Mesmo com a região sendo habitada há centenas de anos, a Ponta da Praia só foi reconhecida como bairro em 1967
Da redação
Publicado em 29/06/2022, às 15h13 - Atualizado às 15h20
Ponta da Praia e São Pedro. Não é à toa que as celebrações de aniversário do bairro santista sejam nesta quarta-feira, 29 de junho, mesmo dia do protetor dos pescadores e das embarcações. Moradores e turistas de Santos comemoram os 55 anos do local, que nasceu de um povoado de caiçaras e que carrega, até hoje, forte influência do mar.
Cercada pela água salgada, a Ponta da Praia não abandona as tradições. Mesmo que a modernidade e o desenvolvimento sejam tão visíveis, ainda abriga espaços que relembram a sua origem, como o Aquário Municipal, o Mercado de Peixes e os museus de Pesca, do Mar e Marítimo.
No bairro é comum, inclusive, se deparar com enormes embarcações passando pelo canal do Estuário, a poucos metros da terra firme. Seja um navio de carga com centenas de contêineres ou um dos luxuosos navios de cruzeiros, os olhos se enchem ao avistar os gigantes tão deslumbrantes por meio daquela espiadinha pela janela ou apenas ao andar pelas ruas.
Essa “cara de praia” que o bairro tem é um dos motivos pelos quais a funcionária pública estadual Márcia Regina Henriques Monteiro Martins, de 58 anos, se mudou para a região há cinco. “O ar na Ponta da Praia é diferente, é uma outra sensação. Você passa o canal 6, parece que já muda o visual, você sente esse ar mais praia, mais mar, caiçara mesmo”, explica.
O médico Armando Proença, de 54 anos, também conta que se tornou mais íntimo da água salgada após se mudar para o bairro, há cerca de 20 anos. Desde 2017, ele pratica canoagem e observa que a maior parte dos esportes náuticos é desenvolvida naquela região. “É o pôr do sol mais lindo da cidade. É um privilégio. Todas as fotografias lá são sempre muito bonitas", diz.
Na infância, ambos tiveram bons momentos no bairro. Por mais que não fosse o passeio mais rotineiro de Armando, ele se recorda de ir de carro com o pai em alguns domingos, após a missa, até o Ferry Boat, onde passeavam pela orla.
Já Márcia tinha uma tia que morava naquela região. Ela lembra da sensação de estar “viajando para a praia” quando a visitava, mesmo que sempre tenha morado em terras santistas. “Para nós, a casa dela ficava em outra cidade. Lembro que tinha aquele ar litorâneo que hoje você encontra mais no Litoral Norte, com casas de muro baixo, idas e vindas à praia a pé. Era uma festa”, recorda.
O Aquário e a caminhada pela faixa de areia eram os seus passeios mais comuns. O último hábito, inclusive, se mantém até hoje. “Eu gosto de caminhar pelo calçadão, ir até o canal 3 ou até o Ferry Boat, e voltar. O visual pela orla é lindo. Às vezes volto pelas ruazinhas, até me perco, cada vez faço um caminho diferente porque sempre tem aquela parte que a gente ainda não conhece”, conta.
Essa liberdade de poder andar tranquilamente pelo bairro é uma das vantagens da Ponta da Praia, segundo os moradores. Eles consideram a região muito segura, até mesmo à noite, período em que Márcia costuma sair para passear com Fred, um cão sem raça definida de 3 anos de idade. “Até ele já tem os cantinhos preferidos”.
Asa, uma golden retriever de 7 anos, também costuma passear pelo bairro ao lado de Armando diariamente. Ele e a fiel companheira estão sempre juntos nas praças Ida Trilli Gomes dos Santos e Franklin Delano Roosevelt, além de se divertirem na rampa de skate em frente ao Clube de Regatas Vasco da Gama, onde brincam de “pegar”.
O médico conta que é muito comum encontrar tutores de outros cães passeando pela região com os pets, então acabam interagindo e conhecendo novas pessoas. “Acho que a Ponta da Praia inspira isso, porque é um bairro que te chama para a rua. A transformação da orla, após o Programa Nova Ponta da Praia, estimulou ainda mais esse hábito, porque ficou mais agradável caminhar no calçadão. Então você encontra bastante gente por ali. Isso tudo movimenta as pessoas que desfrutam desses espaços”.
A funcionária pública concorda com Armando. “O calçadão ficou maravilhoso com essa revitalização. Você sai de casa e tem espaços para dar uma volta, respirar, ver gente. Por mais que seja um bairro sossegado e silencioso, também tem atrações como música ao vivo na Praça Vereador Luiz La Scalla”. “Ainda é uma área residencial, por mais que isso esteja mudando, então tem uma proposta mais tranquila. Na minha opinião, é o bairro mais charmoso da Cidade”, garantiu o médico, que se declarou apaixonado pela Ponta da Praia.
Com 2km² de extensão, a Ponta da Praia é delimitada pela rua Comendador Alfaia Rodrigues e Avenida Coronel Joaquim Montenegro. Nunca tendo sido chamada por outro nome, a região foi reconhecida como bairro em 1967, mesmo que a área já fosse habitada há centenas de anos.
O crescimento da Ponta da Praia se deu a partir da inauguração da Via Anchieta, em 1947, o que facilitou o acesso de moradores da capital paulista à cidade de Santos, resultando na compra de terrenos e construção de casas no bairro. Com esse desenvolvimento, os pescadores migraram, aos poucos, para a Ilha Diana, na Área Continental da cidade.
Na década de 60, a modernização também resultou na dissolução da comunidade japonesa que habitava, há quatro décadas, enormes chácaras com plantação de hortaliças na região.
Hoje o bairro abriga importantes equipamentos como a Ponte Edgard Perdigão, o Complexo Esportivo e Recreativo Rebouças, o Blue Med Convention Center e o Deck do Pescador. Os dois últimos, inclusive, foram remodelados junto com a orla e o Mercado de Peixes pelo Projeto Nova Ponta da Praia, uma série de obras e intervenções que resultaram num ambiente completamente renovado e moderno. A reforma também contou com a construção de um Centro de Atividades Turísticas (CAT), instalação de árvores e áreas de convívio, realocação de ciclovias para melhor fluidez no trânsito, entre outras melhorias.
Atualmente, o bairro conta com mais de 30 mil habitantes, 17,7 mil imóveis residenciais, 152 bares, restaurantes e lanchonetes e 18 escolas: sete municipais, uma estadual e dez particulares. Na área da saúde, os munícipes podem contar com os serviços de uma policlínica e do Centro de Apoio Psicossocial. Já nos esportes, além do Rebouças, podem desfrutar da Escola de Esportes Náuticos da Prefeitura (Posto 7), os tradicionais clubes de regatas e o Centro de Memória Esportiva De Vaney, o Museu De Vaney, que conta a história de esportes e esportistas da cidade.
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