ABSURDO

Músico sofre racismo ao ser chamado de escravo em evento de rap na Baixada Santista (SP)

Homem sofreu momentos de constrangimento e ataques verbais durante o evento por parte de uma desconhecida

Amanda Oliver
Publicado em 11/08/2021, às 13h48 - Atualizado em 17/05/2022, às 13h41

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Músico sofre racismo em evento de RAP - Arquivo Pessoal
Músico sofre racismo em evento de RAP - Arquivo Pessoal

Paulo Sérgio Dias Junior, de 31 anos, músico e mestre de cerimonia (MC) em batalhas de rima na Baixada Santista, passou por discriminação racial durante um evento de rap, em Santos (SP).

O crime ocorreu na sexta-feira (6), em um estabelecimento no centro da cidade. Paulo, vulgo Jota Dias, conta que foi chamado de escravo por uma desconhecida, além de diversas outras ofensas que recebeu ao longo do evento.

De acordo com a vítima, as provocações começaram durante uma batalha de rima, enquanto Jota apresentava o ato, uma garota desconhecida proferiu xingamentos, mandando-o “tomar no c*”.

“A falta de respeito começou enquanto eu apresentava a batalha num evento que fui convidado, com três meninas que estavam na frente me mandando pra aquele lugar porque não concordavam com os resultados. Até então, eu como apresentador e pra evitar meu próprio constrangimento, já que elas estavam gritando e todo mundo escutou, estava levando na brincadeira e até tirando sarro junto, porque de fato eu acreditava que era brincadeira”, desabafa o MC.

Mas a situação constrangedora e criminal não parou por aí, não bastassem as ofensas e interrupções durante o trabalho do músico, após o término da batalha de rima Jota passou por um dos momentos mais lamentáveis de sua vida.

“Quando acabaram as batalhas, quase no final do evento, passamos por uma delas e um amigo disse ‘olha foi ela que te mandou tomar no c*’”, conta Jota sobre o ocorrido, e alega que brincou com a mulher pedindo para ela repetir a ofensa, e a mesma repetiu com convicção, após isso o músico disse: “Manda de novo que eu gosto", rindo, e ela simplesmente falou ‘vai tomar no c* escravo’ e saiu andando”.

O ato de racismo foi presenciado pelos amigos do MC, no momento em questão todos ficaram sem reação, pois não esperavam este tipo de atitude dentro de um evento de rap.

“Não é possível que uma pessoa em 2021 ainda ter esse tipo de fala e pensamento, ainda mais falando de uma forma tão escrachada e dentro de um evento de rap, de preto”, conta.

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Vivências

Jota, em seus 31 anos de vida, alega ter passado por situações de racismo velado, mas nunca de maneira tão bruta e cruel: “Pro racista, na hora da raiva, na hora de querer rebaixar ou ofender, não importa, você é preto pra caralho. Mas de fato, diretamente, foi a primeira vez que eu passei por isso e eu sempre pensava em mil coisas quando via acontecer com os outros e falava ‘se fosse comigo’, até o dia que foi e eu não soube nem o que fazer”, desabafa.

O MC guardou para si a situação lastimável durante dias, antes de contar para a família, pois achava que esqueceria com o tempo, mas ocorreu o oposto e prejudicou o psicológico do músico.

Apoio nas redes sociais

Uma publicação de desabafo feita na segunda-feira (9) pela vítima nas redes sociais juntou diversos amigos e conhecidos revoltados com a situação. Muitos procurando justiça e outros apoiando o psicológico de Jota, que alertou para a importância da ação na hora da discriminação racial e não somente apoio moral após a situação, sendo de certa forma conivente com o ato.

De acordo com a vítima, a prima da acusada entrou em contato, posteriormente, alegando que a discriminação ocorreu devido ao uso excessivo de álcool: "É incrível que todo caso de racismo ‘é um mal entendido ou não foi o que eu quis dizer’, mas disse”, relata.

Justiça

O músico ainda não registrou um boletim de ocorrência por receio da Justiça: “A minha dúvida em fazer isso ou não é justamente por achar que não vai dar em nada, ainda mais dias depois. As vezes as pessoas são pegas em flagrante fazendo esse tipo de coisa e não dá em nada”, desabafa.

A reportagem procurou o posicionamento da acusada, que excluiu todas as redes sociais, mas não conseguiu contato.

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