Cruz com pregos e acusação de aporofobia em Santos: entenda a polêmica

Com uma postagem em sua conta no Instagram no domingo (20), o padre Julio Lancellotti, conhecido por seu trabalho com pessoas em situação de rua na capital paulista e coordenador da Pastoral do Povo de Rua de São Paulo, criou uma polêmica em Santos.

Na postagem de padre Julio, a foto de uma cruz que fica na praça em frente à Paróquia Sagrada Família, no bairro Castelo, chamava a atenção, por estar coberta com objetos pontiagudos de metal, lembrando pregos. Na postagem, o padre escreveu: “Impressionante. Até na Cruz ! Santos SP . Aporofobia”. Aporofobia é o repúdio, aversão ou desprezo aos pobres. Ainda no post, o sacerdote marcou a Diocese de Santos.

Até esta segunda-feira (21), o post já contava com mais de 16 mil curtidas e mais de 700 comentários. Padre Julio por muitas vezes já denunciou casos de “arquitetura hostil”, que é quando são feitas intervenções em uma construção para impedir a permanência de pessoas, principalmente aquelas em situação de rua. No caso santista, o simbolismo por trás de pregos em uma cruz indignou muitos internautas, mas houve também quem defendesse a medida, lembrando que a cruz estava sendo utilizada para outros fins.

O Portal Costa Norte entrou em contato com a Diocese de Santos para entender melhor o imbróglio. Em nota de esclarecimento, a Diocese disse que a cruz em questão foi erigida em uma praça pública como um monumento da comunidade por ocasião dos 50 anos da Paróquia Sagrada Família, comemorado em 2018, e está sob gestão da prefeitura de Santos. 

A Diocese de Santos também declarou que acolhe com respeito os pobres, que “são sempre bem-vindos e atendidos em nossas comunidades, que têm também muitas iniciativas de ajuda a moradores de rua”. A nota termina com a Diocese informando que está em entendimento com a prefeitura de Santos, “buscando formas de resolver a situação respeitando a todos, os frequentadores da praça e os devotos que tem na cruz um símbolo sagrado de Cristo e de seu amor por todos nós”.

A assessoria de comunicação da Diocese de Santos também informou que foi a comunidade que pediu para que as peças metálicas fossem colocadas em cima da cruz, pois esta estava sendo utilizada para outros fins, como namoros e manobras de skate, o que estaria desrespeitando o símbolo. A assessoria explicou ainda que os arames ao redor da cruz também foram colocados posteriormente à inauguração, mas que somente a prefeitura santista pode explicar a razão disso. Os pregos em cima da cruz também foram colocados tempos depois da inauguração do símbolo. 

A assessoria também frisou que a colocação dos pregos não foi bancada financeiramente nem pela Paróquia Sagrada Família nem pela Diocese de Santos, que foram os próprios paroquianos que se mobilizaram. 

O Portal Costa Norte também entrou em contato com a prefeitura de Santos pedindo mais esclarecimentos sobre o ocorrido. A prefeitura santista explicou que a cruz foi inaugurada em 16 de dezembro de 2018, em virtude dos 50 anos da Paróquia Sagrada Família e que, apesar do monumento ser de responsabilidade da administração municipal, a prefeitura de Santos não foi a responsável pela instalação dos obstáculos. Ainda segundo a prefeitura, na tarde do domingo (20), a administração municipal retirou as peças metálicas da cruz, de forma que o monumento retornou ao formato entregue no ato da inauguração.

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