscinão foi inaugurado recentemente sob promessa de diminuir enchentes em Santos, mas, segundo moradores da Ilha dos Bugres, na divisa com São Vicente, efeito na comunidade tem sido o inverso

Da redação
Publicado em 27/07/2023, às 16h19 - Atualizado às 16h44

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Moradoras recorreram às mídias sociais para mostras alagamentos capa - “Isso aqui vai virar um tsunami”: piscinão de Santos está inundando favela em São Vicente, denunciam moradores Montagem com três fotos que mostram comunidade alagada - Imagem: Acervo / Patrícia de Oliveira e Aline Silva
Moradoras recorreram às mídias sociais para mostras alagamentos capa - “Isso aqui vai virar um tsunami”: piscinão de Santos está inundando favela em São Vicente, denunciam moradores Montagem com três fotos que mostram comunidade alagada - Imagem: Acervo / Patrícia de Oliveira e Aline Silva

A prefeitura de Santos, no litoral de SP, anunciou na tarde de ontem (26) que pagará auxílio financeiro a famílias que vivem em moradias afetadas pela abertura das comportas de um piscinão inaugurado há pouco mais de um mês na divisa com São Vicente. O caso foi divulgado na terça-feira pelo Portal Costa Norte.

Moradores da Ilha do Bugre, às margens do Rio dos Bugres, afirmam que estão aterrorizados por alagamentos provocados pela abertura das comportas do piscinão.

A prefeitura de Santos disse que a Companhia de Habitação da Baixada Santista (Cohab-ST), dará aporte para que São Vicente retire as famílias das moradias na faixa de alagamento. “A iniciativa é fruto de tratativas entre as duas administrações, iniciadas em 2021”, explicou a prefeitura santista. “A Cohab-ST recebeu da Secretaria de Habitação e Regularização Fundiária de São Vicente (Sehab-SV) uma listagem preliminar dos beneficiados. 

Segundo a gestão municipal santista, o auxílio financeiro será pago mensalmente pela Cohab-ST a aproximadamente 110 famílias relacionadas pela Sehab-SV, que é responsável pela desocupação das moradias, demolição das vazias e pelo atendimento habitacional definitivo. O órgão não informou o valor dos auxílios.

"Meu barraco começou a ceder"

Em construção desde agosto de 2021 no final da avenida Haroldo de Camargo, no bairro Castelo, o piscinão ou Estação Elevatória com Comportas (EEC) começou a operar em maio deste ano após uma inauguração pomposa.

“Este projeto demandou muito planejamento e investimento para sair do papel e mudar a vida de muitas famílias”, disse, na ocasião, o prefeito santista Rogério Santos (PSDB). “Esta obra é mais que uma estação elevatória, é muito mais que um piscinão”. 

Autoridades e moradores durante inauguração do piscinão, em maio “Isso aqui vai virar um tsunami”: piscinão de Santos está inundando favela em São Vicente, denunciam moradores Pessoas assistindo a água escoar de piscinão (Imagem: Divulgação / Prefeitura de Santos)

A expectativa é que a estrutura composta por três bombas, uma estação elevatória, um canal e uma comporta diminua a  ocorrência de enchentes na Zona Noroeste santista. No entanto, no lado de São Vicente da favela Ilha dos Bugres, às margens do Rio dos Bugres onde o piscinão deságua, moradores afirmam que o efeito foi o inverso do esperado.

“Eu moro aqui há 39 anos, faço 40 em agosto. Meu pai é o segundo morador da favela”, relatou, na terça, a dona de casa de 39 anos Patrícia de Oliveira. “Até então, nunca encheu barraco. Os transtornos começaram quando começou a obra. Os barracos começaram a ceder, algumas casas de alvenaria começaram a rachar. Mas até aí tudo bem, a gente foi relevando, relevando. Só que aí inauguraram a obra, né? E começaram a ligar as comportas. Aí que acabou com a gente aqui”.

“Tem casas que estão alagadas inteiras”, explicou a autônoma de 25 anos Aline Silva. Ela afirma que saiu às pressas com os filhos assim que as comportas começaram a ser abertas. “Meu barraco começou a ceder. Eu tenho três crianças pequenas. Então, para não arriscar a minha vida e a dos meus filhos, eu resolvi trancar a casa e ficar de favor na casa de outras pessoas, de terceiros. Tive que sair de uma coisa que era minha para não arriscar nossa vida, porque está perigoso”.

Até terça-feira, Aline e Patrícia relataram que entre 60 e 80 barracos continuavam habitados na favela na área que alaga quando as comportas são abertas.

Antes da inauguração do piscinão, elas afirmam que foram procuradas por representantes de órgãos de habitação, sem saber determinar se eram de Santos ou de São Vicente: “Em algumas casas, a minha foi uma delas, o pessoal da prefeitura passou falando que iam colocar a gente no cadastro de um conjunto habitacional, que depois viria um pessoal explicar pra gente, fazer reunião, essas coisas todas. Até agora, ninguém apareceu. Ninguém”, conta Patrícia.

O sentimento - fazem coro as duas moradoras - é de abandono: “Falaram que era pra melhorar, né? Mas na grande realidade, é só pra piorar. Deixaram a gente aí a ver navios, arriscando a nossa vida até acontecer uma tragédia. Esquecerem a gente aqui. A gente é um pessoal esquecido”, desabafou Aline.

“Eu estou indignada porque simplesmente eles podem pensar um pouquinho que são seres humanos que moram aqui. São pessoas”, protestou Patrícia.

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